Domingo de tarde. A pobre adolescente, espiritualmente, pois o pai é um arquiteto que já projetou várias construções aqui em Patos de Minas e por causa disso não tinha nada de pobreza dinheiral e mora numa bela casa lá pras bandas da Avenida JK, queria ir ao Pátio Central Shopping. Estava programado para as quatro um parabéns pra você entre algumas amigas. O relógio marcava 3 e 47. Acontece que papai, vou chamá-lo de Juca, estava de prontidão frente à TV para assistir ao maior clássico do planeta, que é Cruzeiro x Atlético, e que estava prestes a ter o apito inicial. Ele, cruzeirense roxo, não queria perder um único segundo. Juca, então, se negou a levar a sua cria ao centro comercial. Como mamãe não dirigia, a menina quase entrou em estado de convulsão. Logo depois foi a vez do Juca quase entrar em estado de convulsão, pois mamãe resolver chamar um táxi. Aquilo doeu forte no engenheiro. Compaixão? Que nada, o sujeito é um sovina tremendo e raciocinou rápido que se fazendo de motorista o custo seria menor. Então foi num pneu e voltou no outro.
Enquanto a filha se divertia com as amigas, Juca já tinha roída as dez unhas das mãos e já estava partindo pra roer as dos pés quando a filha ligou pedindo para buscá-la. Estava no comecinho do segundo tempo do jogo. Juca não queria ir. A mãe avisou que as amigas já tinham ido embora e a filha estava sozinha. E o Juca decidido a só ir depois de terminada a partida. A mulher ameaçou enviar um táxi. Nisso o Atlético faz um a zero. Ô caos! Marido e mulher entraram numa discussão tremenda, o jogo disputadíssimo, até que a esposa venceu. Revoltado por perder o final do jogo, principalmente porque o Cruzeiro virou para 2 a 1, por vingança o Juca saiu com a roupa que estava e chegou à praça de alimentação de pijamas. Foi um vexame para a garota que, hoje, empresária de confecção, mantém certa distância do pai.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.
