Dizem que foi um famoso boteco localizado na Avenida Brasil que estava em decadência. Outros juram de pés juntos que foi naquele da Rua José de Santana e que se salvou depois que se mudou de endereço e até hoje continua com o mesmo nome. O que interessa é que naquela época, década de 1980, o botequim estava com pouco movimento. Seria a crise? O dono não sabia o que inventar para chamar a clientela. Entre os poucos fregueses que ele tinha era um velho bêbado que ficava numa mesinha num canto do bar, bebendo o dia inteiro e mandando anotar. Um dia o proprietário falou:
– Olha, não vou mais anotar bebida. Agora você vai ter que trabalhar se quiser beber.
– Vou fazer o quê?
– Vai virar atração da casa. Sobe na laje e fica lá deitado ao lado da portinhola. Todo freguês que chegar aqui e pedir alguma coisa, você repete o que ele falar. Você vai ser o eco. Vou inventar que este bar tem eco.
E a ideia do dono do botequim foi um sucesso. O freguês chegava e gritava:
– Bota uma caninha.
E o eco repetia:
– Bota uma caninha.
– Dose dupla – (Eco: dose dupla!).
– Vira outro – (Eco: vira outro!).
Virou o sucesso da cidade. O bar vivia cheio, todo mundo experimentando o eco. E o velho cheio de cana, lá em cima na laje, todo feliz. Mas o sucesso do Boteco do Eco passou e o botequim voltou a ter pouco movimento. É, o tal do eco cansou. Já tinha mais de um mês que o velho estava lá em cima, doidão, com a boca seca, tarado por uma cana, mas coitado, os fregueses eram poucos.
Um belo dia entra um freguês no bar e pergunta com veemência:
– Cadê o eco?
– Cadê o eco – responde o eco todo feliz.
– Tamos aí – falou o freguês.
– Tamos aí – repete o eco
– Vamos tomar uma caninha? Gritou o freguês.
– Só se for agora! – respondeu o eco na maior satisfação.
E despencou lá de cima!
Assim se encerrou definitivamente o Boteco do Eco, pelo menos com aquele nome e naquele lugar. Dizem que o proprietário ainda está vivo e forte, e que é figura frequente no outro endereço com outro nome!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann, baseado em texto publicado com o título “O Eco Calou” na edição de 25 de dezembro de 1980 do jornal Boletim Informativo, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Simeuaceito.wordpress.com.