HÉLIO DE CASTRO AMORIM: EMPRESÁRIO DO ANO

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Filho de destacado fazendeiro e empresário de Patos de Minas, Hélio de Castro Amorim projetou-se desde cedo nos esportes, como goleador da equipe juvenil da URT, notabilizando-se mais tarde, no primeiro time, como grande ídolo da torcida ueretense. Vitorioso no esporte, do qual, continua um ativo cultor e incentivador, Hélio Amorim começou a projetar-se também nas atividades empresariais.

Depois de fazer os estudos básicos na antiga Escola Normal Oficial de Patos de Minas, e no Colégio Arnaldo de Belo Horizonte, Hélio Amorim ingressou, ainda cedo, na chamada Universidade da Vida, iniciando-se como motorista autônomo, voltado para a compra e venda de cereais, de sociedade com seus amigos Severino Brito e Josa Caixeta.

Em 1960 estabeleceu-se com o pequeno “Armazém Resende”, comprado com o dinheiro da venda do caminhão. Em 1965 passou para o ramo dos postos de serviços, com o Posto Ipiranga, em sociedade com o seu irmão Newton de Castro Amorim.

A partir daí passou a desenvolver, em escala crescente, a atividade que o tornaria mais conhecido no mundo dos negócios: a compra e venda de cereais, com transporte próprio. Essa foi a experiência e a base que lhe permitiram criar, em fins dos anos 60, a firma “Cereais Patureba”, de sociedade com o conhecido engenheiro agrônomo José Ribeiro de Carvalho e outros amigos.

Essa feliz associação com José Ribeiro de Carvalho, da qual, participou inicialmente o Dr. Mário da Fonseca Filho e ainda participam os velhos e leais companheiros Manezinho Caixeta e Salvador Beluco, gerou o embrião de um futuro complexo industrial, integrado pelo próprio “Cereais Patureba”, “Sementes Ribeiral”, “Sociedade de Agropecuária Santana Ltda.” e “Sociedade Agropecuária Bolívia” (que inclui o sócio Altivo Saldanha Guerra).

É preciso observar o notável crescimento experimentado pelo “Cereais Patureba”, que hoje abrange todos os ramos da agropecuária desde a sacaria às sementes, passando pelos fertilizantes e defensivos agrícolas.

Hélio Amorim, além disso, é fazendeiro, sendo proprietário de duas fazendas, uma no município de Patos e outra em São Gonçalo do Abaeté, sendo hoje o maior produtor individual de leite, em nosso município.

Filho de Sebastião de Castro Amorim (já falecido) e Maria Guimarães Amorim, de tradicionais famílias da região, Hélio Amorim nasceu em Patos de Minas, no dia 04 de julho de 1936, na mesma casa onde reside, à Rua Tiradentes, 633.

É casado com Maria Luiza Caixeta Amorim, filha do fazendeiro e grande chefe político Altino Fernandes Caixeta, recentemente falecido, e tem os seguintes filhos: Maria Tereza, Rosália, Antônio Alberto, Ronaldo e Hélio Júnior.

Hélio Amorim, tem tido destacada atuação na área social e sobretudo na esportiva, tendo sido presidente, por três vezes, da União Recreativa dos Trabalhadores (da qual, atualmente, é presidente de honra), ex-Diretor do Caiçaras Country Clube, Vice-Presidente do Patos Tênis Clube. Além disso, faz parte da Diretoria do Sindicato Rural de Patos de Minas há vários anos.

Hélio Amorim, apesar de suas intensas atividades como empresário, continua jogando futebol, em companhia de outros craques veteranos, jogando peteca e também pescando e caçando “hobbies” que cultiva desde a adolescência e que, frequentemente, o fazem acampar à beira, inclusive, de rios distantes, onde curte o áspero encanto da caça e pesca, dos belos cenários sertanejos e a gratificante companhia dos amigos.

Sabemos que no dia 14 de julho, você recebeu em Belo Horizonte, o título de Empresário do Ano. Este título é concedido por quem?

Meu nome foi indicado pela Associação Comercial e Industrial de Patos de Minas e o título, concedido pela Associação Comercial de Minas Gerais. São vários os empresários agraciados, cada um indicado pela Associação Comercial de sua cidade.

Quais são as empresas das quais você participa?

