Bem antes do Covid-19, duas amigas de infância, solteiras naquela época, tinham por hábito após o trabalho apreciar uma cerveja gelada em alguns botecos da Cidade, sendo um deles na Rua Major Gote, outro na Rua da Mata, mais um no Bairro Sobradinho, ainda outro na Avenida Paracatu, aquele também no Caramuru e até um na Praça Champagnat. Tem outros, pois o rodízio era tremendo, naquela de não se tornarem manjadas. Era questão de pouco mais de uma hora, tempo suficiente para colocarem os assuntos em dia e, preferencialmente, fazerem muitas orelhas esquentarem Município afora. Certa vez, começaram o papo falando de uma das colegas de trabalho de um banco na Rua Major Gote:
– A Geruza me contou que a Marlinda procurou um conselheiro matrimonial. Tadinha, estava perdida e sem saber o que fazer, pois apesar dos dois terem os mesmos gostos e se amarem, ela sentia um vazio tremendo quando ele viajava e passava a semana fora.
– Uai, sá, não sabia que a Marlinda gostava tanto assim do maridão.
– Foi nesse pensamento que o conselheiro disse que os dois formavam um par saudável e por isso não entendia o porquê ela estava tão ansiosa. Sabe o que ela respondeu? Arrá, amiga, ela disse que a ansiedade dela era porque não estava encontrando coragem para contar tudo ao marido.
Papo vai, papo vem, uma delas insinuou, ou melhor, afirmou:
– A Cremilda é mesmo danadinha, tão danadinha que vai conquistando tudo o que quer. Viu a casa que ela comprou no Copacabana? Como pode, amiga? E viu a academia de ginástica que ela está montando, coisa chique, só aparelho de primeira. Trem mais esquisito, sô.
– É, amiga, tem angu nesse caroço.
– Ora, minha amiga, isso é muito fácil de explicar. Quer saber a realidade? Tá na cara: ela sabe muito bem mexer com os pauzinhos.
– Menina, e num é que a Virgínia, com o cabelo mais preto que carvão, com casamento marcado pro mês que vem, encontrou um fio de cabelo louro na cueca do futuro maridão?
– Urra, conta, conta…
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.