1.ª FESTA ANUAL DO TRIGO: COMO FOI − 1/3

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Cumprindo o prometido¹, apresentamos hoje a edição especial dedicada á Festa Anual do Trigo, promovida pelo Dr. Moacir Viana de Novais , diretor do Campo Experimental de Patos, Luis Amaral e Joaquim Magalhães Loureiro, diretores da Moinhos Minas Gerais S/A e Companhia de Trigo Nacional.

Quer os promotores, quer a sociedade local devem ter ficado satisfeitos, de tal modo tudo correu brilhantemente, de tal modo regressaram impressionados os visitantes que honraram Patos com sua presença. Nossa cidade e nossa região estão igualmente satisfeitas, pois estiveram na berlinda durante vários dias, e ganharam otimos e entusiastas propagandistas − todos quanto aqui estiveram. Aliàs, em telegrama a seu companheiro de diretorias, dr Luis Amaral, o dr. Joaquim Magalhães Loureiro comunicou ter mantido longa entrevista com o dr. Apolonio Sales, logo ao regressar daqui, tendo notado seu entusiasmo e colhido sua formal promessa de um grande interesse pela imediata construção da estrada de ferro, mais do que nunca indispensavel à vasão das safras agrícolas de nossa terra e da região de que è Capital. Seja este o primeiro fruto do movimento que sacudiu Patos durante alguns dias. Outro, será a bela, a brilhante pena que desde então se colocou a serviço de nossa cidade: o dr. Milton Pedrosa, ilustre jornalista e escritor, que regressou lastimando não poder alongar sua estada aqui, e que daqui mesmo começara a enviar á imprensa suas impressões entusiasticas.

Passemos, porem, ao relato da Festa Anual do Trigo:

Um convite audacioso

A várias autoridades federais, estaduais e municipais, bem como a várias personalidades do país, os senhores Moacir Viana de Novais, diretor do Campo Experimental de Patos e Luis Amaral, presidente da Moinhos Minas Gerais S/A e diretor-gerente da Companhia de Trigo Nacional dirigiram em 25 de maio do corrente ano o seguinte convite:

“Convidamos Vossa Excelência a estar presente ao início da segunda safra de trigo do corrente ano, no dia 10 de agosto.

Não se faz convite para safra do trigo plantado em fevereiro, porque já está praticamente no saco. Faz-se convite com dois mêses e meio de antecedência para o trigo plantado em abril, com o seguinte objetivo:

Demonstrar a confiança absoluta na triticultura desta região; provar seu carater eminentemente científico, pois não nos desculparemos com falta de chuva, com muita chuva (esse trigo não conheceu ainda uma gota de agua pluvial), com praga, com cousa alguma. Ao contrario, predeterminamos o dia do inicio da safra, e garantimos o rendimento de três mil quilos por hectare (no Canadá, o rendimento é de 920 quilos por hectare; na Argentina, de 800). Nos canteiros de genetica se mostrarão quase todas as molestias especificas do trigo; nas culturas, ao lado, nenhuma será encontrada.

Patos tem otimo campo de aviação, sendo ponto de escala semanal da Panair do Brasil. Pode-se vir e voltar no mesmo dia.

Não prepararemos festa alguma para Vossa Excelencia, alem do “fervet opus” vergiliano; alem da festa, que deve ser, a demonstração concreta de que DÁ TRIGO NO BRASIL”.

Em termos mais ou menos iguais, foi publicado outro CONVITE AOS DESCRENTES, no “Correio da Manhã”, no “O Jornal”, no “Estado de São Paulo”, na “Folha de Minas” e em varios outros prestigiosos orgãos da imprensa brasileira.

E uma forte reação

Foi grande, como não poderia ter deixado de ser, a reação a esse convite, documentador da confiança absoluta na obra cientifica que o Governo de Minas Gerais, pela sua Secretaria da Agricultura, vem realizando silenciosamente neste abençoado rincão, onde seu técnico, Moacir Viana de Novais, é por todos acatado, pela sua dedicação, bem como pelos resultados conseguidos, os quais são completos, cabais, quer quanto à aclimatação de variedades imunes a pragas, e precoces, quer quanto ao elevado rendimento por hectare.

Toda a imprensa brasileira glosou largamente o CONVITE AOS DESCRENTES. Alguns jornais acentuaram que, depois dele, os que porventura continuassem negando as possibilidades da triticultura no Brasil estariam fazendo − consciente ou inconscientemente − o jogo de algum “trust” estrangeiro interessado no ponto de vista contrario, ou traindo mentalidade igual à dos que, trinta anos passados, clamavam que o Brasil era país improprio à cultura do arroz.

Interventores, diretores de associações econômicas prestigiosas, anônimos leitores de jornais, centenas de pessoas se manifestaram entusiasticamente, testemunhando aos invitantes a confiança despertada tão só pelo convite, independentemente da realização da prova.

A prova

Como se viu, o convite foi feito com dois mêses e meio de antecedência, e não se repetiu, nem foi relembrado. Todavia, na data marcada a cidade de Patos esteve em reboliço.