O início de tudo é a Cereais Patureba Indústria e Comércio Ltda., da qual sou sócio gerente, que tem como atividade principal o empacotamento de feijão e arroz além do comércio de sementes, adubos, inseticidas e outros produtos para a agropecuária. Posteriormente, veio a SAPES − Sociedade Agro-Pecuária Santana Ltda., com fazenda de produção de sementes em Santana e depois a SABOL − Sociedade Agro-Pecuária Bolívia Ltda., fazenda no município de Serra do Salitre e finalmente a Sementes Ribeiral, da qual sou Diretor. Atuo ainda na fazenda Catingueiro aqui bem perto da cidade, onde exerço várias atividades e na fazenda Fortaleza do Abaeté.

O grupo que gere todas as empresas é o mesmo?

Praticamente sim. O Dr. José Ribeiro de Carvalho e eu temos maioria em todas elas e em cada uma delas, temos outros sócios.

Especificamente, quais são as atividades dessas empresas?

Tudo gira em torno do agropecuarista, do fazendeiro. A Cereais Patureba vende o adubo, o fosfato, o calcário, defensivos e a sacaria e compra o produto do fazendeiro. A SAPES é hoje o maior produtor de milho híbrido particulado do Brasil. Entregamos para a Agroceres, uma média de 30 mil sacos de sementes por ano. A Ribeiral trabalha em regime de cooperação, ou seja, no mesmo sistema da Agroceres. Nós fornecemos a semente básica e o pessoal vai fazer a multiplicação, com a nossa fiscalização e com a fiscalização do Ministério da Agricultura. Temos produtores espalhados por vários pontos: Uberlândia, Uberaba, Lagamar, Carmo do Paranaíba, Lagoa Formosa, São Gonçalo do Abaeté, Paracatu e Montes Claros. A SABOL produz sementes e cereais.

Qual o mercado de consumo das empresas?

A Cereais Patureba, continua vendendo seu feijão empacotado para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A Sementes Ribeiral distribui suas sementes para várias partes do país, além de beneficiar e secar cereais para produtores de quase toda a região. Produzimos sementes de arroz, milho, feijão e soja. Temos planos arrojados para produção de sementes.

Qual é aproximadamente o número de empregos de suas empresas?

Há uma variação muito grande, porque nas fazendas, principalmente na SABOL, existe época de termos até 300 pessoas trabalhando. Acredito que haja uma média de 300 pessoas fixas em todas as empresas, sendo em torno de 80 empregados fixos e constantes.

Por que o arroz empacotado “Patureba” não é praticamente comercializado aqui?

É porque o arroz que vem de fora para cá, é muito inferior ao nosso e portanto, mais barato e o povo hoje, diante das crises, não está procurando qualidade, mas preço.

Quais os planos de expansão de suas empresas?

Estamos acabando de construir um pavilhão na Ribeiral, com 900 metros quadrados onde instalaremos o maquinário para uma nova etapa. Estamos procurando melhorar cada vez mais.

Você poderia nos fornecer os números de produção e venda das empresas?

Em 1980, a Cereais Patureba vendeu as seguintes mercadorias: 40.000 toneladas de fosfato natural, 5.200 toneladas de adubo, 95.000 litros de herbicidas, 632.000 Kg de feijão empacotado para São Paulo, 186.000 Kg de feijão empacotado para o Rio de Janeiro, 111.000 Kg de feijão empacotado para Belo Horizonte, 231.000 Kg de arroz beneficiado.

A SAPES produziu: 4.111 sacos de milho comercial fornecidos para a Agroceres, 25.051 sacos de milho semente fornecidos para a Agroceres, 1.069 sacos de feijão semente fornecidos para a Ribeiral.

Produção da SABOL: 347.180 Kg de sementes de milho, 7.500 Kg de feijão, 153.955 Kg de arroz em casca, 227.225 Kg de soja, 7.800 Kg de café em côco, 2.745 litros de leite.

Produção da Ribeiral: 27.450 fardos de sementes de arroz, 4.470 fardos de sementes de feijão, 4.200 fardos de sementes de soja.

Produção da Fazenda “Catingueiro” (particular): 223.932 litros de leite, 55.624 Kg de aves para abate.

Produção da Fazenda “Fortaleza do Abaeté” (particular): 143,60 m² de carvão vegetal.

Construímos novas instalações para a Patureba, logo depois do cemitério, em direção ao Bairro Guanabara, onde pretendemos unir todas as atividades da firma: vendas de defensivos adubos, administração e outras.

