– Não é nada disso, Pedro, você é um homem normal e para um homem normal gostar de mulher é mesmo altamente normal. Só que seu apetite sexual está um pouco exagerado, só isso.
– Quer dizer então que o senhor acha que eu devo parar de me encontrar com a Janaína e as outras?
– Pedro, você ainda não reparou que em nossa primeira conversa a Candinha era tema central do assunto e hoje quem vem em primeiro lugar na sua cabeça é a Janaína?
– Qual o problema? O negócio é que estou louquinho por ela.
– Mas Pedro, em nenhum momento você disse que estava louquinho por sua esposa.
– Ih!, lá vem o senhor de novo com esta xaropada. Eu já disse que gosto muito da Daura e que ela é uma esposa maravilhosa. O negócio é que ela é meio devagar naquilo que mais gosto, só isso. Além do mais, quando eu dou minhas escapulidas, volto calminho pra casa e trato ela com o maior carinho. Agora, se eu ficar insatisfeito sexualmente, fico irritado e intratável. Então, é errado o que faço?
– Tratar a sua esposa com todo o carinho não pode, de maneira nenhuma, estar condicionado às suas escapulidas. Não, meu caro Pedro, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
– Quer dizer que não adianta, o doutor acha que estou totalmente errado e que a única maneira para eu voltar a ser um ser humano normal é parar com as escapulidas? Nunquinha! Em primeiro lugar, me considero normal. Anormal é a Daura que mais parece uma múmia dentro de casa. Peraí, doutor! O senhor não sabe o que é chegar em casa com uma vontade danada e encontrar a mulher emburrada e reclamando que eu não fiz isso, não fiz aquilo, etc e tal. Além do mais…
– Peraí digo eu. O que você está dizendo, Pedro?
– Estou dizendo e vou dizer muito mais. A Daura…
– Pedro, calma, deixa eu me restabelecer um pouco.
– Restabelecer de que?
– Levante-se, por favor, e olhe-se naquele espelho.
– Como é que é?
– Pedro, por que, não mais que de repente, você se alterou e mudou totalmente o conceito a respeito de sua esposa?
– Eu fiz o que?
– Até alguns instantes atrás você vinha elogiando a sua esposa. De repente, com bastante sentimento de raiva, passou a descrevê-la de uma maneira pouco elogiosa.
– Ah!, não é nada disso, doutor, a Daura é realmente muito legal, eu só não gosto nela a pouca vontade de sexo, só isso.
– Será que é só isso mesmo?
– Qualé, doutor, esta me chamando de mentiroso?
– Absolutamente não, Pedro. Vamos continuar a conversa. Hoje, a Janaína está sendo muito destacada por você. Por um acaso aquele fogo pela Candinha acabou?
– Doutor, se tem um negócio que não gosto é mulher pegando no meu pé. Enquanto a Candinha estava na dela, quietinha, me satisfazendo, estava tudo ótimo. Depois que ela invocou de querer se juntar comigo, ameaçando por a boca no trombone se eu não realizasse o seu desejo, acabou a minha adoração por ela.
– O que você pretende fazer?
– A respeito de que?
– Primeiro, a respeito da Candinha.
– Não tenho a mínima ideia. Por falar nisso, hoje completa um ano que nos encontramos pela primeira vez. Prometi levá-la num motel para comemorarmos a data.
– Mas você não acabou de dizer que a adoração por ela tinha se expirado?
– É, mas é aquela vontade de estar toda noite juntos. Esta não sinto mais. Mas sabe como é, a Candinha é uma bela mulher e eu não sou de rejeitar mulher como ela. Além do mais, ela está uma fera na cama, pois está querendo me satisfazer ao máximo para não me perder. Para falar a verdade, só de pensar nela já fiquei com vontade. Doutor, é um mulherão…
– Pedro, e a Janaína?
– O que tem ela?
– Como vai ficar?
– Como vai ficar o que, doutor?
– Você vai continuar o relacionamento com ela?
– Doutor, aqueles 17 aninhos estão me deixando louco, estou gamadinho nela, e ela louquinha por mim. Eu queria mesmo era largar tudo e viver com ela. Apesar de que, ultimamente tenho sentido um troço esquisito aqui dentro só de pensar na Soraia.
– Você tem falado pouco na Soraia. Está pensando nela agora?
