As máquinas vieram e em dois dias apenas, sob um sol escaldante e muita poeira, transformaram a minha semelhante em um monte de escombros, que, sem dó nem piedade, foi despejado em um aterramento qualquer. Depois, outras máquinas cavaram fundo o espaço onde ela se assentava sobre o solo. Como saúvas robóticas, homens foram construindo paredes de concreto nas bordas da cratera. E de dentro dessa cratera, as paredes subiram, não como Babel, mas firmando-se no objetivo programado de alimentar o progresso devorando o passado. Assim, surgiu mais um edifício no meu entorno¹. Apenas mais um, porque é só o início de um moto-perpétuo. Assim, a cada simples e humilde trator que passa por mim em sua indiferente rota, sinto arrepiar minhas paredes. Um caminhão carregando caçamba é o suficiente para minhas portas e janelas tremerem. Junte-se a isso, está presente a indiferença, esta sublime e majestosa fórmula cósmica de desprezar algo ou alguém, por parte daqueles que atualmente me habitam. Lavaram as mãos e os pés com confete e serpentina, o corpo com terebentina e a consciência com lança-perfume. Lá vem um caminhão carregando algumas unidades de tapume metálico. Serão para mim? Que sejam, minha alma está com sono. Nos anais de Patos de Minas, lá estou presente. Quando o meu sono findar e me levar para a eternidade, aqui nessa terra deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Cônego Getúlio com sua colega Rui Barbosa, no Bairro Cônego Getúlio.
* 2: Texto e foto (19/08/2020): Eitel Teixeira Dannemann.