Do nosso correspondente recebemos a dolorosa noticia seguinte:
− “Deixou de existir o capitão Eduardo Ferreira de Noronha¹.
Minaz enfermidade o prostrou, fallecendo no dia 21, ás trez e meia horas da tarde, após lenta e dolorosa agonía.
O seu sahimento teve lugar no dia seguinte, ás mesmas horas, com grande e numeroso acompanhamento e assistencia do rvm. Vigario de Santo Antonio dos Tiros.
Geralmente sentido o inopinado passamento. Cidadão conspicuo, pae de familia exemplar e amigo á toda prova, deixa um vacuo imprehenchivel no coração de quantos tiveram a felicidade de o possuir como conterraneo, como chefe e como amigo. Toda a sua vida, no publico, na intimidade de amigos e no aconchego do lar, è uma pratica constante de acrisoladas virtudes, e por isso lega á sua familia um nome illibado.
Paz á sua alma.
S. José dos Quintinos², 23 de 9bro. de 1914”.
A perda de tão bom companheiro e amigo echoou dolorosamente em nosso coração, e no de todos os seus amigos d’esta cidade.
O inolvidavel extincto nasceu nesta cidade a 8 de setembro de 1857, filho de José de Barros e de D. Rosa Maria de Jesus.
A cerca de 35 annos, casou-se com D. Maria Candida de Noronha, com o qual deixa 9 filhos, 4 casados e 5 solteiros, ainda menores.
Intelligencia de escòl, o nosso amigo, embora sem preparos, á força de vontade e de estudos particulares, escreveu para diversos jornaes, de entre os quaes o nosso modesto semanario.
Trabalhador e cumpridor de seus deveres, foi elle primeiramente carpinteiro, mestre de carpinteiro, agricultor e finalmente agrimensor pratico, tendo exercido todas essas profissões com solicitude e honradez.
Devido a seu caracter illibado, a seu gênio progressista, occupou elle aqui diversos cargos de nomeação e de eleição popular, exercendo todos elles com dedicação e criterio.
A’ sua familia, para quem vivia vergado sob o peso do trabalho, lega um nome honrado e bom.
Para o descanço eterno de sua alma foi rezada, ante-hontem, na Matriz d’esta cidade uma missa, à qual assistiram diversos amigos e admiradores seus.
Sobre a campa de seu bom amigo e dedicado collaborador, o “O Commercio” deposita uma singella corôa de saudades, e envia á toda exma. familia do extincto sinceras condolencias, pela irreparavel perda do chefe querido.
Requiescat in pace.
* 1: Eduardo Ferreira de Noronha nasceu em Patos de Minas, no ano de 1857, segundo o cartório de Areado. Seu neto, porém, afirma que Eduardo Noronha é de origem portuguesa. Era agrimensor. Foi inspetor escolar, nomeado em 1897. Exerceu mandatos de vereador de 1887 a 1894, 1898 a 1900 e de 1907 a 1912. Era capitão e ajudante de ordem da Guarda Nacional, prestando serviço sob as ordens do coronel Farnese Dias Maciel. Foi subdelegado de polícia. Também era empreiteiro de obras. Faleceu no distrito de Chumbo, aos 57 anos, no dia 21 de novembro de 1914, sendo sepultado em São José de Quintinos.
* 2: São José dos Quintinos, ou simplesmente Quintinos, foi Distrito de Patos de Minas até 17 de dezembro de 1938 quando, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, foi transferido para o Município de Carmo do Paranaíba.
* Fonte: Texto publicado com o título “Capitão Eduardo Ferreira de Noronha” na edição de 1.º de dezembro de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Anúncio publicado em 15/10/2013 com o título “Eduardo Ferreira de Noronha – 1906”.