Na vespera, os senhores Moacir Viana de Novais e Luis Amaral receberam honroso radiograma do senhor Governador Benedito Valadares, justificando sua ausência e fazendo-se representar pelo prefeito municipal, senhor Clarimundo José da Fonseca Sobrinho. O senhor Herbert Moses, presidente da Associação Brasileira da Imprensa, e Cândido Mota Filho, diretor-geral do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda do Estado de São Paulo, enviaram-lhes ofícios cheios de deferências.

O dr. Marques dos Reis, presidente do Banco do Brasil, representou-se pelo senhor Americo da Silva Oliveira, gerente local. A Sociedade Nacional de Agricultura, pelo dr. Luis Amaral; a Academia de Ciencias de Minas Gerais, pelo dr. Antonio Carneiro Maciel. E’ de destacar-se a presença do dr. Alvaro Barcelos Fagundes, diretor do Instituto de Experimentação Agricola, representado pelo dr. Helio Raposo, diretor da Estação Experimental do Sertãozinho. Não tendo podido comparecer, exprimiram-se de maneira cativante, o dr. Paulo de Lima Correia, Secretario da Agricultura de São Paulo; o dr. João Daudt de Oliveira, presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro; o dr. Manoel Ribas, Interventor Federal no Paraná; o dr. Roberto Simonsen, presidente da Federação das Industrias do Estado de São Paulo; a Sociedade Rural Brasileira; a Associação Comercial de Minas Gerais; o senhor General Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional do Petroleo, etc.

De São Paulo vieram: dr. Joaquim Magalhães Loureiro, diretor-tesoureiro da Moinhos Minas Gerais S/A e da Companhia de Trigo Nacional; dr. Manoel Penino, advogado e fazendeiro; senhor José Luis Guerreiro de Barros, industrial e comerciante. De Belo Horizonte, o dr. Milton Pedrosa, ilustre intelectual, procurador-geral da Moinhos. De Uberlândia: Menoti Badan, grande negociante e comprador de diamantes; Lazaro Mendes da Costa, cerealista e fazendeiro; Adriano Bailoni, capitalista e criador; Honorio Novais Sales, negociante por atacado em larga escala; Vitalino Resende do Carmo, negociante por atacado e fazendeiro; Coronel Luis Alves Pereira, grande criador e fazendeiro; Anibal Xavier e Constantino Iani, inspetores da Companhia de Trigo Nacional; Mario Pereira de Resende, negociante e fazendeiro; Paulo de Castro Vieira, negociante. Esteve presente, como convidado especial, o dr. Adelardo Baeta Neves, prefeito de Presidente Olegario.

Se tentássemos a nominata de todas as pessoas de Patos, que estiveram na Cascata, assistindo a prova, incidiríamos sem dúvida em omissões numerosas, porquanto a população local se deslocou para lá, ocupando, durante o dia todo, todos os veículos possíveis de mobilizar-se, inclusive três jardineiras que, desviadas de suas linhas habituais, trafegaram somente entre o Campo Experimental e a cidade. Declinaremos, todavia, os nomes das autoridades presentes:

Senhor Clarimundo Josè da Fonseca Sobrinho, prefeito municipal e representante do senhor Governador Benedito Valadares; senhor Adelardo Baeta Neves, ilustre prefeito municipal de Presidente Olegario; dr. Aristides Alves Pereira, Juiz de Direito da Comarca; dr. Oliveiros Marques de Oliveira, promotor público; sr. Josè Antonio, coletor estadual; sr. Jose Tomaz de Magalhães, coletor federal; Major Edmundo Dias Maciel, delegado de policia; sr. Amèrico da Silva Oliveira, gerente local do Banco do Brasil e representante do senhor Marques dos Reis, presidente do mesmo Banco; sr. Moacir Machado, gerente do Banco do Comercio e Indústria, dr. Jonas de Bessa, gerente do Banco da Lavoura; sr. Galileu Guedes, do Banco Hipotecàrio e Agricola; prof. Aguinaldo Magalhães Alves, diretor da Escola Normal; sra. Celcídia Alves Tibùrcio, diretora do Grupo Escolar; sr. Josè Caixeta Frazão, inspetor do Ensino; d. Gení Luisa de Faria, chefe da Agencia dos Correios e Telegrafos; dr. Paulo Brandão, diretor do Hospital Regional; Olavo e Rui Amorim, diretores da ZYB-4, Ràdio Clube de Patos; Renato Dias Maciel, diretor da “Folha de Patos”; prof. Mário Frância Pinto, Inspetor do Ensino; dr. Antônio Carneiro Maciel, Chefe do Posto Mèdico, e representando a Academia de Ciencias de Minas Gerais; dr. Hélio Raposo, diretor da Estação Experimental de Sertãozinho, do Ministerio de Agricultura, e representando o dr. Alvaro Barcelos Fagundes, diretor do Instituto de Experimentação Agrícola. A Sociedade Nacional de Agricultura fez-se representar pelo dr. Luis Amaral.

* 1: Leia “1.ª Festa Anual do Trigo: Anunciação”, “1.ª Festa Anual do Trigo: Preliminares”.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Festa Anual da Safra” na edição de 22 de agosto de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Início do teto original.

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