COMPANHIA MOINHOS MINAS GERAIS S/A

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0O Professor Otaviano Lapertosa, um italiano entusiasta e que, na sua terra, tinha conhecimento dos bons resultados da cultura do trigo, aqui esteve e, vendo os resultados obtidos nos experimentos da Estação da Cascata, entusiasmou-se e idealizou uma companhia de moinhos em nossa terra. Elemento bem intencionado, tornou-se incorporador da Companhia Moinhos Minas Gerais S/A¹ e lançou à venda ações da mesma. Firmou contrato com a Prefeitura, em 23 de março de 1936, no qual estipulara dois anos, a contar daquela data, o prazo em que deveria ser iniciada a moagem do trigo cultivado no Município, dando o segundo ano o prazo para a montagem dos maquinários necessários. A razão do prazo estava nas exigências indispensáveis a serem tomadas, como o preparo da terra, colheita da sementeira selecionada para o plantio pela própria Companhia e o fornecimento da semente aos interessados na cultura tritícola.

Pelo contrato, a Companhia ficava obrigada a plantar apenas 50 hectares. Para tal, a Companhia adquiriu a Fazenda da Gameleira, de terras não muito boas, para lá iniciar a plantação regular de 18.000 quilos de sementes. Não consultou técnicos para tal empreendimento naquela fazenda e, inadvertidamente, cometeu um erro, de que resultou o fracasso da plantação lá realizada. Enquanto isso, construiu um armazém nos terrenos de sua concessão, na Chapada (hoje, Rua Rui Barbosa esquina com Major Gote), instalando, imediatamente, um imunizador de sementes. Neste interim, foi à Itália e comprou os moinhos da firma “Mecaniche Italiane”, desembarcados no Rio de Janeiro em julho de 1937, tendo custado 165.000 liras (140.000$000). Tal era o interesse do Governo, que deu toda a cobertura e apoio, facilitando ao máximo o êxito do empreendimento. Muito ajudaram os Ministros da Agricultura Odilon Braga e Fernando Costa. Os moinhos foram instalados pelo técnico Mário Gabiani, vindo diretamente da Itália para esse fim, e auxiliado por Giacomo Bizzoto. Começaram a rodar, em caráter experimental, no dia 26 de fevereiro de 1938 e a sua primeira casa de moagem foi solenemente inaugurada no dia 04 de março do mesmo ano, ainda com a característica de ser o primeiro moinho de trigo instalado em território mineiro.

Com o funcionamento da Companhia, a terra ficou mais ainda em evidência, a ponto de receber a visita do cientista italiano Girolamo Azzi, Diretor do Instituto Internacional de Agricultura de Roma e Professor da Universidade de Perugia, que se encontrava no Brasil contratado pelo Governo Federal para orientar a cultura de trigo no País. Aqui chegou no dia 02 de agosto de 1937, acompanhado pelo Dr. Ademar Lopes da Cruz, Diretor da Seção de Química do Ministério da Agricultura, e do Dr. Zolim, técnico do mesmo Ministério. Em uma conferência no salão nobre da Escola Normal, afirmou: “Não conheço terras melhores que as de Patos em nenhum ponto do Brasil”, e, incisivamente: “De todos os pontos que visitei no Brasil, nenhum se me pareceu tão favorável ao desenvolvimento da raça branca como Patos, onde as condições de solo e do clima são magníficas”. Visitou todos os plantios do Município, inclusive os da Fazenda da Gameleira.

No mesmo ano, aqui estiveram os cientistas poloneses Romuald Krzesimowski e Júlio Valeiro Kruszekski, das Universidades de Varsóvia e Paris, e afirmaram que tínhamos possibilidades de produzir o trigo em condições de fazer concorrência ao produto estrangeiro.

Ainda no ano de 1937, o trigo produzido em Patos foi exposto na parte de representação de Minas Gerais, na X Feira Internacional de Amostras da Capital da República, em vistoso mostruário, criação do decorador Massena.

O Ministro da Agricultura, Fernando Costa, tomando conhecimento da nossa triticultura, através duma audiência concedida ao Dr. Moacyr Viana, para certificar-se da verdade mandou três técnicos chefiados pelo Dr. Ademar Lopes da Cruz, grande técnico de solos, os quais examinando asseguram, em relatório, que tudo era realidade e que ainda muito mais poderia ser encontrado no Município de Patos, pois a Mata da Corda era um verdadeiro oásis ainda desconhecido no Brasil. Diante dos fatos, o Ministro prometeu que viria a Patos e mandou que escolhessem as terras para instalar uma Estação Experimental do Ministério da Agricultura. O Dr. Moacyr Viana, em companhia do Dr. Ademar Lopes da Cruz e do Dr. Victor Malma, escolheu a Fazenda do Sertãozinho, onde o Ministro, pessoalmente, instalaria a Estação prometida. Aqui chegara no dia 13 de maio de 1938 para ver de perto o incremento e o cultivo do trigo e deu-nos de presente a Estação Experimental do Sertãozinho.

Já com os moinhos rodando e mandando o nosso trigo transformado em farinha aqui mesmo, pela Panair, para abastecer os mercados do Rio de Janeiro e São Paulo, que passavam por grandes dificuldades e racionamentos causados pela II Guerra Mundial, aqui se realizava a grande “Festa da Colheita”, a primeira, no dia 10 de agosto de 1943, com o objetivo de solenizar, todos os anos, o início da safra do “nobre cereal”. O Ministro Apolônio Sales, não podendo estar presente, enviou como seu representante o Chefe do Serviço de Fiscalização da Farinha, que aqui permaneceu durante oito dias, observando e estudando. Houve ainda representações dos Governos dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. As solenidades constaram de demonstrações práticas nos canteiros de genética e, a seguir, procedeu-se ao início da safra, tendo os presentes verificado o surpreendente rendimento da colheita, superior a 4 toneladas por hectare.

Com a Companhia Moinhos de Minas Gerais S/A produzindo bastante farinha e até abastecendo os mercados do Rio de Janeiro e de São Paulo, maior ainda se tornou o interesse pela exploração de tal comércio em nossa terra. Com a morte do Prof. Lapertosa em 1944, entraram outros a comprar os Moinhos. Aí já era aquela jogatina de compra e venda de ações, para ganhar dinheiro, nunca com a intenção do fundador, que era patriótica e entusiástica, de realizar uma coisa honesta. Venderam ações em Patos e pelo Estado de Minas, chegando a criar a Companhia Nacional de Trigo e foram aumentando as ações, e, quando mais as aumentavam, mais as vendiam, pois o povo entusiasmado com os rendimentos e os lucros possíveis, lançou o seu dinheiro no empreendimento. Vieram outras companhias, piorando cada vez mais a situação, desmoralizando o trigo de Patos. No entanto, a principal delas era a Companhia Nacional do Trigo, que vendeu moinho e tudo mais. Na verdade, A Moinhos Minas Gerais se transformou num balcão de negócios em benefício de seus acionistas, terminando por isso em bancarrota. Foi um grande prenúncio do fim da era tritícola em Patos de Minas.

* 1: Leia os textos “Vinda da Cia. Moinhos Minas Gerais S/A, A” e “Trigo de Patos – 1937”.

* Fonte: Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, doada por Donaldo Amaro Teixeira. Publicada em 17/10/2014 com o título “Chapada em 1945, A”. No canto esquerdo inferior os galpões da Companhia Moinhos Minas Gerais S/A.

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