1.ª FESTA ANUAL DO TRIGO − VISITAS ÀS PROPRIEDADES DA MOINHOS MINAS GERAIS S/A

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Todos os visitantes de Patos percorreram demoradamente as instalações da Moinhos Minas Gerais S/A na cidade: os moinhos de trigo, modernissimos; a oficina mecanica; os armazens; a câmara de imunização de cereais; a secção de transportes, que tão relevantes serviços vem prestando no escoamento da safra da região patense para a estrada de ferro e para os centros de consumo.

Muitos deles prolongaram a visita a outras propriedades da empresa. A primeira excursão foi a Vargem Fina, magnifica fazenda do senhor José Caixeta de Melo, onde a Moinhos mantem algumas rezes finas, necessitadas de estarem proximas à cidade, provisoriamente. Em prosseguimento, rumaram à Fazenda Santa Terezinha, que a empresa possue no Leal − duzentos magnificos alqueires, onde mesmo nesta época do ano as pastagens são opulentas. Aí, os visitantes puderam admirar um dos mais finos rebanhos da região: novilhas e vacas mojando; reprodutores famosos, cem por cento puros; e bezerrada magnifica, que despertou enorme entusiasmo nos entendidos. Por um tourinho de 18 meses, o ELDORADO, foi ofertada a bela soma de oitenta mil cruzeiros; por cincoenta novilhas, quinhentos mil cruzeiros − propostas recusadas, porquanto a Moinhos está comprando, e não vendendo.

Em Ponte Firme

Em São Pedro da Ponte Firme¹, os visitantes visitaram a usina de beneficiamento de cereais da Moinhos, de onde o arroz sae da melhor qualidade, e também o farelo, para formação das rações balanceadas com que se reforça a alimentação do gado de raça, somado ao do trigo, que tambem a Moinhos produz, e à torta de algodão, de que ele é tambem produtora. Os armazens estavam abarrotados de arroz e de feijão, de produção própria, de arrendos e de compra.

Em seguida, foi visitada a usina hidro-elétrica da empresa, que fornece energia à de arroz, iluminação pública e particular a Ponte Firme e que brevemente eletrificará a agricultura na Gameleira, através uma linha adutora de vinte e cinco quilômetros.

A falta de tempo impediu aos visitantes o prolongamento da excursão à Fazenda do Paiol (145 alqueires e tres hectares) e a Caiçara (220 alqueires), que a empresa possue no mesmo distrito de paz.

Em Ponte Firme, o senhor Hercílio Trajano da Silva² − que è o mais forte e o mais progressista comerciante da região − e sua exma. Senhora, cativaram os excursionistas, oferecendo-lhes em sua residencia finissima recepção, de que todos trouxeram indelevel recordação.

Na Gameleira

Chegaram finalmente os visitantes á Gameleira, propriedade agrícola da Moinhos Minas Gerais S/A, maior do que a Suiça, dividida em trese retiros, alem da chamada Larga do Brasil, que, sosinha, pode manter folgadamente trinta mil rezes durante o ano inteiro.

No mesmo dia da chegada, percorreram a sede central da Fazenda, guiados pelo dinâmico e encantador Administrador, major Atenágoras Campos Amaral, a que todos faziam referencias, ao voltar. A séde da Gameleira está destinada a ser brevemente uma cidade. As residencias, todas de telha, todas bem caidinhas, todas asseiadinhas, alinham-se em larga avenida − Avenida dos Trabalhadores. Armazem de abastecimento. Casas de Engenho. Paiol. Escola para os filhos dos colonos. Em construção a Casa do Trabalho, para aproveitamento das horas vagas das colonas, que aí terão seções de fiação, tinturaria e tecelagem. Olaria. Duas serrarias. Carpintaria e Ferraria.

Dadas as proporções das terras a Moinhos està preparando para culturas, vai ser imensa a necessidade de braços − motivo porque prossegue em ritmo acelerado a construção de novas casas.

Ainda nesse mesmo dia da chegada, foi visitada a secção de manipulação do latex da mangabeira. Calcula-se que, em seis mil alqueires de campos, a Moinhos possua mil mangabeiras, que estão dando a media de um litro por arvore. O latex é conduzido “in natura” para a sede da fazenda, onde è abundante e limpa a agua. Aí, è coagulado, prensado, corrugado e defumado − tudo rigorosamente de acordo com as instruções da Rubber Development Corporation, por meio de maquinário por ela fornecido, de modo que a produção è toda de “Ribbled Smoked Sheets”.

