Diabetes Mellitus é uma das doenças endócrinas mais comuns em pequenos animais, caracterizada por altas concentrações de glicose no sangue (hiperglicemia) e na urina. Geralmente requer tratamento com insulina por toda a vida. Quando não tratada, esta enfermidade pode trazer sérios problemas para a saúde dos felinos, como fraqueza nos membros, má nutrição, desidratação e morte. A doença atinge 1 em cada 400 gatos e sua prevalência vem aumentando. Por outro lado, a taxa de mortalidade caiu consideravelmente de 40% para menos de 10%, indicando que o diagnóstico precoce e o tratamento estão sendo mais efetivos. Acredita-se que a maior incidência desta doença em felinos se deva à ocorrência dos fatores considerados de risco, como obesidade, inatividade física e aumento da longevidade. Os mais acometidos são machos castrados, com sobrepeso (peso médio de 5,6 kg) e idosos (cerca de 10 anos). As raças mais predispostas são o Maine Coon, o doméstico de Pelo Comprido, o Azul da Rússia, o Siamês e o doméstico de Pelo Curto.
Pode ser classificado em três tipos: Tipo 1 (insulina dependente), Tipo 2 (não insulina dependente) e Tipo 3 (diabetes secundário). O diabetes tipo 1 caracteriza-se pela secreção muito reduzida ou ausente de insulina. No diabetes tipo 2, a secreção de insulina geralmente é suficiente, mas não impede a hiperglicemia. O diabetes tipo 3 é secundário à doença primária ou terapia que induza resistência à insulina. Ocorre em gatos com hipertireoidismo (aumento do volume da tireoide), acromegalia (doença crônica provocada por uma disfunção da glândula pituitária e que se caracteriza pelo crescimento anormal das extremidades do corpo) e pancreatite.
Os sintomas estão relacionados à hiperglicemia. Iniciam-se com poliúria (eliminação de grande volume de urina num dado período), polidipsia (sede excessiva), perda de peso, polifagia (excesso de fome), letargia, e raramente catarata, pois os felinos possuem diferenças no metabolismo da glicose no cristalino. Nos casos complicados pode evoluir para anorexia (falta de apetite), depressão, taquipnéia (aceleração do ritmo respiratório), vômito, desidratação, hálito cetônico (odor característico bastante similar ao de frutas envelhecidas) e coma. Podem ainda ser observados pelame em más condições, desidratação moderada, nefromegalia (aumento do volume dos rins), hepatopatia (qualquer moléstia do fígado) e icterícia. Um sinal clínico menos comum que ocorre é a posição plantígrada, na qual o animal anda com os jarretes tocando no chão. Este quadro é causado por uma neuropatia (doença do sistema nervoso) periférica, também chamada neuropatia diabética.
O diagnóstico dá-se pelo histórico, sinais clínicos e achados laboratoriais. O objetivo principal da terapia é alcançar um controle adequado da glicemia (taxa de glicose no sangue) para eliminar a poliúria (urinar em excesso) e polidipsia (sede excessiva) causadas pela hiperglicemia (altas concentrações de glicose no sangue). O tratamento inicial deve compor-se de controle dietético e incorporação de atividade física em gatos sedentários. Posteriormente, deve ser instituída a terapia com hipoglicemiantes (que ou o que atua no sangue reduzindo a concentração de glicose) orais ou insulina injetável.
A dieta de felídeos selvagens é composta por menos de 10% de carboidratos, diferindo bastante das rações comerciais para gatos, onde o teor de carboidratos é elevado. Uma dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas permite melhor controle clínico e elevadas taxas de remissão da doença. O teor proteico recomendado é mais de 45% de proteína/energia metabolizável e níveis reduzidos de carboidratos. A redução de peso deve ser fortemente incentivada em felinos com sobrepeso. O alimento deve estar disponível durante todo o dia, porém faz-se necessário um controle do volume de ração administrada para que o paciente não recupere todo o peso anterior. As reavaliações são essenciais durante o manejo em longo prazo. Nos felinos, a supervisão rigorosa é muito importante durante os primeiros meses, em virtude da possibilidade da remissão diabética.
Na maioria dos felinos, o diagnóstico imediato de diabetes deve possibilitar a realização de tratamento satisfatório. No entanto, a avaliação inicial não deve apenas esclarecer a gravidade da doença, mas também pesquisar por quaisquer doenças concomitantes ou fatores predisponentes. É recomendável a instituição imediata do tratamento após o diagnóstico, sendo possível a estabilização adequada de grande parte dos gatos nos 3 primeiros meses de terapia. Entretanto, é importante mencionar que a remissão ocorre em até 50% dos gatos. As reavaliações periódicas são essenciais, devendo incluir a determinação dos sinais clínicos e do peso corporal, a elaboração de curva glicêmica e a mensuração da frutosamina (enzima derivada da ligação enzimática da glicose com proteínas presentes no plasma sanguíneo, como a albumina. O exame que mede o índice desta enzima é particularmente útil para o controle metabólico de portadores de diabetes mellitus). O gato diabético deve ser monitorado ao longo de sua vida com visitas periódicas à clínica veterinária, para certificação de que os níveis séricos de glicose encontram-se dentro do esperado. O ideal é que dieta e exercícios físicos perdurem por toda a vida do animal, mesmo que os níveis de glicemia estejam normalizados e o tratamento insulínico tenha sido suspenso pelo Médico Veterinário. A limitação econômica e dificuldade dos proprietários na adesão ao tratamento é uma barreira a ser enfrentada.
* Fonte: Diabetes Mellitus em Felinos (2013), de Christiane Nunes dos Santos. Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, Fundação Educacional Jayme Altavila, orientada pelo Prof. M.Sc. Renê Darela Blazius.
* Foto: Vetlaranjeiras.com.