– Na mosca, doutor, a Soraia é um avião. É uma dentista, tem 29 anos e é solteira. É uma mulher independente e muito inteligente. E como sabe fazer sexo! Para falar a verdade, é a mais quente de todas.
– Não era a Janaína a mais fogosa?
– Fogosa é mesmo a Janaína, a qualquer hora é hora. Sei não, tem momentos em que fico pensando que não vou dar conta de apagar aquele fogo todo. Com a Soraia é diferente. Ela não é fogosa, ela é quente. Quero dizer o seguinte: a Janaína é estabanada, se deixar ela tira a roupa no meio da rua para transar. A Soraia não, ela é fina, calma. Mas na cama, minha nossa, me faz subir pelas paredes.
– E a Candinha? Pelo visto, ela caiu no seu conceito mesmo.
– Não é bem isso não, doutor, a Candinha também é uma delícia de mulher, tanto que hoje à noite vamos transar. O negócio é aquele, depois que ela invocou de querer morar comigo, fiquei meio ressabiado, só isso. Mas sou louquinho pelo corpo dela. Aí, tá vendo só, só de pensar naquele corpinho já estou morto de vontade.
– Pedro, está na hora de darmos um tempo na conversa. Aqui está o cartão de meu colega Andrologista. Faça uma consulta com ele e só volte aqui com o resultado dos exames que certamente ele vai te solicitar.
– Mas num vou mesmo, doutor, eu não tenho nada na ferramenta, muito pelo contrário, ela está funcionando que é uma beleza. O senhor acha que é fácil dar conta do recado com todas estas mulheres? É só para quem tem o bicho funcionando perfeitamente. Por isso…
– Pedro, meu caro Pedro, não estou dizendo que você tem algum problema no pênis. Quero apenas que você consulte este colega. Isso vai me ajudar a ajudar você, certo?
– Mas afinal de contas o que esse cara vai fazer?
– Ele vai examinar seu aparelho reprodutor e solicitar alguns exames, só isso.
– Ele vai o que? Por um acaso o senhor está me dizendo que ele vai manusear minha ferramenta?
– É isso mesmo, para examinar…
– Eu vou ter que botar o peru pra fora para este tal doutor ficar manuseando?
– Como pode o Médico examinar seu aparelho reprodutor sem que ele esteja à mostra?
– Mas não vou mesmo!
– Mas Pedro, é muito importante que você faça este exame.
– Doutor, sinceramente, não estou entendendo mais nada. Parece que é o senhor que está precisando de alguém para manusear a sua ferramenta. Meu problema não é no pinto. Ele está joia. O que eu quero é que o senhor me ajude a resolver esta situação com as mulheres. O que eu quero é o doutor me ajudando a encontrar uma saída para esta confusão toda. E vem o senhor com esta de um Médico examinar meu pinto. Qualé! Eu acho é que vou procurar outro Psicólogo.
– Vamos fazer o seguinte, Pedro, esqueça por enquanto o Andrologista, certo? Fique tranquilo e vá trabalhar com calma. Te espero aqui na outra semana, combinado?
– Combinadíssimo. Até lá então, doutor. Boa tarde.
Não houve jeito do Pedro assimilar a ideia de que um Andrologista seria muito importante naquela atual fase de sua vida. Para não causar constrangimentos ou até aumentar o estresse de seu paciente, o Psicólogo resolveu não forçar a barra, deixando para a próxima consulta uma nova tentativa de convencer o Pedro a se consultar com o colega.
– Olá, Pedro, como estão indo as coisas?
– Acho que entrei no consultório errado.
– Como assim?
– Só pode ser isso, não deu nem para acreditar. Hoje não deu nem tempo para esquentar a bunda no sofá da recepção. Só esperei 20 minutos, é a glória!
– Está vendo só, estamos melhorando, certo? E aí, como vão as coisas?
– Doutor, danou tudo, estou na maior enrascada, pelamordedeus, quase que eu vim aqui ontem. O que eu vou fazer com…
– Calma, calma, vamos devagar. O que aconteceu de tão grave assim para deixá-lo tão nervoso?
– Minha Nossa Senhora da Abadia, por que isso foi acontecer comigo?
– Diga o que houve.
– Doutor, minha nossa, a Janaína me complicou todo. O que eu vou fazer agora?
– Pedro, respire fundo e acalme-se. Relaxe e me conte o que houve.
– A Janaína, aquela desgraçada, não podia ter feito isso comigo.
– É tão sério assim?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Wdrfree.com, meramente ilustrativa.