A produção de soja tem aumentado muito na região?

Até dois anos atrás sim, mas pelo alto custo da lavoura, este ano, a safra deve ter caído no mínimo em 30%. Para que vocês tenham uma idéia, no ano passado, tínhamos aqui, nesta época, 13.000 sacos de sementes de soja e neste ano, temos 600 e inclusive não está havendo muita procura. A lavoura é de custo caro, exige muito maquinário e uma quantidade enorme de defensivos, pois a soja é muito mais sujeita a doenças que o milho e o feijão, por exemplo.

Como você vê a possibilidade da futura instalação de uma fábrica de óleo de soja em Patos de Minas?

Sinceramente eu acho meio difícil. Como já disse, o custo da lavoura é muito alto, os juros cobrados não estão incentivando ninguém a fazer nada principalmente em termos de agricultura, portanto, se tivesse havido um movimento desses uns dois ou três anos atrás, talvez, houvesse sido bem sucedido. Hoje quase ninguém está querendo plantar soja. Basta você pensar que o produtor de soja tem que adquirir uma colheitadeira por 5 milhões de cruzeiros, com juros de 73% ao ano, para ver que dificilmente alguém vai enfrentar isso.

Quer dizer que você pensa que em nossa região as lavouras de milho e de feijão continuarão a ser dominantes?

Sim, acredito muito aqui, no milho e feijão, principalmente, nas novas variedades deste, que vão surgindo, nas lavouras técnicas de irrigação e nas várzeas que são muitas. Para pensar em soja no cerrado, com esses juros que estão aí, acho impraticável. Durante algum tempo, nossa produção de milho diminuiu bastante, mas de dois anos para cá, ela está crescendo de novo, exatamente porque é uma cultura conhecida de todos e de custeio muito mais barato, além de oferecer a possibilidade do consorciamento com feijão. Além disso, o milho é um produto de fácil comercialização, que pode ser vendido até na roça mesmo, enquanto que a soja tem que ser vendida para firmas de outras regiões.

A Ribeiral produz também semente de trigo?

Tentamos trabalhar com sementes de trigo, e nos registramos para isto, mas o protocolo foi tão grande que acabamos desanimando. Para que vocês tenham uma idéia, não se pode vender um quilo de trigo sem uma ordem expressa do governo, por ser artigo de segurança nacional. É uma pena, porque a cultura do trigo é feita exatamente no período em que nossas terras ficam ociosas, entre a colheita e o novo plantio da lavoura.

Vocês já iniciaram a irrigação de lavoura?

Ainda não, porque a água em nossas fazendas é difícil, mas pretendo fazer na Fazenda do Abaeté; e a irrigação será a solução. A verdade é a seguinte: o custo da nossa produção está muito alto em razão da pouca produção. Se o agricultor que teria de produzir 1800 quilos de arroz por hectare e está colhendo apenas 800 quilos então, toda a despesa ficará sobre a produção obtida. O problema é em decorrência das condições climáticas. Esse negócio de plantar no cerrado e “ficar olhando para cima” não é brincadeira. E o PROAGRO é uma mentira, porque o protocolo para receber é tanto e o dinheiro é tão pouco, que 90% dos produtores abrem mão. O negócio é muito complicado, porque para que o produtor receba do PROAGRO, ele terá que não colher um grão sequer; se ele tem a estimativa de colher 3.000 sacas e colhe 2.000, no meu modo de entender, o seguro deveria cobrir o prejuízo, para que o negócio pudesse ter continuidade, mas se o que você colhe dá para pagar o banco, o problema é seu. Agora, se isso acontece dois, três anos consecutivos faz com que o produtor desista da lavoura.

Como você vê a possibilidade de irrigação em culturas de cerrado?

É quase impraticável. Por exemplo, se quisermos fazer irrigação em nossa fazenda de Santana, teremos de perfurar quase cinquenta poços artesianos e por coincidência, ouvi hoje pelo rádio, que o pessoal da CAMIG está aí para perfurar poços, que ficam em torno de 400 mil cruzeiros cada um. E não podemos esquecer, que os juros para investimentos agrícolas, no momento, são de 73% ao ano.

Por que não há interesse na cultura de café em nossa região?

Na SABOL, temos 950 mil pés de café e para ser sincero, o negócio está “ficando feio”. O problema sério do café é o de doenças que devem ser combatidas de vinte em vinte dias e além disso há o problema do preço.

