1.ª FESTA ANUAL DO TRIGO: COMO FOI − 3/3

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

Terminado o discurso do presidente da Moinhos Minas Gerais S.A., o senhor prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho deu a palavra ao professor Aguinaldo Magalhães Alves, ilustre diretor da Escola Normal, para falar em nome daquela autoridade.

Assim discursou o prof. Aguinaldo Magalhães Alves:

“Exmo. Sr. Dr. Luis Amaral, D.D. Presidente da Moinhos Minas Gerais S.A. e Tesoureiro da Companhia de Trigo Nacional.

Exmo. Sr. Dr. Moacir Viana de Morais, ilustre Diretor do Campo de Sementes da Cascata e pioneiro da cultura do trigo neste Municipio.

Exmo. Sr. Dr. Hèlio Raposo, Diretor da Estação Experimental do Sertãozinho, competente tècnico e autorizado conhecedor do assunto. Srs. Visitantes

Minhas senhoras e meus senhores

Quem, pela primeira vez, demanda estas vastas regiões do Oeste Mineiro para alcançar o dilatado planalto do Paranaiba, tem a principio uma decepção profunda causada por êsses largos campos cobertos de especimes enfezados e retorcidos de uma flora aniquilada. Sente mesmo a desolação do viajante que atravessa um territòrio gasto e roído, do qual rolou, levado pelas grandes aguas, todo elemento fertilizante.

Pela imaginação começam a passar, como termos do confronto, os campos do Sul de Goiaz, os cerradões de Mato Grosso, os acidentados terrenos do Estado do Rio, as terras fecundas de São Paulo.

Ao se aproximar, porém, do território dêste Municipio a desolação se transforma rapidamente em agradavel surpresa. E toda a paisagem emoldurada de matas, e toda a exuberância da terra coberta de culturas, como uma grande mancha, se desenrola para lhe deixar a impressão de que está em plena “Canaã”, na terra da fartura e da promissão que devolve centuplicado o grão que lhe atirem.

Eis o que tambem sente ainda hoje aquele que procura êstes sítios encantadores por meio do mais moderno meio de transporte − o avião.

Espiando de cima a paisagem imensa, à medida que se aproxima de nós vai sentindo a profunda diferença que as terras em baixo lhe apresentam.

Nosso solo privilegiado pode produzir de tudo e com indiscutivel vantagem. Todo esfôrço è largamente compensado aqui.

E’ natural, portanto, que o Municipio de Patos seja procurado para centro de todas s iniciativas e para o desenvolvimento das mais diversas atividades.

O problema da cultura do trigo, tão importante e decisivo, encontrou aqui a sua solução.

E os notáveis estudos e esforços de Moacir Viana, conjugados à competência de Hélio Raposo e ao dinamismo de Luis Amaral, vão se coroando do mais completo êxito, atraindo as atenções de todos quantos se interessam pelas grandes causas nacionais e daquelas que teem e espirito realizador capaz de largos cometimentos.

Falando-vos em nome do governo do Municipio, para tanto credenciado neste momento, como vistes, quero dizer-vos do quanto è agradavel para nós a vossa visita, Senhores, e afirmar-vos que toda iniciativa è acolhida entre nós com o mais inteligente e compreensivo espirito de colaboração.

O povo do Municipio recebe sempre com entusiasmo aqueles quem veem trabalhar pela sua grandeza. Assim procedendo, está cumprindo o seu dever patriótico de tudo fazer por Minas e pelo Brasil.

Pela vossa visita, e desejando grata permanencia entre nòs, formulo os mais cordiais e efusivos agradecimentos”.

O dr. Moacir Viana de Novais orou em seguida, explicando aos presentes o fato agradável e extraordinario do grande rendimento da agricultura em Patos e, notadamente, da triticultura.

Em belas figuras literárias, imaginou o Criador aqui se abarracando cançado e, desistindo de continuar a jornada, derramar aqui mesmo toda a bagagem de materias orgânicas fertilizantes. Figurou os vulcões − de que se veem ainda numerosos vestigios − espalhando aqui o tufito¹, que torna inigualaveis as terras da região. Em outras palavras, descarnou para os visitantes os motivos concretos da confiança que se tem na agricultura e na pecuária patenses.

Neste ponto, aconteceu cousa emocionante. O dr. Helio Raposo, grande valor tão apreciado em Patos, como construtor e realizador da Estação Experimental de Sertãozinho, a que vem de retornar depois de lastimada ausência, salientou a alta expressão da autoridade que ele estava representando − o dr. Fagundes; e, em palavras cálidas, reivindicou para a sua classe, para a classe agronômica a vitória de Moacir Viana de Morais, que nela é figura estelar. Isso impressionou vivamente a todos e foi objeto de numerosos comentários.

Conduzidos pelo dr. Moacir Viana de Novais, todos se encaminharam aos canteiros de genética, onde foram feitas muitas demonstrações. E aos trigais, onde as ceifadeiras já estavam operando. O dr. Novais ainda aì prestou vários esclarecimentos, notadamente sobre o porte do trigo, que ele reduziu ao minimo necessario às facilidades de colheita, afim de que os colmos, muito altos, não roubassem inutilmente ao solo materia orgânica que podia ser poupada. Mostrou que os menores cachos compunham-se de doze espiguetas, e estas de quatro grãos perfeitamente granados − cousa extraordinaria para quem entende de triticultura.

