LEOCLIDES ARAÚJO DE MENEZES (COCHILA)

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DSC02551Há inúmeros casos em que uma pessoa é mais conhecida pelo apelido do que pelo nome de registro. O cidadão Leoclides Araújo de Menezes, desconhecido em quase todos os cantos da cidade, é um clássico exemplo. Praticamente ninguém o conhece como Leoclides. Agora, se perguntarem por Cochila, a grande maioria sabe quem é. E o carismático Cochila é um dos forasteiros que aportaram em Patos de Minas nos idos tempos que se sobressaíram pela identificação com a cidade e se tornaram personagens que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o seu progresso. Com sua humildade e simplicidade é um digno representante deste grupo de pessoas que num período muito curto de estadia e trabalho na nova terra se tornaram patenses de alma e coração.

Tudo começou no dia 03 de julho de 1947, quando Leoclides veio ao mundo. Um dos dez filhos de Joaquim Teles de Menezes e Rita Araújo Teles, ele não lembra se nasceu na Fazenda São Pedro, de propriedade dos pais e localizada próximo ao distrito de Santiago, ou se foi na sede do município de Presidente Olegário. Durante 16 anos labutou na roça com os pais e os irmãos. “A gente fazia de tudo, tirava leite, fabricava farinha de mandioca, moía cana, fazia queijo, era o trabalho diário de qualquer fazenda. E ainda sobrava tempo para os divertimentos, como caçar passarinhos, jogar bola e nadar no córrego. Só não estudei muito, fiz só dois anos de primário numa escola rural, mas isso não me incomodou de jeito nenhum. Foi muito bom aquele tempo”.

Em 1963, o pai Joaquim se mudou para Patos de Minas com a esposa, Leoclides e mais três irmãos. Os outros permaneceram na Fazenda São João para os afazeres diários do negócio. Em Patos Leoclides terminou os outros dois anos de primário, encerrando o ciclo de estudos. Naquele tempo, havia um bar na Rua Padre Caldeira, em frente ao Mercado Municipal, que era muito frequentado, Bar do Cabaça, de propriedade de Jéson Gomes Gondim. Foi nele que o jovem Leoclides obteve o seu primeiro e único emprego. E foi nele onde surgiu o famoso apelido. “Eu já trabalhava lá fazia uns três anos. Um dia, quebraram alguma coisa, não sei se foi um copo ou garrafa, só sei que demorei um pouquinho para ver o que tinha acontecido. O bar estava cheio, então o Jéson, brincando, gritou: – Ô Leoclides, tá cochilando? O pessoal riu muito e naquele mesmo dia , por brincadeira, começaram a me chamar de “Cochila”. Não achei ruim, deixei pra lá e o danado do apelido grudou em mim e nunca mais saiu. Hoje, só os mais chegados conhece o Leoclides, mas todo mundo sabe quem é o Cochila”.

Pouco antes de completar dez anos de trabalho no Bar do Cabaça, Cochila decidiu que deveria ter o seu próprio negócio. A oportunidade veio em 1975 quando ficou sabendo que o Bar do Baú, localizado na Rua José de Santana ao lado do Posto Ipiranga, estava à venda. Tentou comprar o negócio, mas estava difícil. “O dono do bar, fugiu agora o nome dele, era desconfiado pra caramba e não estava acreditando que eu tinha condições de comprar. Mas naquela altura eu já tinha feito muitos amigos no Cabaça, uma turma boa de médicos, advogados, empresários, muitos pescadores, uma turma chique. E foi um deles, o Manezinho Mendonça, que foi lá no cara e convenceu ele que eu tinha como pagar o negócio”. Assim, naquela oportunidade, nascia o Bar do Cochila, que faria sucesso em suas mãos por longos anos.

2Em 1985, o imóvel onde funcionava o Bar do Cochila foi solicitado pelo proprietário. Foi um sufoco encontrar outro lugar que fosse atraente para a grande clientela, principalmente uma famosa turma de pescadores da qual faziam parte o Manezinho Mendonça, José Ribeiro de Carvalho, Hélio Amorim, Fernando Dannemann, Vanir Amâncio, João Cor de Rosa e muitos outros. Felizmente, um imóvel foi encontrado e comprado, localizado na confluência das Ruas Olegário Maciel, Dores do Indaiá e Independência, em frente à Praça João Pinheiro. Neste endereço, foram mais de 20 anos de sucesso e uma clientela fiel e “apurada”. E era tanto assim, que nos anúncios do bar o Cochila destacava: O ponto de encontro de médicos, empresários, políticos, vereadores, prefeitos, secretários municipais, jornalistas e profissionais liberais. Brincalhão, ele comenta: “Era assim mesmo, mas vinham pessoas ‘normais’ também”.

No início da década de 2000, após 35 anos de labuta no ramo, Cochila já não tinha o mesmo pique de antes. “Eu já estava cansado daquilo, não do bar, mas era uma vida muito cansativa. Então eu chamei meu irmão, Sebastião Eustáquio, para me auxiliar. Aí mais uns quatro ou cinco anos eu cansei de vez e arrendei o bar pra ele. Depois meu irmão também cansou e eu arrendei pro meu sobrinho Luiz Cláudio, que também não aguentou muito tempo. Aí eu recebi uma proposta de compra de um paulista, só lembro o primeiro nome, Amaral, e então eu vendi o bar, não o imóvel. Se não me engano foi em 2008, por aí”.

Hoje o bar pertence a Sérgio Henrique de Paula. O nome continua o mesmo: Bar do Cochila. Afinal, quem seria louco para mudar o nome? E o simpático Cochila não consegue ficar longe de seu ex-negócio que tantas alegrias lhe proporcionou. “Muita coisa boa aconteceu aqui, e lá também na José de Santana. Venho pra cá todos os dias porque já sou aposentado e não tenho nada pra fazer. Venho porque alguns antigos clientes meus continuam frequentando, então é bom encontrar com eles. Me lembro que os clientes sempre faziam festa no meu aniversário. Vinham até as esposas e os filhos. Nunca teve briga, pois quem frequentava tinha educação, era de família. As vezes chegava um bêbado, olhava, olhava e se mandava”.

O Bar do Cochila, seja na Rua José de Santana ou na Praça João Pinheiro, ainda resiste ao tempo. E é referência de endereço. Nos tempos do Euclides, era tão conhecido que diziam: – Se foi em Patos e não foi no Bar do Cochila, então não foi em Patos. Contam que num determinado dia um patense estava em São Paulo e conversando com um recém-conhecido disse que era de Patos de Minas. Para surpresa do patense, o outro disse – Patos de Minas? Estive lá uma vez e fui no Bar do Cochila.

Aos 68 anos de idade, solteiro convicto, Leoclides Araújo de Menezes, o eterno Cochila, é mais um exemplo daqueles forasteiros que adotaram Patos de Minas como sua cidade, contribuindo de alguma forma para seu progresso.

* Texto e foto 1 (29/10/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto 2: Anúncio publicado em 03 de março de 2014 com o título “Bar do Cochila – 1991”.

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