TIRO CERTEIRO! OU NÃO?

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Nos idos tempos campeava pelo nosso Cerrado o cervídeo Mazama gouazoubira. Muito conhecido pelo nome de Veado-Catingueiro, foi deverasmente caçado até se extinguir na nossa região. Mesmo antes da extinção, seu habitat por nossas bandas já era conhecido por Mata do Catingueiro. Quando a Cidade começou a pressionar ardentemente a castigada mata, os ditos cervídeos já não mais existiam por lá. Restou uma ínfima lembrança vegetal que as autoridades competentes resolveram preservar. Obviamente, como de costume, sem resultados positivos¹.

Voltando ao tempo de abastança do Mazama gouazoubira, um fazendeiro dono de grande extensão de terras naquela região era conhecido como exímio caçador e tinha fama de jamais e em tempo algum errar um tiro. E sua caça preferida era qual? O fatídico Veado-Catingueiro. Dizem os mais antigos que ainda se lembram um pouquinho que ele foi um dos principais dizimadores daquele cervídeo.

Certo dia, o fazendeiro-matador-de-mazamas recebeu a visita de um amigo. Ao chegar, não deixou de reparar um belo exemplar do cito animal prostrado na entrada do alpendre da casa com um buraco de bala no crânio. Conhecendo a fama do amigo de nunca errar um tiro, reparou noutro buraco de bala numa pata traseira do veado. Veio um tradicional encucamento:

– Uma bala na cabeça e outro na pata? Uai, você, pela primeira vez na vida, errou o primeiro tiro?

O bão de pontaria franziu o semblante e não conseguia explicar ao amigo o motivo dos dois tiros. O interrogatório prosseguiu e o caçador não encontrava um jeito de explicar ao amigo os dois tiros. O outro, mais do que normal, já estava com a certeza de que o famoso fazendeiro já não era tão bom assim na arte de atirar. E foi nesse momento que a esposa resolveu salvar o marido de não perder a fama de jamais ter errado um tiro:

– Uai, marido, conta logo porque os dois furos.

– Uai esposa − replicou o marido sem entender o que a patroa tinha em mente −, conta você.

– Ora, sô, quando ele atirou o veado estava deitado coçando a cabeça com a pata traseira, posição muito comum entre eles. Então, a bala, mais certeira do que nunca, atravessou o casco e foi na mosca, a cabeça.

E assim, pelo menos naquele momento, foi salva a fama do fazendeiro que nunca havia errado um tiro em suas caças.

* 1: Leia “Mata do Catingueiro” e “Mata do Catingueiro Tornar-se Parque Municipal”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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