DEIXAREI SAUDADE − 90

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Não sei se era terça ou sexta-feira, se era março ou novembro, se estava chovendo ou não, se era dia ou noite, só sei que eu estava na temperança de minhas paredes bem cuidadas, de minhas janelas e com os jarros de flores precisando um pouquinho de água, quando meu construtor chegou acompanhado de um sujeito e danou a falar às almas que me habitavam de um tal de Dr. Dácio, que ele era o novo prefeito da cidade e que agora o trem ia andar direito. Nisso reconheci o outro, era o Mazinho, morava acima de mim, o maior tirador de areia do Rio Paranaíba¹. E foi por causa dessa lembrança, principalmente do Mazinho, que forneceu areia para um mundaréu de construções, é que começo a reparar que essa nossa rua, antigamente chamada de Rua dos Crentes, porque muitos por aqui eram evangélicos, já não é a mesma². Só agora reparo que a mata ciliar do Córrego do Monjolo sumiu. Cadê a casa onde funcionava o restaurante do Netinho? Gente do céu, aquela mata que existia no morro sumiu! E o boteco do Baiano, que servia a melhor rabada da Cidade, cadê? De pensar que o Alvorada e o Banco do Brasil eram os nossos arranha-céus. Está tudo mudado, inúmeras como eu já foram demolidas para ceder lugar aos prédios. Quando será a minha vez? Pergunto porque sei perfeitamente que somos efêmeras, apenas bens materiais, e nada mais. E no dia eu que eu me transformar em escombros, já pertencendo à História de Patos de Minas, deixarei saudade!

* 1: Leia “Mazinho Ajuda a Construir Patos de Minas”.

* 2: O imóvel localiza-se à Rua Farnese Maciel quase chegando ao Córrego do Monjolo.

* Texto e foto (07/07/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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