Duas irmãs, Valfrida e Soraia, foram visitar o túmulo dos pais no Cemitério Santa Cruz. Era bem cedo, pouco depois das sete da manhã de um dia carregado de nuvens negras só esperando o sinal adequado para precipitarem sobre os patenses. E ela não demorou muito a cair. Havia dez pessoas no local, que imediatamente se refugiaram naquela parte coberta do portão principal da Rua Vereador João Pacheco. Dentre elas, uma senhora idosa aparentando uns 70 anos, chamou a atenção das irmãs pela elegância no trajar e nos modos. Logo deu-se início a um bate-papo agradável entre as três mulheres, fazendo-as esquecer por instantes que estavam na casa dos mortos.
De repente, a senhora se despediu, sem mais nem menos, dizendo que precisava se retirar para conferir se seu marido estava precisando dela. No mesmo instante a chuva aumentou de intensidade. As irmãs tentaram convencer a mulher a esperar a chuva passar, mas em vão. Lá se foi ela no meio do aguaceiro, garbosa, sem se importar com a intempérie da natureza, até parecendo que seu corpo não se molhava. Foi o suficiente para provocar suspiros de comoção naquela gente, principalmente quando a elegante mulher se ocultou atrás de um alto túmulo revestido de mármore.
Mal a chuva parou, as pessoas se dispersaram cochichando sobre o acontecido, mas as irmãs não resistiram à curiosidade e foram até o tal túmulo. Quando chegaram lá, que susto tremendo: estava na lápide a foto da elegante senhora que há pouco conversava com elas. Soraia e Valfrida nem mais se lembraram dos pais, saindo às pressas sem olhar para trás, não dando tempo de ouvir o comentário de um antigo funcionário dizendo para não ter medo daquela senhora porque ela não incomoda os vivos. Quanto ao túmulo, ele fica no setor B, terceira rua. Vai conferir?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.