VEREADOR EDUARDO FERREIRA DE NORONHA COMENTA SOBRE O INSTITUTO PATENSE

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Installou-se a 12 do corrente mez, a abertura das aulas de mais um estabelecimento de ensino, destinado a educação moral da mocidade, sob a competente direcção de seu fundador, Dr. Jacques Dias Maciel. Deixando a carreira de Direitos em que é formado pela Faculdade de Bello Horizonte, e em cujo percurso, mereceu sempre geraes sympathias, quer pela sua integridade de caracter, quer ainda, pelas suas virtudes civicas e moraes, este distincto moço dedicou-se de preferencia ao magisterio publico, seguindo n’esse passo os impulsos de sua vocação, que para logo o conduziram a acceitar uma cadeira de professor, entregue com proveito a seus cuidados, em um dos nossos melhores Gymnasios, que o é incontestavelmente, o Gymnasio de Leopoldina. Em seguida, passou a fazer parte da Directoria d’aquella casa de ensino, d’onde, ao sahir, não só deixou alumnos que o acatavam como mestre e como amigo, como tambem, collegas e companheiros sinceros, que o estimavam tanto, quanto a isso os obrigavam as qualidades que ornam o seu espirito.

Como era natural, notou ao chegar em nosso meio, a defficiencia notavel de instrucção secundaria, e tendo em vista a sua expansão moral, como um factor saliente á marcha social, desprezou as barreiras que por acaso pudesse encontrar, durante o trajecto de civismo a que se propuzera attingir, e com verdadeiro interesse, despido de receios vãos, cuidou de fundar, em nossa Cidade o “Instituto Patense¹”, cujo fim unico se reduz, como todo emprehendimento de idêntica natureza, a guiar a juventude pelo caminho do bem e do dever, ministrando-a os indispensaveis conhecimentos de vida pratica, para que, no futuro, seja ella constituida de cidadãos bem formados, uteis à patria, á sociedade e á familia emfim. A utilidade do “Instituto”, é tanto maior, quanto é certo haver poucos estabelecimentos d’este gênero, na zona Oeste do Estado, onde a instrucção tem encontrado poucos adeptos, que de conformidade com a sua carencia, saibam empregar os desvelos essenciaes á sua manutenção.

Podemos mesmo adeantar, que não obstante os esforços empregados pelo governo mineiro, para eliminar tanto quanto possivel, o numero bastante elevado de analphabetos, facilitando para esse mister a creação de escolas, mesmo assim, as estatisticas constantes da instrucção nos diminios da Republica, continuam, a despeito de tudo, a collocar o nosso Estado em um logar que para si nada tem de lisongeiro e vantajoso.

E’ justamente por este motivo, que deve ser appoiada a empreza patriotica, ora levada a iniciamento pelo Dr. Jacques, e para cuja consecução, deverão concorrer, não só os habitantes d’esta Cidade, como os de toda a zona, onde a instrucção secundaria não esteja bem desenvolvida, ficando os seus cooperadores certos de que, assim procedendo, nada farão por elle, mas por si proprios, porque onde faltam os elementos necessarios á evolução intellectual, faltam-os, igualmente, á civilização do povo, que é a unica base do progresso, quer se trate de um municipio, quer de um Estado, quer se trate finalmente , de um paiz ou continente.

Possuindo um corpo docente sufficiente para recomendal-o, o Instituto possue já um regular numero de alumnos, que augmentará, estamos certos, á medida que se fôr tornando conhecido, desejando nós que o seu director e demais professores, tenham em todo esse periodo de luctas e trabalhos, tanto de felicidades para o alcance de tão nobre fim, quanto de esforços, têm dedicado para a realização d’esse mesmo fim.

N. Ferreira².

* 1: Leia “Anunciado o Instituto Patense do Dr. Jacques Dias Maciel”, “Vereador Eduardo Ferreira de Noronha Elogia Iniciativa Escolar do Dr. Jacques Dias Maciel”, “Jornal de Paracatu Elogia a Criação do Instituto Patense do Dr. Jacques Dias Maciel”, “Instituto Patense – 1911”, “Ata de Instalação do Instituto Patense”, “Inaugurado o Instituto Patense do Dr. Jacques Dias Maciel”.

* 2: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo o cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo Noronha é de origem portuguesa. Era agrimensor. Foi inspetor escolar, nomeado em 1897. Exerceu mandatos de vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e de 1907 a 1912. Era capitão e ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel. Foi subdelegado de polícia. Também era empreiteiro de obras. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José de Quintinos, ou simplesmente Quintinos.

* Fonte: Texto publicado com o título “Instituto Patense” na edição de 05 de novembro de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Início do primeiro parágrafo do texto original.

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