ALOPECIA PSICOGÊNICA FELINA

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A alopecia psicogênica em felino, também chamada de tricotilomania, trata-se de uma psicodermatose, ou seja, distúrbio comportamental no qual fatores psicológicos e emocionais acarretam manifestações cutâneas. Pode se manifestar por comportamentos repetitivos como lambedura excessiva, desencadeando alopecia autoinduzida; ou de comportamentos bizarros, como automordedura, autotraumatismo e até mesmo automutilação de patas, unhas e cauda. Estes comportamentos são decorrentes de um conflito, ou frustração, que fazem com que os animais permaneçam em um estado de contínuo de ansiedade e estresse. Estes comportamentos repetitivos, sem propósito e prejudiciais instalam-se como um mecanismo de alívio da ansiedade e do estresse, provocados pela condição perturbadora que o animal não consegue resolver. Fatores ambientais como mudança no ambiente, doenças, cirurgias, mudança de rotina, mudança no convívio com outros animais e pessoas, tédio, competição com outros animais, confinamento, aglomeração, estímulos inadequados, são todas situações potencialmente deflagradoras de dermatite psicogênica. São condições consideradas raras, compreendendo cerca de 3% das dermatopatias em felinos, podendo ser confundida com outros quadros dermatológicos primários que cursam com lambedura excessiva, como a alergopatias e doenças parasitárias, nas quais a lambedura excessiva é uma manifestação de prurido.

A falha de pelo ocorre quando o gato se lambe com intensidade, mas não o suficiente para lesionar a pele, que em geral se encontra íntegra, sem sinais de inflamação. A falha de pelo pode ser completa (alopecia flanca), ou um quadro de hipotricose, onde os pelos estão curtos devido à quebra autoinduzida. A alopecia pode ser localizada, multifocal, apenas em uma região corpórea ou generalizada. A alopecia auto induzida pode ocorrer em qualquer parte do corpo em que o gato consiga lamber, sendo mais frequentemente observada na face interna dos membros anteriores e posteriores, flanco, região inguinal, perineal e abdome, podendo apresentar-se de forma simétrica e bilateral. Pode ocorrer mudança na coloração do pelame remanescente decorrente da saliva. Devido a lambedura excessiva, pode ocorrer aumento da ingestão dos pelos, aumentando a frequência de vômitos de pelos, e destes nas fezes, podendo gerar constipação.

O tratamento é difícil e contempla a alteração do ambiente, do comportamento e o emprego de fármacos psicotrópicos. A modificação do ambiente passa pela identificação, e se possível, correção e eliminação dos fatores geradores do conflito/frustração/ ansiedade do animal. A modificação comportamental visa ensinar o animal a lidar com a situação conflitante de forma apropriada, o que pode ser feito por técnicas de alteração de comportamento como: dessensibilização sistemática, contracondicionamento, reforços de comportamento apropriados e desestimulação de comportamentos inadequados, técnicas estas utilizadas conforme a particularidade de cada caso. Por fim, o emprego de fármacos psicotrópicos visa interromper o comportamento obsessivo-compulsivo, e deve ser considerado como coadjuvante, sendo prescritos por período temporário, até que as modificações do ambiente e/ou comportamentais possam ser realizadas. Para o sucesso do tratamento, é essencial comprometimento do proprietário na correção dos fatores ambientais e comportamentais dos felinos, caso contrário, o problema pode persistir mesmo com manipulação farmacológica, ou pode recidivar e até mesmo evoluir para novos comportamentos inadequados após a suspensão dos fármacos psicotrópicos.

* Fonte: Texto de Camila Domingues, Especialização em Dermatologia Veterinária FMVZ/USP. Mestre em Ciência Animal FMVZ/USP. Doutora em Ciência Animal FMVZ/Unesp Botucatu. Sócia-Fundadora da UniCare Vet Especialidades Veterinárias. Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária. Publicado em dermatologiavetemfoco.com.br (24/09/2020).

* Foto: Natucate.com.

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