EDUARDO FERREIRA DE NORONHA COBRA GRUPO ESCOLAR

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Apezar dos ingentes esforços empregados, ha tempos pr’a traz, por alguns conterraneos nossos, no intuito de fundarem n’esta Cidade um grupo escolar¹, nada absolutamente se conseguio n’esse sentido, restando aos que tomaram a si a execução de tão ardua, quão difficil tarefa, apenas o desmoronamento radical do castello que por tanto tempo crearam, n’um momento de optimismo, quando, dominados por alevantados ideaes, procuravam, em vão, dotar o nosso municipio com este elemento de inestimavel valor, em que, por assim dizer, se vê vinculado o futuro de um povo.

Não obstante, chegou-se mesmo a levantar essa empreza, quase á altura de uma realidade, sinão quando, difficuldades superaveis, mas obstinadas por motivos extranhos, talvez pela grandeza do fim a que se propunham chegar os directores d’esse movimento de civismo, vieram uma apòz outra, surgindo lentamente do esconderijo em que até então se haviam abrigado, para, em seguida, mostrar lhes em côres diversas, a necessidade imperiosa de abandonarem o campo de seus projectos, ponto para onde, de ha muito, se havia concentrado a maior parte de suas esperanças, traductoras exactas da unanimidade dos nossos pensamentos.

Precizamos, entretanto, sahir das sombras em que até nos temos conservado relativamente á instrucção publica, e chamar a combater ao nosso lado, nas fileiras de maior destaque, o espirito patriotico dos patenses, que estamos certos, jamais se afastarão dos planos de engrandecimento que a si mesmos deverão ter traçado, em correlação ao progresso moral d’esta terra, onde as melhores intenções, a par dos mais estreitos élos de patriotismo, devem constituir o sentimento, por excellencia, de quem, como nós, só poderá vizar a prosperidade d’este municipio, não só considerada sob o ponto de vista intellectual, como tambem sob todos os prysmas, em cujas faces possamos com precizão e nitidez, vêr perfeitamente estampado um principio solido, ou uma garantia mais, á evolução interna e social do nosso meio.

Não será, pois, demasiado lembrar-mos aos nossos conterraneos a necessidade que tem este municipio da creação de um grupo escolar, medida de real interesse e que, a nosso vêr, faria cessar, de uma vez para sempre, certas faltas trazidas ou originadas pela ausencia de tão importante melhoramento, creado e obtido já pelas vizinhas cidades de Araxá e Patrocinio, quando nòs até aqui, nos temos permanecido completamente alheios a esse movimento, sem nos importar os resultados de tão grandiosa acquisição e sem tão pouco procurarmos imitar tambem o exemplo mais que bello realizado, e com exito executado quasi á nossa vista, pelos municipios já citados.

E’ precizo que unidos trabalhemos com afinco para essa proveitosa e util consecução, sem separação de idéas e sem retardamento de acção. Si porém, ao envez de convergirem os planos para um só alvo, tomarem, a maior parte delles, direcções oppostas e diversas, concentrando uns, no alcance de intuito patriotico, ás vezes, mas pouco aproveitaveis, outros, no adeantamento moral do nosso municipio; si as oppiniões, como acontece em certos e determinados cazos, dividirem-se em dois, tres ou mais partidos, procurando cada qual agir isoladamente, quando o objectivo deveria ser o mesmo, então, forçosamente mudarà a marcha dos acontecimentos e, em logar de obtermos o que desejamos, teremos como resultado immediato d’essa divergência, uma concretização intrincada de pensamentos, e de vontades differentes, onde, estudando melhor o desdobrar dos factos, se poderá verificar sem custo, a cifra insignificante dos proveitos provenientes da desunião dos partidarios.

O municipio de Patos precisa de um grupo escolar; todos reconhecem isso e o numero de seus habitantes, que segundo os calculos mais aproximados, já sobe a 56.000, vem, de uma maneira evidente, confirmar essa asserção.

A sua população em muitos logares, como n’esta Cidade, Arèado, Sant’Ana, Lagôa Formoza e Santa Rita, está servida de instrucção publica e o primeiro dos pontos, mais do que todos.

Mas, em compensação, temos tambem regiões extensas, onde nunca se cogitou de fundar uma só escola, e onde os moradores se vêm na contingencia de caminhar legoas e mais legoas para, no fim das contas, collocar seus filhos em uma aula, onde o mestre, além de tudo, pouco ou quasi nada sabe. Um grupo escolar, ao contrario, tendo esta Cidade como centro, viria incontestavelmente sanar estas pequenas faltas, expandir e alargar a instrucção, resumida até aqui a um numero relativamente pequeno de escolas, eliminando d’est’arte alguns defeitos, que a sua não consecução futuramente faria ainda apparecer.

Dito isto, appellamos, d’estas columnas, para a bôa vontade dos nossos conterraneos, que sem necessidade de suggestões ou influencia de terceiros, devem perfeitamente comprehender a utilidade d’esse desideratum, tanto ou mais do que nós mesmos, para, desde já, se esforçarem n’esse sentido, na certeza de que farão a esta terra em que moramos, um grande beneficio, e que no futuro terão como premio da energia consagrada a favôr de tão util acommettimento, a constante e eterna benção da pequenada agradecida.

N. Ferreira.

NOTA: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo registro do cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo é de origem portuguesa. Foi agrimensor, inspetor escolar, ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel; subdelegado de polícia, empreiteiro de obras e vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e 1907 a 1912. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José dos Quintinos, então distrito de Patos sem ainda o “de Minas”. Em 17 de dezembro de 1938, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, o distrito de Quintinos foi transferido para o município de Carmo do Paranaíba.

* 1: Leia “Grupo Escolar de Patos”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Grupo Escolar” na edição de 25 de novembro de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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