Diga-nos alguma coisa sobre sua condição de grande produtor de leite.

A produção de leite é na fazenda “Catingueiro” que recebi por herança de meu pai e onde não há sócios, fica a cinco quilômetros da cidade e recentemente aumentei minha área para 181 hectares, mediante aquisição da parte de uma de minhas irmãs. Resolvi seguir o exemplo de meu pai, que foi quem trouxe o primeiro boi holandês aqui para Patos, em 1948. Até quatro meses atrás eu estava colocado como o maior fornecedor de leita para a Cooperativa Mista Agropecuária de Patos de Minas e agora estou em 3.º ou 4.º lugar.

Há três anos, estou adotando as técnicas de inseminação artificial com excelentes resultados. Tenho vendido touros de alta linhagem.

Quais as outras atividades na Fazenda “Catingueiro”?

Quase nada se perde lá. Tenho uma granja para produção de frangos. O esterco dos frangos é passado para o gado e o esterco do gado, através de uma máquina é utilizado para adubação dos pastos. Fabrico lá a ração e estou procurando fazer com que a produção de leite seja a mais rendosa possível. O trato do gado só é feito de junho a setembro.

Qual é a linhagem do seu gado?

Devo ter umas trinta vacas puras registradas, umas vinte, 1/2 sangue e as outras 7/8 e 3/4.

Qual é a sua produção atual de leite?

Mais ou menos 700 litros diários.

A produção de tourinhos reprodutores tem sido grande?

Este é um negócio muito complicado. Insemina-se uma vaca de primeira qualidade com um sêmen também de primeira qualidade e às vezes não se produz um bezerro em idênticas condições. Não tenho conseguido mais que 20 bezerros por ano, que sirvam para reprodutores. Um bezerro desses fica caríssimo, pois ele recebe 10 litros de leite por dia, mais trato, medicamentos, etc., seu custo fica em quase 400 cruzeiros por dia.

E a granja de frangos, é bom negócio?

Vou dizer uma coisa, que muita gente vai contestar. Eu não tenho reclamações a fazer, principalmente porque produzo o milho e tenho a fábrica de ração; compro o concentrado da Agroceres e faço a mistura lá mesmo. Só aí, se ganha de 2 a 3 cruzeiros em quilo de ração, considerando-se o gasto de mais ou menos 90 mil quilos por cada partida de frangos, há uma economia considerável. Agora o principal objetivo da granja é o esterco para trato do gado.

Você tem produzido mais ou menos quantos frangos por ano?

Cada partida é de 10 mil frangos que tenho entregue a dois abatedouros locais. Os frangos começam a sair com 45 dias e até 60 dias, são todos consumidos.

Você tem alguma sugestão para os nossos problemas?

O que acontece aqui de muito sério é a evasão de renda familiar, por falta de escolas superiores e principalmente escolas técnicas. Realmente temos uma grande deficiência, principalmente de escolas técnicas e de aprendizagem.

Tenho acompanhado a luta da “Debulha” em favor da Escola Técnica Agro-Pecuária, que é sem dúvida a coisa prioritária para Patos, pois creio que, ainda por 30 ou 40 anos, nosso principal negócio será a Agro-Pecuária e depois a Agro-Indústria.

Não é raro ouvir-se seu nome para cargos políticos, principalmente para Prefeito. Qual é sua posição diante da política?

Fico até satisfeito de ver meu nome lembrado, mas diante do que acabo de dizer em relação às minhas atividades atuais e do que pretendemos realizar, não tenho nenhuma condição de entrar em política, assumindo cargos. Ficaria muito satisfeito em poder ajudar minha terra, mas é um assunto inteiramente fora de cogitações, pois tenho que me dedicar inteiramente às minhas atividades, das quais não posso abrir mão.

NOTA: Hélio de Castro Amorim faleceu em 08 de junho de 2012.

* Fonte e fotos 2 e 3: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada com o título “Hélio de Castro Amorim − Empresário do Ano” e subtítulo “Hélio Amorim − De ídolo da URT a líder empresarial”, mais o adendo “A pedido nosso, o jornalista Oswaldo Amorim, Diretor da Empresa Brasileira de Notícias, traçou o seguinte perfil de seu irmão, nosso entrevistado”, no n.º 30 de 15 de agosto de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto 1: Arquivo do PTC-Patos Tênis Clube.

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