Tenho notado muita gente passando por mim e me encarando como se já conhecesse minhas entranhas. Na maioria jovens e eu até entendo o motivo. Antes quero deixar bem claro que, mesmo simplesinha, já fui lar de algumas almas. Isso nem me lembro mais, de tanto tempo que faz. E de lá para cá eis que surgiu a Faculdade logo adiante¹. Aí a Faculdade foi crescendo, crescendo e hoje é essa baita Universidade. Foi por esse tempo que num certo dia as almas que me habitavam se mandaram. E depois noutro certo dia instalaram essas portas de aço e me transformaram num bar². Aliás, é bom que se diga, muitas casas aqui da rua se transformaram em bares para atender a juventude da Universidade que mostrava diariamente que gostava mais de nós, bares, do que as salas de aulas. É por isso que muitos jovens passam por mim e se lembram de quando eu era um bar, que por sinal até que teve um certo sucesso. De repente, faz pouco tempo, assim como fizeram as almas que me abandonaram, o bar fechou as portas, retiraram toda a parafernália que o caracterizava como bar e me deixaram assim, nuazinha de tudo. Será por quê? Ora, olhe aí essa coisa ao meu lado. É, essa coisa, que aos poucos vai consumindo todas nós e que, com certeza, um dia vai me devorar. E toda vez que reparo nessa coisa e em outras que estão proliferando no meu entorno, lembro-me do trecho de uma música que tocou muitas vezes no bar: − Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade³. Sim, além de entrar para a História de Patos de Minas, realmente deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua dos Xavantes (à esquerda) com sua colega Nito de Deus Vieira, no Bairro Caiçaras.
* 2: Bar do Cícero.
* 3: “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia.
* Texto e foto (22/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.