Nunca uma pergunta do Claudinho tinha causado tanto alvoraço aos pais Hermes e Geraldina. Claudinho, filho único, cinco anos de idade, garoto muito do inteligente que adora brincar no extenso quintal da residência do casal no Bairro Lagoa Grande. Por sinal, um dos poucos quintais extensos remanescentes nos bairros centrais da Cidade. A pergunta? Certo dia, durante o almoço, o Claudinho, sem mais nem menos, lascou essa:

– Papai, mamãe, como é que é o lúvio, será que vou gostar?

Os dois geradores do Claudinho não entenderam bulhufas, e para não passarem a ele que não tinham a mínima noção do que era lúvio, responderam que sim, que ele ia adorar. Assim, o filhinho se acalmou e tratou de saborear o almoço. Mas o Hermes ficou encucado com aquela palavra e resolveu pesquisar sobre ela. Descoberto o sentido da dita, chamou a Geraldina:

– Amor, veja o que a Wikipédia fala sobre o lúvio: lúvio ou luvita faz parte do ramo das línguas anatólias, atualmente extintas, da família linguística indo-europeia, está intimamente ligado às línguas hitita e palaica, faladas por grupos populacionais nos chamados Estados neo-hititas, a Sudoeste, a Sul e a Sudeste da área central do Império hitita.

– Êpa, que trem esquisito é isso, Hermes, onde o Claudinho com cinco anos de idade foi saber disso?

– E os dicionários dizem que também exprime a noção de lavagem.

– Gente do céu, onde o menino foi aprender isso?

Resolveram então convocar o garoto para as devidas explicações sobre o onde ele aprendeu aquela palavra:

– Filho, você nos perguntou se ia ou não gostar de lúvio. Conta pra gente o que você sabe sobre esse tal de lúvio?

– Papai, eu nunca experimentei um lúvio, será que vou gostar? Quando é que o senhor vai plantar?

– Filho, plantar lúvio não existe, porque lúvio não tem nada a ver com plantas.

– Filho, fala pra mim, onde você ouviu falar sobre plantar lúvio? – perguntou chorosa a mamãe.

– Uai, mamãe, foi o papai que falou.

– Eeeuuuuuu?

– Foi, papai, o senhor disse que ia plantar aqui um pé de lúvio.

Matada a charada. Eis que o Hermes, conversando com a Geraldina sobre o Covid-19, considerou legal implantar um pedilúvio¹ na casa. Vai daí que o esperto Claudinho entendeu plantar um pé de lúvio. Entendidos?

* 1: Na entrada dos currais de ordenha, é uma piscininha rasa contendo uma solução de desinfetante que tem o objetivo de desinfetar a pele próxima ao casco e o casco propriamente dito do animal. Em tempos de Covid-19, tem-se usado muito o tapete pedilúvio para higienização dos calçados.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.