Há muito tempo minhas paredes, portas, janelas, muros e telhados vêm ouvindo uns sons que de início eu não fazia a mínima ideia do que seriam e de onde vinham. Ficava matutando sobre aquilo. Algumas vezes vinham de muito longe, como sussurros. Outras vezes pareciam bem próximos de mim. Ora semelhantes a desmoronamentos de sei lá o que, ora lembrando alguém tacando a marreta num metal qualquer. Com o tempo, fui reparando que os sons ficavam cada vez mais audíveis, como que se aproximando de mim. Só após ouvir de um dos meus ocupantes que iam construir mais um edifício perto daqui¹, que já tinham demolido a casa e que já estavam batendo estaca para as fundações é que entendi a razão dos sons, a razão de que tudo aquilo que venho ouvindo há muito tempo nada mais é do que casas sendo derrubadas para a ocupação de edifícios. Obviamente, minhas estruturas tremeram. E para piorar o meu estado emocional, eis que me aparece um sujeito no outro lado da rua com uma câmera e me fotografa. Praquê, qual a intenção desse sujeito em me fotografar? Por um acaso é um colecionador de fotos de casas ou tem algo sinistro nisso? Lá está o som do bate-estaca me azucrinando. Cá estou agora absorto no meu futuro. Futuro? Por um acaso, com todas as evidências terei um futuro? Reformulando a pergunta: por quanto tempo ainda estarei ocupando esse espaço? Perguntas e mais perguntas sem respostas. O negócio é deixar a vida me levar para onde quiser, e se for fazer parte da História de Patos de Minas na base da brutalidade, que seja, pelo menos deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Três Marias entre suas colegas José Alves Coelho e Joana D’Arc, no Bairro Aurélio Caixeta.
* Texto e foto (20/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.