QUEDA DA CIA. MOINHOS MINAS GERAIS S/A, A

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

0A tentativa do cultivo de trigo em Patos data de 1915, apesar de plantado em culturas pequenas e isoladas. Depois disto, ninguém mais cogitou de tal empreendimento, até a chegada do Dr. Moacyr Viana de Novais, em 1932. Com seus experimentos, a triticultura virou “febre” em Patos de Minas. O maior símbolo desta áurea fase foi a Companhia Moinhos Minas Gerais S/A¹, criada em 1936 pelo italiano Otaviano Lapertosa. Mas, com a morte de seu criador em 1944, entraram outros a comprar os Moinhos. Aí já era aquela jogatina de compra e venda de ações, para ganhar dinheiro, nunca com a intenção do fundador, que era patriótica e entusiástica, de realizar uma coisa honesta. Venderam ações em Patos e pelo Estado de Minas, chegando a criar a Companhia Nacional de Trigo e foram aumentando as ações, e, quando mais as aumentavam, mais as vendiam, pois o povo entusiasmado com os rendimentos e os lucros possíveis, lançou o seu dinheiro no empreendimento. Vieram outras companhias, piorando cada vez mais a situação, desmoralizando o trigo de Patos. No entanto, a principal delas era a Companhia Nacional do Trigo, que vendeu moinho e tudo mais. Na verdade, A Moinhos Minas Gerais se transformou num balcão de negócios em benefício de seus acionistas, terminando por isso em bancarrota. Foi um grande prenúncio do fim da era tritícola em Patos de Minas.

A degringolada final na existência da Companhia Moinhos Minas Gerais S/A começou em 1945, quando sua sede foi transferida para Belo Horizonte. A edição de 18 de fevereiro do jornal Folha de Patos comentou o assunto:

Pela ata da ultima assembleia geral da Companhia, publicada pelo “Minas Gerais” de 8 de fevereiro corrente, chegou-nos a noticia de que foi aprovada a ideia infeliz da transferencia de sua sede para a Capital da Republica.

Lançando, agora, o nosso protesto contra a medida, lamentamos tenha a proposta recebido aprovação unanime, sem a menor restrição por parte de elementos de valor no municipio que, então, integravam o “corpo” votante da reunião.

A Moinhos aqui nasceu, aqui viveu sempre os seus dias prosperos e amargos, encontrando em nossa gente, que se acostumara ao fluxo e refluxo de sua vida administrativa, expansões de alegria nos dias da bonança e a mais confortadora das solidariedades nas horas tormentosas da borrasca.

Reconhecemos ter colaborado ela, eficazmente, no pleno desenvolvimento do municipio, atraindo para ele as vistas e as atenções de autoridades e poderosos do meio agricola do pais, mas não é menos certo que o municipio sempre a apoiou de maneira incontestavel e significativa.

Haja vista este instante em que atravessa ela a maior de suas crises, não podendo, assim, corresponder às finalidades de seus contratos e, no entanto, contrastando com toda a cidade que permanece às escuras, vemos, plenamente iluminados, até os currais da Moinhos, ora inutilmente, porque nos afizemos a dar-lhe o melhor de nossas energias e embalar-lhe os dias de vida.

Foi erro manifesto o da administração Lapertosa que lhe deu como séde a cidade de Belo Horizonte. O desencontro dos atos administrativos com a escrita que era feita longe do palco deles, deu lugar a uma pendencia que não teve mais fim.

Desde a administração propriamente dos coroneis Osorio Maciel e Eugenio Tibau, começou a moinhos a ter maior surto de progresso, dada a centralização de sua administração nesta cidade.

Digam o que quiserem, a Companhia, incontestavelmente, realizou intensissimo movimento desde que, acertadamente, a sua séde viera para esta cidade, não se enquadrando, absolutamente, no problema séde os desmandos de administração de que a ultima ata se queixa.

O proponente da transferencia (medida que vem distanciar muitissimo a maquina dirigente do centro das atividades produtoras e comerciais da Companhia), apresenta como unico argumento “a sua proximidade do Governo Central”.

Seja-nos permitido ponderar, entretanto, que o Governo Central desconhece distancias, dada a especialização das funções distribuidas pelos varios departamentos do Estado, quando se trata de beneficiar um empreendimento que venha desafogar a vida economica do pais.

É inegavel ainda que o Governo Central deve estar sempre mais proximo do hinterland, onde se produz e se trabalha ativamente pelo bem comum, do que da empresa cheia de aparato que, parasitariamente, lhe quer permanecer ao lado, fruindo do conforto de um aconchego na capital.

Ademais, com a devida venia, o argumento é contrario às pretensões do proponente.

A proposta é feita e aprovada em uma ata que aponta e acossa o ultimo diretor presidente da Companhia como “alienador ilegal de grande parte do patrimonio da empresa, responsabilizando a mesma em operações de que fora o unico beneficiario, ordenando lançamentos falsos, praticando uma serie de atos que a lei capitula de crimes” (sic), terminando por acentuar um dos diretores “o abuso inominavel de confiança praticado pelo ex-presidente cuja responsabilidade assim civil como criminal, teria que ser apurada”, demonstrando tudo isso, que apreciadas, escrita e ata, pelo Governo Federal, incontestavelmente a sua intervenção na vida da sociedade anonima teria que se fazer sentir em nome da lei de economia popular.