Brevemente a Moinhos terá nos seus mangabais a mèdia diária de cem mangabeiros, com a produção individual media de seis litros. Ainda este ano, organizarà viveiros, para plantar anualmente vinte mil mangabeiras arruadas, destinadas á extração do latex e a criação de porcos com as frutas − aliás deliciosas para doces.

No segundo dia, pela manhã, bem cedo, os visitantes, em cavalhada da Moinhos, se dirigiram aos roçados de milho, onde puderam margear a maior roça que jamais viram: cem alqueires, tresentos hectares, onde se plantará o milho e, como culturas ancilares, o algodão arboreo e o feijão.

Quando o presidente da empresa anunciara o plano agrícola para 1943-4, e disse que se iam plantar cem alqueires de milho, de algodão e de feijão, os rendeiros riram-se muito. Agora, vendo que o plano já estava em adiantada execução, deliberaram plantar igual quantidade (regime da terça) e já teem os roçados quase prontos.

Daí, passaram-se às culturas de arroz e de cana de açucar, numa área aproximada de 180 hectares.

Depois do almoço, dirigiram-se de automovel para o retiro Jequié, a dezoito quilômetros da sede central, onde percorreram as instalações de pecuária, o pomar, algumas terras de cultura e chegaram ao Porto Brasil, no rio da Prata, regressando à Gameleira.

A’ tardinha, foram a cavalo à Lagoa do Boi, onde os surpreendeu o pujante verdor da pastaria − nesta epoca do ano, em que a natureza está toda esturricada e empoeirada. Depois de percorrerem em grande extensão a vereda, foram colhidos por um ponto extra-programa; às margens da lagoa, multidão de garças brancas, garças róseas, jaburus, numerosos outros passaros aquaticos, corvos, veados e emas.

Em seguida, foram ao retiro Buriti Torto, onde, depois de verem as instalações de pecuária e o gado da porta, jantaram, regressando em cavalhada sob luar magnífico.

Não lhes teria sido possivel visitar toda a Gameleira, com os seus vinte e seis mil e oitocentos alqueires de três hectares, e cujo maior comprimento mede onze leguas − sessenta e seis quilômetros, por três, quatro e cinco de largura… Todavia, fizeram uma penetração na Larga do Brasil, onde as terras de cultura são opulentas, onde as pastarias se desdobram em léguas de Jaraguá e meloso, e onde nas matas a preciosa aroeira domina na proporção de sessenta por cento. Visitaram, em parte, o Saco d’Anta e Palmeiras, mil e duzentos alqueires do mais alto preço, pelas aguadas, pelas qualidades das culturas e das pastagens.

Regressando, alguns puderam ainda visitar, no Brejinho, do senhor Afonso de Queiroz, nos Néas, do senhor Ilidio Caixeta de Melo, as terras que a Moinhos prepara para novos trigais, seus e desses adiantados fazendeiros.

Ainda na Gameleira, puderam julgar do que vem sendo a parte social desenvolvida pela Moinhos, a valorização do Homem, por ela promovida. Assistência escolar, médica e farmacêutica; barateamento dos gêneros; higiene nas habitações; educação cívica; reforma dos habitos de alimentação pela obrigatoriedade do plantio da horta e pomar − são cousas que a Moinho faz, por espirito de humanidade, por sentimento de brasileiro, e por interesse econômico, pois sabe que, sendo o Homem medida de todas as cousas, seus êxitos só serão garantidos se puder contar com homens valiosos, animados; que possam trabalhar o ano todo, com todas as suas forças. Graças a isso, ela não conhece o problema da falta de braços, que fustiga todos os grandes agricultores.

* 1: Pela lei estadual nº 556, de 30/08/1911, é criado o distrito de São Pedro da Ponte Firme e anexado ao município de Patos. Pela lei estadual nº 843, de 07/09/1923, tomou o nome simplesmente Ponte Firme. O decreto-lei estadual nº 148, de 17/12/1938, desmembra do município de Patos os distritos de Santa Rita de Patos e Ponte Firme, para constituir o novo município de Presidente Olegário, e Ponte Firme passar a integrá-lo.

* 2: Leia “Hercílio Trajano da Silva”, “A Vingança de Hercílio Trajano”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Visitas às propriedades da Moinhos Minas Gerais S.A.” na edição de 22 de agosto de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Do arquivo do MuP, via Geovane Fernandes Caixeta, publicada em 22/07/2016 com o título “Moinho de Trigo em 1940”.

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