DESEJO INFANTIL

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Tem muita gente que afirma categoricamente que em uma criança pode-se ver a mais pura inocência, o mais sincero sorriso e a mais intensa felicidade. E tem muito mais gente ainda que, de pés juntos e braços cruzados, brada aos céus que quando somos crianças, raramente pensamos no futuro, e que esta inocência deixa-nos livres para nos divertirmos como poucos adultos conseguirão. E arrematam: o dia em que nos preocupamos com o futuro é também o dia em que deixamos a infância para trás. Será?

Sei lá! Só sei que lá pela década de 1960, um casal de crianças de duas tradicionalíssimas famílias e ligadíssimas politicamente, os dois com oito anos de idade, brincavam no quintal da residência de um deles na Avenida Getúlio Vargas. Do meio da pureza infantil saiu essa pergunta do garotinho, já pensando no futuro:

– A coisa que mais quero na minha vida é casar com você.

A garotinha, com o rosto rosado de vergonha, soltou um largo sorriso de contentamento. E o garotinho falou mais:

– É bão demais da conta brincar com você, é por isso que sempre venho aqui brincar com você, então, a gente casando vamos poder brincar todo dia pra sempre.

Cada vez mais rosada no seu acanhamento, mas adorando as palavras, de repente a garotinha abaixou a cabeça e ficou triste. Óbvio que o amiguinho se preocupou e perguntou porque ela ficou triste. Ela respondeu:

– Eu também, a coisa que mais quero é casar com você pra gente brincar todo dia pra sempre… mas não podemos casar.

O garotinho questionou:

– Podemos sim, nossos pais são amigos, os meus gostam de você e os seus gostam de mim. Então, por que não podemos casar se nós dois queremos casar?

A amiguinha encarou com ardor o amiguinho e, com duas lágrimas se formando, respondeu inocentemente:

– Sabe, aqui na minha família a gente só casa com parente, só pode casar com parente. É por isso que a mamãe casou com o papai, minhas titias casaram com meus titios e meus vovôs casaram com minhas vovós.

Tempos depois, sabedores da realidade, as duas famílias abençoaram o casamento dos dois, fortalecendo as suas relações, indubitavelmente importante na construção, preservação e transmissão de seus patrimônios ao longo das gerações. Hoje não tanto, mas nos idos tempos isso foi comum em Patos de Minas.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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