BRILHANTE IDEIA

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Nascido em família pobre, Alírio, aos 15 anos de idade, teve que abandonar os estudos na Escola Santa Terezinha para ajudar no sustento da família. Moradores no Bairro Nossa Senhora das Graças, o pai, carroceiro, a mãe, lavadora de roupas em domicílio, naquele tempo em que tanquinho e máquinas de lavar roupas eram artigos de luxo que só os endinheirados possuíam, aceitaram a ajuda do filho. Foi nessa que o jovem pegou gosto pelo trabalho de transportes carroceiros. Chegando aos 20 anos tinha a sua própria carroça e uma bela égua que ele tratava com muito carinho.

Com o trabalho da dupla a situação financeira da família melhorou muito com os fretes feitos nos bairros vizinhos. O trabalho era duro, de sete da manhã às sete da noite, de segunda a segunda. Por isso os animais eram muito bem tratados e alimentados, substancialmente com a providencial ajuda gratuita de um Médico Veterinário amigo. Apesar de ressentido por estar fora da escola, Alírio estava feliz, e ficou mais feliz ainda quando conheceu a Dalva. A paixão entre eles foi tão grande que se transformou em casamento.

Ouvido de um amigo borracheiro, Alírio ficou sabendo que a melhor maneira de aumentar a vida útil dos pneus da carroça era mantê-los sistematicamente calibrados. Isso ele fazia religiosamente duas vezes por semana num posto de gasolina localizado no início da Avenida Brasil. Chegava a se gabar dizendo que as duas carroças com os melhores pneus da cidade eram a sua e a do pai.

E assim a vida seguiu. Certo dia, Dalva, que era parceira da sogra na lavação de roupas em domicílio, amanheceu amuada. Por volta das dez horas da noite ela reclamou que estava com um pouco de dificuldade de respirar. A sogra preparou um chá de ervas e um cataplasma de farinha de mandioca quente, que antigamente era envolvido num pano de prato e colocado no peito. Assim a Dalva conseguiu pegar no sono.

Quando o relógio marcou sete horas da manhã do outro dia, Alírio e o pai estavam aprontando as carroças para iniciar a jornada de trabalho, veio a mãe gritando que a Dalva estava morrendo por falta de ar. Imediatamente o Alírio pôs a esposa na carroça e partiu em direção ao Hospital Regional. Quando estava passando em frente ao posto de gasolina, teve uma brilhante ideia. Encostou a carroça ao lado do calibrador de pneus, esticou a mangueira e, gritando, chamou o frentista, que ao chegar ouviu o lamentoso Alírio:

– Moço, moço, por favor, me ajude, onde enfio o bico da mangueira na minha esposa pra injetar o ar?

Comenta-se em toda a região que o frentista, abismado com a idiotice do Alírio, deu-lhe uma chamada braba e o despachou urgente para o Regional.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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