EDUARDO FERREIRA DE NORONHA COBRA GRUPO ESCOLAR E MELHORIAS NA CIDADE

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Paracatú, 8 de março de 1911.

Snr. Redactor, Saudações.

De passagem, de minha fasenda por essa Cidade, em demanda desta de Paracatù, com o fim de submetter o meu filho Alfredo Noronha ás decisões do Jury, vim lendo ‘O Commercio” e meditando sobre suas reclamações. Faço parte da Camara Municipal, como Vereador Geral; e, por circunstancias da vida, não tenho de certo tempo para cá, podido cumprir este mandato de meus patricios.

Bem sabem que, desde minha mocidade, tenho sido interessado no progresso de minha terra; mas, nem sempre o homem pobre pode cumprir esses deveres de patriotismo.

Sou uma nullidade; porem, desde menino, entendo esses deveres patrioticos, para o que sacrificamos nossos interesses particulares e até a própria vida.

Nada temos conseguido! Tudo está por fazer!…

Passa-se o tempo construindo-se, e destruindo-se; è um nunca acabar!

A Camara Municipal, desde os idos tempos do Imperio, visou a necessidade dos encanamentos; fez encanamentos ephemeros que a terra consumiu. Tentou fazer de novo, nivelou, amontoou pedras no curso do nivel, e a terra os consumiu, isto no tempo em que as despesas com a Secretaria era só de 200$000. Com o novo regime, a Camara enriquecendo-se, cresceu o numero de afilhados, e não pôde, até o presente, ter fundos para encanamentos, etc. Tomou-se em consideração a proposta do Governo Municipal, presidido pelo Major João Gualberto de Amorim, mandando depositar no Banco da Republica, os saldos dos orçamentos destinados a canalisação d’agua. Com a quebradeira do Banco, a Camara resolveu suspender aquella auctorisação e mandou que as sobras dos orçamentos fossem applicadas em obras publicas, e é o que se tem feito; de modo que pelo ultimo balancete, de 8 de janeiro do corrente anno, vê-se que o saldo da Camara é 15:358$875. Com esse pequeno saldo, como é que a Camara poderá resolver, mandar fazer:  − Casa de Camara, Grupo Escolar, encanamentos, entupição dos buracos nas ruas, remoção do lixo, descortinamento e concertos de estradas e pontes, linha telephonica, auxilios á lavoura, etc.? Só mesmo o Exmo. Senhor Dr. Olegario Dias Maciel. D.D. Presidente e Agente Executivo Municipal, conhecedor como é de todas essas necessidades, e com os conhecimentos technicos que tem, poderá ir guiando a Camara no modo de resolver.

Se acceitasse minha indicação, começaria a Camara mandando construir o predio para o Grupo Escolar; venderia a antiga casa de escola do sexo mascolino, para o que já está autorisado o Sr. Presidente.

E’ o melhor serviço que a Camara deve atacar, a bem da instrucção primaria, justa aspiração do Governo do Estado, que nesse sentido officiou á Camara para comprar um predio particular que se adaptasse, para a urgente installação do Grupo. Diz o Sr. Dr. Euphrasio que o tempo de patriotismo já se foi; mas, eu digo com Amorim Junior, ainda existe patriotismo, portanto, appellamos para esses paes de familia, e juntos vamos trabalhar nessa obra de patriotismo, a bem d’essa meninada que ahi está e vem no futuro ser os verdadeiros patriotas, militares, agricultores, negociantes, e verdadeiros operarios.

Eu, deveras, me confesso invejoso de ver o estabelecimento do Grupo d’aqui desta Cidade, sendo que Patos, um Municipio digno d’esse melhoramento, ainda não o possue!… Será a falta de patriotismo? Não, ahi existem verdadeiros patriotas. Esses moços do Municipio que se tem Bacharelado lá por fóra, melhor do que eu devem deixar essa preguiça de falar e escrever, e entrem comigo nesse combate da creação do Grupo Escolar. Avante, meus patricios, não podemos obter tudo, que de momento precisamos; mas, meditem e principiemos por esse estabelecimento reclamado.

O vosso Patricio e Amigo Obrmo.,

Eduardo Ferreira de Noronha¹

* 1: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo registro do cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo é de origem portuguesa. Foi agrimensor, inspetor escolar, ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel; subdelegado de polícia, empreiteiro de obras e vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e 1907 a 1912. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José dos Quintinos, então distrito de Patos sem ainda o “de Minas”. Em 17 de dezembro de 1938, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, o distrito de Quintinos foi transferido para o município de Carmo do Paranaíba.

* Fonte: Carta publicada na edição de 02 de abril de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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