O primeiro Bar do Cochila surgiu em 1975 na Rua José de Santana ao lado do Posto Ipiranga, que fez sucesso em suas mãos por longos anos. Em 1985, o imóvel onde funcionava o estabelecimento foi solicitado pelo proprietário. Foi um sufoco encontrar outro lugar que fosse atraente para a grande clientela. Felizmente, um imóvel foi encontrado e comprado, localizado na confluência das Ruas Olegário Maciel, Dores do Indaiá e Independência, em frente à Praça João Pinheiro. Neste endereço, foram mais de 20 anos de sucesso e uma clientela fiel e apurada¹.
Um frequentador assíduo, desde os idos tempos, era o Marlúcio. E frequentador diário, de domingo a domingo. Invariavelmente, chegava sóbrio e saia ébrio, sendo sempre o último a deixar o local. Nunca arrumou confusão com ninguém. Sentava em sua mesa preferida, que todos os amigos e frequentadores não sentavam porque sabiam que era do Marlúcio. Inúmeras vezes o amigo Cochila teve que acordá-lo na mesa para fechar o bar. Acordado, ele se levantava, dava uma puxada de ar caprichada, esticava os músculos e iniciava a jornada de volta para casa, sem tropicar. E como sempre, no outro dia lá estava o Marlúcio de volta. Pagava a conta anterior e dava início à do dia.
Certa vez, já no início do século 21, num domingo, por volta das duas da tarde, com o Cochila já se preparando para fechar o boteco, o Marlúcio foi ao banheiro. Sentado no vaso, veio-lhe um sono irremediável. O Cochila, não vendo o amigo na mesa, logo imaginou que ele tinha ido embora. Então, fechou o bar e se mandou.
O relógio marcava oito horas da noite quando o Marlúcio acordou e se viu trancado dentro do bar. Não se desesperou. Pegou o telefone e ligou:
– Cochila, é o Marlúcio, eu sei que segunda-feira você não tem hora certa pra abrir o bar, mas amanhã você vai abrir a que horas?
– Oi Marlúcio, lá pelas 10 da manhã.
– É, até que não é muito tarde não. Té logo!
Lá pela meia-noite, o Marlúcio ligou de novo:
– Cochila, vai ser lá pelas dez mesmo?
– Por aí mesmo, amigo.
– Bão!
Seis horas da manhã, liga novamente o Marlúcio para confirmar se o Cochila, já irritado, ia mesmo abrir às dez horas:
– Pô, Marlúcio, seis horas da manhã cara, o que está acontecendo contigo, por que esse desespero, essa ânsia de entrar no bar?
E o Marlúcio, realmente desesperado e ansioso:
– Pelamordedeus, Cochila, não aguento mais, eu não quero entrar, eu quero é sair!
A partir desse dia, até a morte do amigo, toda vez que o Cochila ia fechar o bar e não encontrava o Marlúcio na mesa, fazia uma conferência em cada canto, começando pelo banheiro. Só assim ia embora tranquilo.
* 1: Leia “Leoclides Araújo de Menezes (Cochila)”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.