Antes de se casar com o Joselino, a Rosinha sabia que o namorado e depois noivo gostava muito de futebol e era um torcedor fanático da URT, daqueles que não perdem nenhum jogo no Zama Maciel e ainda por cima tem por hábito acompanhar o time em outras cidades. Mas, apaixonada, enquanto namorada e depois noiva, procurou o máximo não se aborrecer com a mania do futuro marido. Mesmo no início da vida de casados, a Rosinha também não se aborreceu muito.
Pelo menos no primeiro ano. Já no segundo, ela percebeu que o Joselino estava deixando de cumprir adequadamente com a parte econômica na casa, isto é, faltava dinheiro pra isso, praquilo, mas não faltava para assistir aos jogos da URT em outras cidades. Foi o início das desavenças sérias e as brigas se tornaram frequentes. O Joselino, nem aí, continuou no mesmo ritmo.
Veio o terceiro ano de casamento e a Rosinha entregou os pontos quando o marido afirmou, numa sexta-feira, que naquele momento não tinha dinheiro para pagar o conserto da máquina de lavar roupas, mas no domingo pegou o carro e zarpou para Uberlândia por causa da URT. Resultado: no outro dia a Rosinha pediu o divórcio.
Então foi marcada a audiência de conciliação. A Rosinha foi incisiva:
– Meritíssimo Juiz, para o Joselino em primeiro lugar vem a URT, e só depois, muito depois, eu. No tempo de namoro e noivado eu não levei muito a sério imaginando que, casado comigo, ele seria mais responsável. Mas não, a coisa foi piorando, ele gasta dinheiro em viagens para assistir aos jogos e deixa faltar muita coisa em casa. Da última vez disse que não tinha dinheiro para o conserto de nossa máquina de lavar roupas, mas teve pra ir pra Uberlândia. Meritíssimo, aguento isso há três anos, agora cansei, chega, quero o divórcio para seguir a minha vida.
O Joselino, com a camisa da URT por baixo da jaqueta, tentou se safar:
– Seu Juiz, isso é manha da Rosinha, agora ela deu pra dizer pra todo mundo que nem sei o dia em que ela nasceu.
– E o senhor sabe, Joselino, o dia do aniversário de sua esposa? − perguntou o Juiz.
– Ora, Seu Juiz, como posso esquecer esse dia, 11 de abril, quando a URT foi Campeã da Taça Minas Gerais em 1999 jogando em Governador Valadares contra o Democrata e vencemos por 2 a 1 com os dois gols do Ditinho. Seu Juiz, que jogo duro, como eu sofri naquele dia, foi uma pressão terrível no final do jogo e a URT com um jogador a menos e ainda por cima teve mais de 12 minutos de acréscimo…
Nesse momento o Meritíssimo Juiz, como que apresentando um cartão vermelho para o Joselino, cortou a ladainha do dito e concordou com a Rosinha.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.