Donde se infere que tal ata não deve ser fiscalizada ou aproximada do Governo Central, mas divulgada entre nós, de onde a sede não deve sair, para que procuremos aqui mesmo a terapeutica que possa reabilitar a Companhia nos centros vitais do país.

A reconsideração, pois, do ato de transferencia, já aprovado, é norma de boa politica e de defesa propria da Companhia.

A edição seguinte do jornal Folha de Patos, de 25 de fevereiro de 1945, publicou uma nota esclarecedora de um ex-diretor da Companhia Moinhos Minas Gerais S/A:

A propósito de acusações a mim feitas em assembléia geral ordinária da Moinhos Minas Gerais S/A, de 9 de janeiro, conforme publicada em 8 de fevereiro na “Folha de Minas”, devo dizer, apenas:

a) As aperturas financeiras da Moinhos decorrem do fato de haver o senhor Joaquim Magalhães Loureiro adquirido o controle de suas ações para a Cia. de Trigo Nacional a crédito, para ser pago com a própria renda da empresa, que estava improdutiva; bem como ter sido necessário atender-se de pronto a todo o serviço de impostos de 1936 aa 1944, bem como às despesas de escritura das propriedades, em importância aproximada de Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros).
b) Quando esteve em Guaratinga o sr. Joaquim Magalhães Loureiro, em companhia do sr. Luis Brandão Morais Sarmento, foi-lhe exposta a situação financeira premente, em oposição à magnifica situação economica, havendo os mesmos se comprometido a remeter fundos, tão depressa chegassem de regresso ao Rio de Janeiro. Nada remeteram, havendo eu perdido preciosos tempo, à espera de aqueles cavalheiros cumprirem a palavra.
c) Havendo compromissos prementes, alienei um vinte e um avos (1/21) de propriedades, para salvar o todo. Fi-lo mediante excelentes operações, que a atual diretoria não quiz submeter à apreciação do Conselho Fiscal, porque este as aprovaria; operações, de uma das quais é beneficiário um dos signatários da ata.
d) Quanto à alienação de bens imoveis, a explicação é simples. A assembléia da Moinhos é a Cia. de Trigo Nacional, que com seu unico voto tudo decide; a Cia. de Trigo Nacional somos o senhor J. Magalhães Loureiro e eu, que, com os nossos votos, tudo decidimos; e eu era co-diretor da Moinhos e procurador do outro co-diretor, o citado J. Magalhães Loureiro. Assim, a assembléia geral extraordinária de ratificação (cuja realização prévia não chegaria a tempo, em vista à inútil espera pelas formais promessas de Loureiro e Sarmento) não passaria de formalidades, e constituía dever de lealdade a sua convocação, sobretudo considerando-se que, em ata de reunião de diretoria, o sr. Loureiro se declara solidario com todos os meus atos, praticados, aliás, também em nome dele.
e) Quanto ao mais, já me antecipei: já estou acionando a Moinhos, para pagar-me os meus soldos em conta-corrente e conta de vencimentos. A Justiça dirá.
f)A Moinhos não precisa preocupar-se financeiramente, pois é financiada pela Cia. de Trigo Nacional; e esta, para ter numerario, basta constranger legalmente o acionista Luiz Morais Sarmento (atual controlador da Moinhos, através do testa-de-ferro Clovis Valente; os demais signatários da Ata são apenas o que em sociedade anonima se chama “homem de palha”) a integralizar o milhão de cruzeiros de ações que subscreveu e não pagou. O que não se justifica é que, devendo o sr. Morais Sarmento tal importancia, o sr. Loureiro hipoteque ao banco dela, por um milhão e quinhentos mil cruzeiros, um patrimônio de trinta milhões, à custa do qual se pode realizar aquela importancia, sem a menor desvantagem. Há nisso, em parte, um jogo menos limpo; lança-se a empresa em crise provocada artificialmente para aquisição das ações avulsas a baixo preço (na minha gestão, subiram de 500 para 2.500 cruzeiros e eu me neguei aquele jogo).
g) Depois da Assembléia acima referida, mas antes da publicação da Ata, o sr. Loureiro tem insistido, por interpostas pessoas, para aliar-me com ele, contra o sr. Sarmento (prova-se).

São Paulo, 19 de fevereiro de 1945.
Autorizo a publicação, e assumo a responsabilidade: na data supra.

Luís Amaram. (Firma Reconhecida)

* 1: Leia “Vinda da Cia. Moinhos Minas Gerais S/A, A”, “Companhia Moinhos Minas Gerais S/A” e “Trigo de Patos – 1937”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, doada por Donaldo Amaro Teixeira. Publicada em 17/10/2014 com o título “Chapada em 1945, A”. No canto esquerdo inferior os galpões da Companhia Moinhos Minas Gerais S/A.

Compartilhe