Contam os nossos historiadores que o primeiro membro da família Maciel a desembarcar na então Santo Antônio dos Patos foi Antônio Dias, no final de 1858, vindo de Bom Despacho com uma comitiva constituída de diversas pessoas. Pouco tempo depois, chegou o seu irmão, Jerônimo Dias Maciel. Abonados financeiramente, logo se entranharam no meio da elite local. Quanto aos Borges, a primeira referência por aqui foi nos tempos do sítio “Os Patos”, entre 1800 e 1820, com a “Pousada dos Borges”.
O pessoal mais antigo sabe bem o quanto foi árdua a convivência entre as duas abonadas famílias, que se tornaram rivalíssimas, o que acabou por surgir dois grupos de pessoas no Município: o pessoal dos Borges e o pessoal dos Maciel. Assim, por décadas, entre pequenas rixas e cizânias mais sérias, as duas famílias, com seus adeptos, foram de suma importância para o desenvolvimento da hoje Patos de Minas. E na modernidade, praticamente não existe mais desavenças entre eles. Um ou outro de cada lado, já bem veterano, é que ainda tem em suas veias e artérias o sangue da tradição rivalizante.
Falando em tradição, uma que um veterano Maciel nunca abandonou é a de comemorar seu aniversário com a família, oportunidade em que se reúnem a parentada antiga e nova, e na festança, ele, o veterano Maciel, deitar a lenha falando mal dos Borges, qualquer um que seja. Praticamente ninguém dá atenção, a não ser um primo que sempre rebate dizendo para esquecer isso, que os tempos são outros e que os Borges e os Maciel da nova geração não se preocupam e até há amizade sincera entre inúmeros deles. Mas o veterano Maciel não muda de opinião de jeito algum, e o primo sempre implicando.
Com o tempo, o veterano Maciel foi se aborrecendo com o primo que não tem nada contra os Borges, porque para o veterano Maciel, gostar de Borges é o mesmo que torcedor do URT torcer também para o Mamoré. E o primo, todo ano na festa de aniversário torra a paciência do veterano Maciel. E este foi se aborrecendo, aborrecendo, até que o veterano Maciel pediu solenemente para o primo não mais comparecer aos seus aniversários.
Durante um ano, toda a parentada tentou convencer o veterano Maciel a voltar a convidar o primo e a este para que aceitasse, se o convite viesse. A parentada saiu vencedora, o veterano Maciel convidou o primo e este prontamente aceitou. Na festa, tudo corria em paz, os dois primos quase se abraçando depois de uns goles, até que o almoço foi posto, uma bela macarronada. O primo então, com um embrulho na mão, pediu a palavra:
– Primo, como eu sabia que o almoço ia ser macarronada, trouxe-lhe esse presente que tem tudo a ver com o prato.
O veterano Maciel abriu o presente e imediatamente rolou um bate-boca que só não terminou em socos e pontapés porque o primo se mandou. O presente foi, nada mais e nada menos, que um frasco de azeite espanhol da famosa marca Borges.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.