DEIXAREI SAUDADE – 275

Postado por e arquivado em 2024, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Quando o bebê vem ao mundo, geralmente uma alegria tremenda toma conta dos pais, principalmente se for o primeiro. Depois que cresce e já dá para pegar o pequenino no colo, é uma babação danada em cima do coitado por parte da parentada. E assim a coisa vai indo, ele crescendo, bilú-bilú tetéia e por aí vai. Aos poucos, a babação vai diminuindo e se porventura vem outro, a babação passa pra cima do outro. Isso é no geral, pois há casos em que o bebê não é bem-vindo, e há muitos motivos pra isso, mas aqui pra mim não me interessa. Com os imóveis, mesmo simplórios como eu, o trem é um pouquinho diferente. No meu caso, quando fui ocupada pela primeira vez, não senti que meus construtores estavam felizes. Quem sabe porque essa região aqui¹ era braba, considerada área de negócios sexuais, por aí. Será que foi por isso mesmo? Deixa pra lá. Depois o tempo foi passando, as gerações foram se sucedendo, o entorno antes pobre foi progredindo, as ruas sendo calçadas e asfaltadas, os meus ocupantes foram se alternando e de repente, eu simples como a maioria das casas daqui, percebi que em volta de mim estavam surgindo edifícios nos nossos lugares, que meus ocupantes não mais cuidavam de mim como antigamente e veio o estalo em minhas estruturas: está chegando o meu fim. Se tantas semelhantes a mim já se foram, não serei eu privilegiada, né. Assim, estou aqui, nesse meu torrão de nascença, num estado físico nada agradável, aguardando o fecho do meu destino: futuro edifício ou outra construção qualquer. Isso fica nas mãos de Santa Ifigênia, a padroeira dos imóveis. E fica assim, eu já fazendo parte da História de Patos de Minas e quando chegar a minha vez, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Marechal Floriano, entre a sua colega Barão do Rio Branco e a Praça dos Bandeirantes.

* Texto e foto (10/02/2024): Eitel Teixeira Dannemann.

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