VEREADOR EDUARDO FERREIRA DE NORONHA CRITICA DELEGADO E ELOGIA FIGURAS POLÍTICAS

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Illmo. Sr. Redactor do “O Commercio”

Saudações a vós e aos illustres colaboradores d’esse jornal, estremmo defensor de liberdades e interesses patrios.

Retirado nesta Matta dos Quintinos¹, falta de faceis communicações, custa-me chegar às mãos esse paladino popular de Patos. Hoje, 25 de maio de 1911, chegaram-se diversos numeros, que li attentamente. Gostei do rasgo que fez o illustre colaborador Major Olympio Borges, sob a epihraphe “Gravissimo”, demonstrando factos criminosos praticados pela policia, porem, não disse tudo.

No dia 17 de abril do corrente anno, eu me achava nessa Cidade, para trabalhos da Camara Municipal, e ouvi em casa do 2.º Tabelião, dizer − que Messias de tal (Curandeiro) tinha recebido uma bala, que lhe varou o pescoço, e Jesuino tinha sido preso. Perguntei: − Onde se deu esse facto? Responderam-me: − Em frente á casa do jogo, onde o Delegado serve de copeiro.

Admirei-me do facto, e perguntei mais: − Quem atirou a Messias? Responderam-me: − Foi algum dos companheiros do jogo, e não se sabe quem.

Admira-me − o Delegado energico como é, ser copeiro em casa de jogos que não são permittidos por lei. Parece-me que o Sr. Delegado não observa as instrucções que o Exmo. Sr. Dr. Chefe de Policia do Estado, deu aos Delegados, em Promptuario Policial, por Levindo Ferreira Lopes. Nesse promptuario, vimos á pagina 168, a nota 38 que diz: − “Todo o logar em que é permittido accesso de qualquer pessôa, mediante pagamento de entrada ou sem elle, para o fim de jogo, é considerado logar frequentado pelo publico para o effeito da lei penal”. L. n.º 628, de 1899, art. 1.º.

Logo, o Sr. Delegado, vendo o artigo 369 do C. Penal, devia seguir as instrucções de seu chefe e não ser copeiro em casa de jogos prohibidos.

Nada temos reclamado contra essa jogatina escandalosa, em a séde do Termo, e como? Si o Sr. Delegado é conivente com a […]!…

Commemorando a gloriosa data de 21 de maio² do corrente anno, anniversario da lei que elevou Patos á cathegoria de Cidade, o Sr. Dr. Euphrasio José Rodrigues, traçou sublime narrativa, que me fez vir em lagrimas aos olhos, ao lembrar-me dos tempos idos, em que tinhamos companheiros submissos á direcção dos nunca esquecidos e sempre lembrados politicos Cel. Antonio Dias Maciel e Major Jeronymo Dias Maciel.

Ao lembrar-me d’aquelles patriotas, que muito concorreram na elevação de Patos, o amistoso e insinuante Sr. Dr. Euphrasio, ou por modestia, ou por qualquer razão, incorreu em falta, ao mencionar os nomes dos que passaram, e dos que continuam nos trabalhos d’aquelles, no desejo que Patos progrida sempre.

O illustre escriptor, bem conhecendo a omissão de nomes ou palavras, protestou contra essa omissão. Ao ler a efhemeride, relembrando os patriotas que passaram, veio-me à memoria o Cap. José Antonio Borges, aquelle que foi o primeiro Tabellião, incançavel em ajudar nos alistamentos eleitoraes, na formação de culpa aos delinquentes, etc; Te. Bernardino Antonio Borges e Belluco, estes lá estão nos annaes da Camara Municipal, como Presidentes honrados, no tempo em que não tinhão subsidios. Em Santa Rita de Patos, tivemos tambem o Te. Felisberto José da Fonseca, que foi um perpetuo Juiz de Paz. Dos presentes, não podemos de todo omittir os nomes do Exmo. Sr. Dr. Olegario Maciel que, desde que foi eleito Deputado pela Provincia em 1881, tem sido o nosso oraculo no tractar do progresso de Patos, e está encanecido por causa dos trabalhos de Gabinete, que lhes acumularam para o bem da Patria. Não podemos omittir Olympio Borges, continuador dos bons exemplos que herdou, neste tambem temos um bom oraculo da direcção politica; Major João Gualberto de Amorim que, durante vinte annos continuos, foi Secretario da Camara Municipal, no tempo da pobreza de subsidios, ganhando 200$000 rs. por anno; e depois da proclamação da Republica, foi tambem um bom Presidente e está ainda no vigor de prestar relevantes serviços ao Municipio; José Soares Rodrigues, aquelle que, para installação da Villa, deu casa para Cadêa e Camara.

Antonino Maciel foi um grande auxiliar politico, e ainda, apezar de seus incommodos de saúde e jà encanecido nos trabalhos de 2.º escrivão do Judicial e registro Geral, ainda continua a nos prestar serviços, e já está preparando o seu successor; Major Antonio Dias Maciel Junior, Collector honrado, tolerante e equitativo, com seus collectados. Ah! Meu caro Sr. Dr. Euphrasio, a sua narrativa me veio fazer saudades dos tempos idos, em que Patos progredia sob a direcção politica do Cel. Antonio Dias Maciel, aquelle que, visando os interesses de engrandecer esta terra, sacrificava os seus interesses particulares.

Bem evocastes os manes dos que passaram; pois, a nelles união-se para elevar Patos, os de hoje, com raras excepções, lembram-se que Patos precisa de união para se conseguirem os melhoramentos, dos quaes invejamos os dos visinhos Municipios. Precisamos de um edificio para o Grupo Escholar, para melhor instrucção dos meninos, e inspecção escholar, etc. Não vêdes como o Sr. Presidente do Municipio³ custa reunir os companheiros de vereação para as sessões da Camara? Sou um membro muito afastado, e tenho perdido o meu tempo em vir á Cidade para os trabalhos.

Oh! Deus Pae, por vossa bondade e misericordia, manda-tes o Deus Filho nos remir e salvar, e elle disse: − “Não pòde durar o reino contra si dividido. Nem ficar de pé a contra contra si dividida”. Mandai, pois, o Divino Espirito que nos illumine para que unidos e fraternalmente, cooperemos para o progresso do Municipio de Santo Antonio de Patos!…

Quintinos, 25 de maio de 1911.

Eduardo Ferreira de Noronha4.

* 1: Até 17 de dezembro de 1938, o distrito de Quintinos pertencia ao município de Patos sem ainda o “de Minas”. Nessa data, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, Quintinos foi transferido para o município de Carmo do Paranaíba.

* 2: Na verdade, 24 de maio, de 1892.

* 3: Olegário Dias Maciel.

* 4: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo o cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo Noronha é de origem portuguesa. Era agrimensor. Foi inspetor escolar, nomeado em 1897. Exerceu mandatos de vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e de 1907 a 1912. Era capitão e ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel. Foi subdelegado de polícia. Também era empreiteiro de obras. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José de Quintinos, ou simplesmente Quintinos.

* Fonte: Texto publicado na edição de 25 de junho de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Início do texto original.

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