Em meados da década de 1930 houve uma grande movimentação em Patos de Minas com o propósito de introduzir no cerrado patense o cultivo industrial de trigo, cereal este que o Brasil importava em grande quantidade. Em 1936, a Companhia Moinhos Minas Gerais S/A iniciou a montagem de suas instalações em Patos. A edição de 29 de agosto de 1936 do jornal Folha de Patos publicou uma matéria sobre o assunto:

Com o fim de informar com toda segurança o público sobre a atividade da Companhia Moinhos Minas Gerais, detentora da concessão de cultivo e industrialização do trigo neste município, procuramos no Rodovia Hotel¹, onde se acha hospedado, o Sr. Otaviano Lapertosa, incorporador da empresa, com o qual palestramos demoradamente, conseguindo quanto queiramos com referência ao assunto.

O contrato que a Companhia Moinhos Minas Gerais firmou em 23 de março deste ano, com o município, por intermédio do realizador Prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, estipula que a empresa, dentro de 2 anos, a contar daquela data, deverá iniciar a moagem do Trigo cultivado no município, dando-lhe o segundo ano do prazo para montagem dos maquinismos necessários.

Este prazo foi calculado, tendo em vista as diversas medidas indispensáveis a tomar preliminarmente, como sejam, dentre as muitas, preparo da terra e colheita da sementeira selecionada para plantio pela própria Companhia e fornecimento aos interessados na cultura do trigo no município.

Segundo nos informou o Sr. Lapertosa a Companhia, apesar de estar obrigada pelo contrato a plantar apenas 50 hectares de terra, duplicará ou quadruplicará esta área desde que haja necessidade, e já iniciou, na Fazenda Gameleira, regular plantação de 18 mil quilos de sementes de trigo, estando a espera de novas remessas da Secretaria da Agricultura para fazer novos plantios.

Esta primeira cultura está com três meses apresentando as melhores aparências de vitalidade, destinando-se ao selecionamento de sementes para as primeiras plantações da moagem.

Explicou-nos o Sr. Lapertosa que o cultivo do trigo é de técnica especial e a não observância dessa técnica resultará em total fracasso da sua cultura.

A rotatividade do plantio, alternado com outras culturas, como o feijão, o algodão e o fumo, é condição essencial para o êxito completo da produção do trigo, como nos explicou o Sr. Lapertosa, e por isso mesmo a Companhia já tem terrenos designados para todas elas, revezando em cada ano a cultura desses terrenos.

A Companhia Moinhos Minas Gerais já construiu, como noticiamos, um armazém nos terrenos de sua concessão, na Chapada, instalando ao lado do mesmo um imunizador que tanto serve para o trigo como para outros cereais.

No próximo ano a empresa intensificará as construções de que venha a necessitar, estando empenhada que essas obras fiquem concluídas dentro do prazo do contrato.

Em Belo Horizonte, onde a companhia tem a sua sede, ativam-se os trabalhos de orçamento para aquisição dos maquinismos que serão empregados aqui na industrialização do trigo, e tão logo seja escolhido um entre os que se acham em estudo, a encomenda será feita imediatamente, de maneira que a empresa possa tê-los instalados em Patos na época estipulada pelo contrato.

Para corroborar o esforço que está sendo desenvolvido pela Companhia, na pessoa de seu Superintendente, o Sr. Otaviano Lapertosa, aqui em Patos, no sentido do preparo de sementes selecionadas para o plantio do próximo ano que servirá à primeira moagem nos moinhos da Companhia, chegou a esta cidade, quinta-feira última, o Dr. João Batista Zolini, técnico do Ministério da Agricultura, para inspecionar e verificar as condições da cultura feita na Fazenda da Gameleira, para onde seguiu sexta-feira, no desempenho daquela missão especial.

O Ministro da Agricultura já enviou para os nossos campos máquinas agrícolas, sementes, e o técnico Dr. João Batista Zolini, Sub-Inspetor Regional.

Da Secretaria da Agricultura a Moinhos Minas Gerais S/A está esperando a remessa das máquinas para moto-cultura, e a entrega das sementes já experimentadas em Patos e descritas na recente mensagem do Exmo. Dr. Governador do Estado.

O Sr. Otaviano Lapertosa finalizou conosco as suas declarações, assegurando-nos que o fim precípuo da Companhia Moinhos Minas Gerais é industrializar o trigo cultivado no município de Patos e que deste caminho traçado ela não desviará, haja ou não percalços, se bem que uma campanha surda, empenhada no fracasso da produção da farinha nacional, se faça ouvir pelos incrédulos e derrotistas que ingenuamente se deixam levar pelos falsos argumentos dos importadores do trigo estrangeiro.

Aqueles que quiserem cultivar o trigo no nosso município terão técnicos à sua disposição, sementes selecionadas, maquinismos apropriados, inseticidas para qualquer praga que porventura venha a atacar o trigal, tudo fornecido pela Secretaria da Agricultura, com garantia expressa de venda da produção para a Companhia, pelos mesmos preços do artigo estrangeiro entregue na praça do Rio, incluídas todas as despesas, foram estas as últimas declarações que nos fez o Sr. Otaviano Lapertosa.

* 1: Este hotel localizava-se na Praça Desembargador Frederico. Leia “Rodovia Hotel – 1937”.

* Fonte: Texto publicado na edição de 29 de agosto de 1936 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Melissasetubal.com.