PAI DURÃO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

– De jeito algum, Mariana, sou do tempo do dentifrício Kolynos, do Kichute, das balas Soft, do Glostora e do guaraná Zago, e essa modernidade eu não aceito mesmo.

Foi assim que o Alcides reagiu quando a filha de 16 anos lhe informou que ia à festa de aniversário do namorado na fazenda do pai dele no distrito de Pilar e que ia dormir por lá. Emburrada, trancou-se no quarto. Como de praxe, veio a mãe fazer aquela famosa contemporização em prol da filha. De nada adiantou, pois o Alcides se manteve irredutível, dizendo que jamais permitiria que sua filha se enfurnasse no mato com o namorado que, por sinal, nem conhece.

Zuleide, a mãe, não perdeu a oportunidade para arranjar um encontro entre os dois antes da festa de aniversário, o que muito alegrou a sirigaitinha, sapeca demais da conta. E esse encontro se deu no lar da ninfeta. Na sala, depois das apresentações, o paizão deu início ao papo com a mais notória das perguntas:

– Então, Maurício, qual a sua intenção com a minha filha?

Como o rapaz não tinha intenção alguma com ela além dos costumeiros relas-relas apimentados e muito aprofundados e vice-versa, mesmo assim franziu a tez e na maior cara de pau respondeu:

– Seu Alcides, mesmo tão jovens, eu e sua filha estamos namorando sério e já fazendo planos para o casamento logo depois de formados.

De repente, Seu Alcides lascou essa:

− Meu jovem, se você fosse mulher casaria com um tipo que nem você?

Percebendo a inquietude do jovem, Zuleide chamou o marido para terminarem os quitutes na cozinha. E lá na sala, ficaram os dois, por uns quinze minutos sozinhos envoltos em suas fervuras. Então, eis que chega o Alcides com um prato de petiscos. O Maurício prova e lambendo fartamente os dedos elogia:

– Seu Alcides, que delícia de bolinho de bacalhau.

A resposta do ex-futuro sogro veio imediata:

– Seu moleque safado, isso é bolinho de arroz e não bolinho de bacalhau.

Custou um tempão para a Zuleide entender o porquê o Maurício confundiu bolinho de arroz com bolinho de bacalhau. O que aconteceu depois? Ora, o Sérgio, o novo namorado, não cometeu o mesmo erro. Isso antes do engravidamento da Mariana.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

Compartilhe