DIA EM QUE O RISADINHA PERDEU O HUMOR, O

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Numa turma de amigos há uma particularidade intrínseca: a característica pessoal de cada um. Tem o que fala tudo e o seu contrário, o quietinho que fala pouco; o corajoso, o desencanado, o sonhador, o preocupado, o consumista, o pão-duro, o nerd, o que adora uma balada, o mulherengo, o roqueiro, o sertanejo, o fiel, o que adora aquele político, o que adora o outro político, o cruzeirense, o atleticano, o do URT, o do Mamoré, o católico, o protestante, o espírita, o que adora tatuagens, o que detesta tatuagens, o que usa brinco na orelha, o que não usa, o que adora pinga, o que detesta pinga, o ranzinza, o contra tudo e todos, o engraçado e por aí vai porque a lista de possibilidades é infinita, infinitamente infinita em se tratando de turma de amigos.

Numa dessas turmas, cuja rotina é no Bairro Santa Terezinha, faz parte dos engraçados o Renato Pázio, funcionário público aposentado, vidinha tranquila, mais conhecido por Risadinha, pois em qualquer assunto entre eles, faz questão de soltar suas tiradas que ele próprio cai na risada e os amigos nem tanto. Por exemplo, se no bate-papo vem o assunto pão, o Risadinha logo conta sua preferência:

– Ora, pão pra mim não tem outro, só… vado.

Se discutem sobre quais as carnes bovinas para o próximo churrasco, lá vem o Risadinha:

– Pra mim, a carne bovina mais saborosa é a do boi… cote.

Certa vez, bate-papeando seriamente sobre características genéticas das pessoas, não poderia faltar o pitaco do Risadinha:

– Esse negócio de gene explica tudo sobre cada um. Por exemplo, se o sujeito é caridoso, ajuda as pessoas, está sempre pronto pra ser útil, é porque ele tem o gene…roso.

E quando ele resolve iniciar um assunto, sai tipo isso aí:

– Vocês estão sabendo do masculinicídio ocorrido ontem lá na Praça do Cristavo?

O Risadinha é assim: espirituoso, alegre, jocoso e sempre de bom humor. Entretanto, tem uma coisa que ele detesta: alguém falar mal da cadelinha Poodle de dois anos da esposa, cadelinha frequentadora semanal de salões de beleza que a deixa toda emperequetada, cheia de triques-triques nos pelos brancos e sedosos. Em suas frequentes caminhadas pelo bairro, regularmente ele leva a cadelinha. Certo dia, lá ia o Risadinha transitando pelo passeio da Avenida Brasil com a dita cadelinha, nas imediações da Igreja dos Capuchinhos, quando um casal de jovens namorados o interpelou:

– Que pet engraçadinho, o vovô aí é o tutor?

Foi então o dia em que o Risadinha perdeu o humor:

Pet engraçadinho, vovô, tutor? Ora jovens, não sou vovô de vocês, não sou tutor de nada e esse cachorro que não tem nada de engraçadinho tem dono, e o dono é a minha esposa, e esse cachorro da minha esposa não é garrafa plástica não, seus fedazunhas.

Os jovens se mandaram rapidinho e o Risadinha continuou sua andança com a cadelinha Poodle da esposa.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

Compartilhe