O dia era 24 de junho de 1996, o da decisão tão esperada. O prefeito Jarbas Cambraia dirigia-se para Belo Horizonte quando atendeu em seu celular a uma ligação do governador Eduardo Azeredo, que o convidava para um jantar naquela noite e comunicava que a Perdigão havia optado por Rio Verde para implantação de seu projeto. Foi durante esse encontro que se tornou oficial a comunicação de que a empresa catarinense tinha decidido levar para Goiás seu projeto industrial, mas que o trabalho de persuasão desenvolvido pelas autoridades patenses, mineiras e federais não foram em vão, uma vez que a Perdigão mostrara-se disposta a aplicar em Patos de Minas os recursos ligados ao setor avícola do investimento programado.
O projeto avícola previa investimentos de R$ 50 milhões. A Prefeitura Municipal doaria um terreno dotado de toda infraestrutura exigida e destinado à construção de um abatedouro com capacidade para o abate de 140 mil aves/dia. Os criadores de frangos, por sua vez, estariam ligados à empresa pelo sistema de integração, recebendo pintos, ração e assistência técnica e tendo garantida a colocação de toda a produção. Também estava prevista a instalação de uma fábrica de ração com estrutura capaz de atender a necessidade de alimentação de um criatório que iria produzir a média de 8 milhões de aves a cada sessenta dias¹.
A informação foi transmitida para a imprensa e a partir daí os comentários tomaram conta da cidade, alguns criticando e outros elogiando a atuação dos políticos envolvidos na negociação. Mas, afinal de contas, quem ganhou ou quem perdeu com a definição da empresa? Muitos afirmaram que ninguém perdeu, mas sim de que todos ganharam.
Pouco menos de uma semana após, exatamente no dia 29 de junho, a Folha Patense publicou uma matéria com o título “Perdigão Investe Apenas R$ 28 Milhões em Patos”. Entre outras coisas, afirma:
No final da noite de ontem, a assessoria de imprensa confirmou os investimentos de R$ 28 milhões da Perdigão, mas não explicou porque o vice-governador Walfrido Mares Guia anunciou um investimento de R$ 120 milhões. E ainda: O diretor de comunicação da Perdigão, Ricardo Menezes, disse que o projeto de Patos de Minas estará concluído em três anos e a estimativa é que favoreça cerca de 50 mil produtores de milho das regiões do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste do Estado.
O tempo passou, o terreno foi adquirido pela Prefeitura e a Perdigão se manteve inerte. Em 29 de agosto de 1998 o jornal Folha Patense, numa pequena matéria de Dércio Rodrigues, intitulada “Perdigão Não Planeja Investir na Unidade de Patos de Minas” e com o subtítulo “Secretário de Indústria e Comércio Confirma Dificuldades”, sacramentou o “vinha, mas não veio”:
“Sinceramente, não vejo qualquer perspectiva de investimentos da Perdigão na unidade de Patos de Minas, no curto ou médio prazo”. A declaração é do secretário municipal da Indústria e Comércio, Wando Pereira Borges. Segundo ele, apesar de ter assinado um protocolo de intenções com o município, em dezembro de 1996, a empresa catarinense não levou adiante o projeto da unidade agroindustrial (frigorífico de aves) que instalaria em Patos.
“Nós cumprimos à risca a parte assumida pelo município no protocolo de intenções, compramos o terreno escolhido pelos técnicos, que seria doado à Perdigão, mas a empresa foi diminuindo os contatos e parou de falar na unidade de Patos de Minas”, lamenta Wando Borges. Segundo o secretário, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, foi convidado para vir a Patos, em maio, quando receberia a escritura de doação do terreno, mas alegou viagens de negócios no exterior.
Wando Borges conta que chegou a pedir uma posição oficial e clara da empresa, em correspondência enviada a Nildemar Secches. “Fomos informados que, por questões de mercado e projetos da empresa no sul do país, Patos de Minas não estava na lista de prioridades para os próximos anos”, revela.
O secretário da Indústria e Comércio afirma que outra empresa, interessada na instalação de um frigorífico de suínos em Patos de Minas, queria ocupar o terreno adquirido pela prefeitura. “Por isso, precisávamos de uma resposta definitiva da Perdigão”. A área fica a 800 metros da ponte velha do Rio Paranaíba, pela margem esquerda, abaixo da Unidade Industrial da Cica. “Como não foi assinada a escritura de doação, podemos dispor do terreno quando necessitarmos, mas não queremos contrariar qualquer item do protocolo de intenções, para evitar aborrecimentos no futuro”.
* 1: Leia “O Projeto Perdigão”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann e jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Institucional.