No início da década de 1960, Edith Gomes de Deus Melo estava envolvidíssima com seu projeto Associação Sagrados Corações, cujo objetivo era angariar recursos para a construção da Casa das Meninas¹, numa luta árdua, sensibilizante. Cativante por natureza, ela angariou um grupo considerável de pessoas para participar da ação. Essas pessoas de bom coração começaram a visitar empresários, profissionais liberais e todas as classes sociais e econômicas em busca de doações para a concretização da almejada instituição de amparo.
Foi um trabalho incessante por parte dos envolvidos na captação de donativos em dinheiro e todo tipo de materiais de construção. Evidentemente que a adesão ao desejo da Edith não foi unânime entre os empresários, profissionais liberais e todas as classes sociais e econômicas. Muitos contribuíram, e muitos não contribuíram. Um dos comerciantes da Cidade, cuja loja se localizava na Rua General Osório, entre sua colega Major Gote e Avenida Getúlio Vargas, que inclusive participou como locutor dos primórdios da Rádio Clube de Patos, intrigou os perspicazes buscadores de financiamento para a causa digna e humanitária da Edith. Vários membros da equipe da Associação Sagrados Corações o visitaram sem que nenhum deles conseguisse um centavo sequer.
O tempo foi passando até que a Edith resolveu, ela mesma, visitar o comerciante, que lhe era muito conhecido, na tentativa de conseguir o que os colegas de empreitada não conseguiram. Foi muito bem recebido pelo empresário que teceu inúmeras loas pelo desprendimento do projeto e que seria utilíssimo para os necessitados. Depois de umas duas horas de conversa, Edith, finalmente, conseguiu convencer o homem a meter a mão no bolso, e saiu satisfeitíssima com um cheque que, para ela, o valor era bão demais da conta. Depois de depositar o dito cheque, foi ao encontro do seu pessoal para contar a novidade. Vibração geral!
Só de um dia para o outro, pois o gerente do banco ligou para a Edith e comunicou que o cheque não tinha a assinatura do emitente. Na maior tranquilidade, Edith passou no banco, pegou o cheque e foi até o comerciante para que ele pudesse assiná-lo. Ele, o emitente do cheque, mais tranquilo ainda, justificou a ausência da assinatura:
– Prezada Edith, eu, quando faço doações e caridades, faço sempre no anonimato, pois não gosto de aparecer, como bem determinam as leis Cristãs.
E ficou por isso mesmo!
* 1: Leia “Edith e a Fundação da Casa das Meninas”, “Edith e os Primeiros Anos da Casa das Meninas”, “Edith e a Casa das Meninas de 1971 a 2001”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.