A agricultura, esta arte de cultivar a terra, de fertilisal-a, de fazel-a produzir, em tempos idos, não éra curada dos poderes governamentaes, como hoje o é. Com a abolição da escravatura, surgiu tambem a nova forma de governo e com ella a Sociedade Nacional de Agricultura Brasileira, que tem produzido os melhores adeantamentos possiveis, no sentido mais geral do conjuncto de operações e dos cuidados, por meio dos quaes o homem tira da terra as produções que satisfasem as suas necessidades. O governo da União e do Estado, secundando os bons intuitos da Sociedade de Agricultura, creou o Ministerio de Agricultura, tem subvencionado diversos institutos agricolas, tem creado fasendas modelo, campos praticos de agricultura, de modo a facilitar o ensino agricola. Eu, que a vinte e um annos vivo praticando agrimensura¹, no nosso municipio e circumvisinhos, tenho observado que os nossos agricultores, com raras excepções, são ignorantes do valor da terra, incapases de aproveitarem os favores concedidos pela sociedade de Agricultura, Governo da União, do Estado e Municipio. Calculo, portanto, de summa importancia para o nosso Municipio, o ensino pratico de agricultura annexo ao instituto de ensino primario e secundario, pelo o nosso conterraneo e patriota Dr. Jacques Dias Maciel².
− Combater de face contra a rotina, para não seguirmos vida mofina, − é esse o lemma do Dr. Jacques. O povo não deve ser indifferente a esse bom intuito; e, secundando os seus esforços, mandar os mocinhos para a escola agricola. Disse Dias da Silva Junior: “Si queres ser bom pai, á escola teu filho mandai. Na escola está a luz, que redime, e que produz. Manda teus filhos á escola, que elles não pedirão esmola”.
A justa aspiração do Dr. Jacques funda-se na bôa moral christan, essa que serve de guia ao homem, dá-lhe força e apoio, e esse manancial de vigor, que fortalece-o na pugna da civilisação da mocidade, desejoso de nossa prosperidade civil. Justissima è essa aspiração, apoiada pelos governos da União, Estado e Municipio, de querer formar homens capases de bem dirigir estabelecimentos agricolas. Instruido como é o Dr. Jacques, com os preceitos da moral christan, logo que fôr instalado o internato na Fasenda Modelo do Limoeiro, esses pais de familia que têm filhos nas condições de serem internados em um estabelecimento como o do Dr. Jacques, não deixem perder a occasião de instruir essa mocidade na agricultura, principal factora de nossa riquesa pública e particular. Disse alguém: −
“Os principios moraes, são sociaes e universaes, são de algum modo a salvaguarda da humanidade contra o vicio e a desordem, seus inimigos comuns”. Quando encerravam ahi n’essa Cidade, as ultimas Missões³, no Largo do Rosario, ouvi o illustre inspector technico do ensino primario, conversando com o principal Magistrado da Comarca, sobre a instrucção, e este disse: − “Brotou nesta terrra uma vergontea florida, amiga dedicada da instrucção popular, d’onde esperamos muito melhoramento; se esta estiolar, mal de nós”. Esta vergontea é o Dr. Jacques, homem de firme caracter e moral; que Deus o guarde para nosso bem.
Quintinos4, 1.º de agosto de 1911.
E. F. de Noronha5.
* 1: Leia “Capitão Eduardo Ferreira de Noronha − 1906”.
* 2: Leia “Anunciado o Instituto Patense do Dr. Jacques Dias Maciel”.
* 3: Leia “Santas Missões Populares − 1911”.
* 4: Até 17 de dezembro de 1938, o distrito de Quintinos pertencia ao município de Patos sem ainda o “de Minas”. Nessa data, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, Quintinos foi transferido para o município de Carmo do Paranaíba.
* 5: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo o cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo Noronha é de origem portuguesa. Era agrimensor. Foi inspetor escolar, nomeado em 1897. Exerceu mandatos de vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e de 1907 a 1912. Era capitão e ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel. Foi subdelegado de polícia. Também era empreiteiro de obras. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José de Quintinos, ou simplesmente Quintinos.
* Fonte: Texto publicado com o título Agricultura na edição de 27 de agosto de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do primeiro parágrafo do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.