PROTOCOLORITUDES

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Nesse tempo de Covid-19, a palavra chave é: protocolo! Não se ouve e não se lê notícia a respeito dessa virose sem estar presente o protocolo entre cada três palavras pronunciadas ou escritas. Não existe mais programa de tratamento: agora é protocolo. Não existe mais esquema de combate: agora é protocolo. Até o coveiro do Cemitério Santa Cruz fala em protocolo de sepultação. Resultado: é uma chatice protocolar. E nessa, o Clodoaldo não poderia ficar de fora, pois, chatíssimo como é, tudo pra ele agora é na base do protocolo. Dias desses, ao telefone, respondeu a um amigo:

– Analisando uns protocolos, resolvi ficar em home office.

Noutro dia, contou ao mesmo amigo:

– De acordo com protocolos municipais, fui incentivado a tomar a vacina contra a gripe em drive thru.

Havia, entretanto, uma pessoazinha que já estava saturada das ações protocolistas do Clodoaldo: sua esposa Cesarina.

De acordo com a classificação dos chatos do Guilherme Figueiredo, o Clodoaldo é um chato catalítico, aquele que age por ação de presença (de perto, os chatélites; de longe, os telechatos). E como eu estava dizendo, a Cesarina já estava fula da vida com os protocolos do marido:

– Ô mulher, cadê o protocolo daquela receita de pão de alho? Cesarina, vê se esse protocolo da pintura da casa tá bom! Mas que coisa, sô, cadê o protocolo do controle remoto da TV?…

Clodoaldo já estava mais chato que aqueles faladores da vinda de Satanás, os chatânicos. Nas ruas, quem o via tratava de sair pela tangente para não entrar pela tubulação com sua chatice protocolotória. Os amigos não ligavam mais, e quando o Clodoaldo ligava para alguém, lá vinha o fatal não está. Assim foi fondo, até que a Cesarina explodiu e se mandou para a casa da mãe. Deu-se que, depois de vários dias dormindo os dois de costas um pro outro, o marido cutucou a esposa, apresentou-lhe uma folha de papel e disse:

– Vamos cumprir esses protocolos pra gente esquentar o ambiente?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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