DEIXAREI SAUDADE − 164

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Eram muito mais simples do que eu as duas casinhas que sem misericórdia alguma foram postas ao chão para que a modernidade erguesse esse edifício ao lado¹. Acompanhei tudinho, desde a poeira da destruição, passando pela colocação dos tapumes, as primeiras paredes levantadas até a ocupação dos primeiros moradores. O lá de trás eu não quis acompanhar por total falta de vontade, assim como todos os outros que já surgiram e os outros que já estão surgindo por aqui. É um caminho sem volta, é o final de todas nós, muitas mais humildes do que eu. Meu construtor já se foi, voltou ao pó da terra. Meus atuais ocupantes não dão sinais sobre o meu futuro. E precisa com tantos exemplos? O que me torna ainda serena da situação é saber que meu construtor não teve vida eterna, assim como fiquei sabendo que um de seus semelhantes não muito longe daqui foi-se por causa de um tal de Covid-19. Sei lá o que é isso, mas se meu construtor não teve vida eterna, se nenhum humano tem vida eterna, por que eu, um simplório imóvel, teria? Eu surgi graças a ele, e se ele que me ergueu sucumbiu, quem sou eu para imaginar a imortalidade. Seja breve, tempo, seja bondoso comigo e trate logo de me inscrever na História de Patos de Minas. Quando o pó de minha demolição subir aos céus como névoa, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Zeca Filgueira entre suas colegas Sargento Deolindo e Bernardino da Rocha, no Bairro Nossa Senhora das Graças.

* Texto e foto (18/04/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe