EMPRESÁRIO IRADO COM AS MOTOS BARULHENTAS

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Há questão de um ano, não muito mais que isso, um empresário influente aqui e muito além do município de Patos de Minas já estava perdendo as estribeiras com o barulho ensurdecedor das motocicletas a qualquer hora do dia e da noite. Já havia reclamado pessoalmente ao poder público, mas este não lhe deu a devida atenção. E isso, para ele, o empresário, foi inconcebível, devido à sua importância econômica para a região.

Certa noite, não conseguindo conciliar o sono com a paz, tamanha a euforia da barulheira motoqueira, decidiu por aplicar uma mordaz lição ao prefeito e aos dezessete vereadores. Para tanto, fez um convite para um almoço só entre eles, sem imprensa e ninguém mais, em seu aprazível sítio, simulando a oficialização de um novo empreendimento que geraria muitos empregos. Em lá estando, os dezoito se sentiam no paraíso, tamanha a categoria dos acepipes e bebidas de primeiro mundo. Num dado momento, o anfitrião convidou os dezoito a lhe acompanhar. Chegados ao campinho de futebol, se depararam com dezoito postes de eucalipto tratados fincados na grama, enfileirados um metro um do outro. Foi aí que o trem começou a mudar.

A cada minuto, veio de encontro a eles uma moto potente com o escapamento aberto, numa zoeira de fazer hóspede do Cemitério Santa Cruz acordar. Eles lá, os dezoito, um olhando para o outro, sem entender bulhufas. Totalizando dezoito motos, o trem mudou mais ainda. De repente, de armas em punho, os motoqueiros, com ajuda de alguns funcionários, obrigaram os convidados a se encostarem, cada um, em um poste. Assim, foram amarrados tão acirradamente que só conseguiam mover os olhos. Então, cada moto, com o tanque cheio, foi colocada de ré com a roda traseira em um suporte elevado a trinta centímetros de cada um. Antes dos motores serem acelerados ao máximo e travados, o anfitrião, num riso mais sardônico que candidato político em campanha eleitoral, declarou:

– Agora, seus disgramados, vão sentir até na pleura o que é conviver em Patos de Minas com essas malfadadas motos barulhentas. Aproveitem.

E saiu imediatamente do local junto com todo o pessoal do sítio, em sonoras gargalhadas. Mas eis que, de repente, o empresário sentiu umas cutucadas nas costelas. Abrindo os olhos, sonolento, ouviu a bronca da patroa:

– De novo, marido, sonhando em aprontar essa das motos com o poder público, deixa de ser besta homem, isso é crime, para de gargalhar e volte a dormir!

Antes de repousar novamente a cabeça no travesseiro, depois de ajustado os protetores auriculares, ainda resmungou:

– Pois eu vou morrer sonhando com isso…

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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