QUANDO JOAQUIM FUBÁ RESOLVEU ABRIR UMA CONTA BANCÁRIA

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O patense Joaquim Gonçalves Caixeta nasceu em 20 de março de 1895 e faleceu em 02 de julho de 1980. Em seus oitenta e cinco anos de vida tornou-se figura popularíssima através de sua cantorias, versos e rimas, sempre com o apoio de sua sanfona de oito baixos. Além, era um artista na fabricação de carros de boi. E ainda mais além, os mais antigos dizem que, às margens do Córrego do Monjolo, fabricava o melhor e mais refinado fubá da região. Tão bom que o fabricante recebeu a carinhosa alcunha de Joaquim Fubá.

Como todo ser humano, ele tinha algumas manias. Uma delas era não acreditar em instituições bancárias, e com isso todo o dinheiro que ele arrecadava em suas negociações era secretamente guardado num pequeno cômodo cuja porta era escondida por um armário. Um amigo de fé vivia insistindo para que ele abrisse uma conta num dos bancos da Cidade. E esse amigo insistiu tanto que um dia Joaquim Fubá resolveu abrir uma conta num banco. O escolhido foi o Banco da Lavoura, que funcionava na Rua Major Gote, entre sua colega General Osório e a Praça Antônio Dias¹.

Encheu de dinheiro quatro sacos de linho que usava para estocar fubá, embarcou-os na carroça e com a roupa de trabalho foi até a agência. Entrou e pediu para falar com o gerente, que não o conhecia, e quem passava pela carroça nem imaginava o tanto de dinheiro tinha naqueles sacos. O gerente, quando reparou nas características vestimentas molambentas salpicadas de fubá do Joaquim, não lhe deu atenção. Mas o Joaquim tanto insistiu que, mesmo constrangido, o gerente resolveu atender o homem:

– Um amigo meu me convenceu a guardar meu dinheiro num banco. Sei lá porque, escolhi esse aqui.

O gerente, surpreso, reparando naquele tipo que não aparentava ter dinheiro para abrir conta em banco, perguntou:

– Quanto o senhor pretende depositar?

– Não tenho a mínima ideia, nunca contei o meu dinheiro − respondeu o Joaquim.

– Como assim? O senhor vem aqui para abrir uma conta e não sabe o quanto vai depositar? Ora meu senhor, isso aqui não é brincadeira não, tenho ainda muito serviço a fazer, dá licença.

Ouvido o pouco caso, o Joaquim Fubá buscou os quatro sacos, foi abrindo e despejando a dinheirama na mesa do gerente. Terminado o último, disse com ar sério:

– Taí, seu moço, pode começar a contar.

Entre espantado e envergonhado, o gerente chamou dois funcionários para estabelecer o montante daquela grana, muita grana, e depois desse dia nunca mais deixou de dar atenção a quem quer que fosse.

* 1: Leia “Dez Bancos de Antigamente”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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