O senhor prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, como representante do senhor Governador Benedito Valadares, lançou a batedeira o primeiro trigo da safra. Em seguida, a comissão incumbida de controlar a prova procedeu a medição, tendo apurado que o rendimento mèdio por hectare foi aproximadamente de quatro mil quilos.

Visita ao Sertãozinho

Quase todos os visitantes − e eram às centenas − acompanharam o dr. Helio Raposo à Estação Experimental de Sertãozinho. E’ uma cidade agricola, que o grande amigo de Patos, Fernando Costa, mandou construir, quando Ministro da Agricultura, e á qual o atual titular, dr. Apolônio Sales, está dando muita solicitude. Predios para laboratórios, para experimentações, para residência de funcionários; casas para operários; câmaras de expurgo, paiois, depositos, estrumeiras − tudo lançado em grandes bases. Belo trigal. Canteiros de linho.

A estação Experimental de Sertãozinho dispõe de 700 hectares de ótimas terras. A Moinho Minas Gerais S.A. está pleiteando 300 deles, para, ao lado das demonstrações técnicas do Ministério, fazer a comprovação econômica, de modo tal que os futuros visitantes conseguirão, lado a lado, todos os elementos de convicção.

Foi a melhor possivel a impressão trazida pelos que foram ao Sertãozinho.

O baile do Aero Clube

A’ noite, houve no Aero Clube de Patos grande recepção aos visitantes da cidade. Foi uma festa brilhantissima, à qual ocorreu a elite patense, ostentando as damas toiletes do mais fino e requintado gosto. Em outro local, inserimos as palavras com que o dr. Joaquim Magalhães Loureiro se referiu a essa noitada. Elas sintetisam tudo².

A’s 2 horas da manhã, o ilustre advogado e orador oficial do Aero Clube, dr. Geraldo Tomaz de Magalhães, fez uma saudação calorosa aos diretores da Companhia de Trigo Nacional e da Moinhos Minas Gerais S.A., ao dr. Moacir Viana de Novais e aos visitantes.

A festa do Aero Clube de Patos marcou época. Repetir-se-á na mesma data, nos outros anos, com um ponto a mais: coroação da Rainha do Trigo e suas Princesas.

Notas finais

Tudo, todos os elementos concorreram para o brilho e a eficiência da Festa do Trigo e encantamento dos visitantes, que, de resto, se manifestaram entusiasticamente.

Apesar de ter sido generalisada a boa vontade e espirito de cooperação, poder-se-ia por um destaque a participação de alguns elementos. O senhor Major Edmundo Dias Maciel, por exemplo, esforçado Delegado de Polícia, excedeu-se em solicitude, de modo tal que se conseguiu o mais perfeito serviço de veículos para a verdadeira multidão que esteve na Cascata e no Sertãozinho. O capitão Josè de Santana foi gentilíssimo, cedendo toda a parte superior de sua residência − o Palacete Mariana − para hospedagem de muitos visitantes. O Aero Clube de Patos garantiu à cidade os fóros de cidade altamente civilizada, possuidora de elite social que sabe receber e sabe apresentar-se. O Hotel Rodovia não poupou esforços para acomodar condignamente os ilustres hóspedes, e o conseguiu na plenitude.

Os visitantes procedentes de Uberlandia deixaram, igualmente, a melhor das impressões, como homens amaveis, discretos finamente e educados; e impressionaram vivamente pelo optimismo sadio que manifestaram.

* 1: Tufitos são rochas resultantes da deposição, compactação e cimentação de materiais piroclásticos (cinzas e poeiras vulcânicas). A origem vulcânica confere textura, estrutura e demais aspectos comparáveis a outras espécies de depósitos sedimentares clástico-magmáticos, classificados como rochas ígneas extrusivas. São materiais friáveis e porosos, que tendem a produzir espessos mantos de material intemperisado. Os tufos vulcânicos distribuídos na região do Alto Paranaíba formam a litologia de tufito, com expressiva variabilidade, tanto vertical quanto horizontalmente, em termos de composição química e mineralógica. Os solos derivados de tufito da região contêm espinélios de ferro excepcionalmente ricos em magnésio e titânio. As frações grosseiras do solo derivado tendem a preservar proporções variáveis de minerais magnéticos, especificamente magnetita e maghemita. Recentemente, foi ineditamente identificada e descrita a magnesioferrita (Mecanismos químicos e mineralógicos de transformação da magnesioferrita de solo derivado de tufito, da região do Alto Paranaíba-MG, de Fernando Dias da Silva, Antonio Taranto Goulart, Paulo Rogério da Costa Couceiro e José Domingos Fabris).

* 2: O Veredicium do dr. Magalhães Loureiro − “Este Aero Clube, com seu ambiente de distinção; esta sociedade ‘rafinée’, estas damas, com sua elegância, ‘finèsse’ e beleza; e mesmo estas orquestras − tudo isso pode ser transportado ao Rio de Janeiro, e lá figurar em primeiro plano. Mas, não há no mundo terras que possam ser transportadas a Patos, e figurarem como quantidade homogênea aqui. Porque as terras de Patos são diferentes de todas as outras: são as melhores de todas”. − Joaquim Magalhães Loureiro, Diretor da Trigo Nacional e da Moinhos.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Festa Anual da Safra” na edição de 22 de agosto de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Trecho do texto original.

Compartilhe