TEXTO: ELVIRA FERREIRA PORTO CORDEIRO (2006)
Ainda jovem¹ e advinda do internato onde estudei, fui escolhida para disputar as eleições municipais em 1954, para o cargo de vereadora. Na verdade, era uma presença diferenciada por se tratar de uma mulher participando pela primeira vez das eleições locais.
Tenho a certeza de que não decepcionei, porque participei efetivamente das reuniões e das decisões de grandes projetos, procurando comportar-me com a fidelidade partidária, disciplina, honradez e dignidade que todo político que representa o povo deve ter.
No Brasil, a presença da mulher na vida política vem-se desenvolvendo lentamente. A história registra vários fatos sobre a luta sofrida das mulheres pela igualdade dos direitos. Remontam os idos de 1850 as primeiras organizações de mulheres pelo direito do voto.
O Rio Grande do Norte foi o primeiro Estado brasileiro a eleger uma prefeita, Alzira Teixeira, em 1928.
Nos anos 30, as mulheres representavam 1% do Parlamento, daí para cá, houve uma melhora insignificante, embora as mulheres sejam mais de 50% do eleitorado no País.
O direito de voto, que surgiu em 1932, com o Código Eleitoral, permitiu que a mulher disputasse o cargo de deputada federal. Foi eleita a primeira deputada federal, uma médica paulista, Carlota Pereira de Queiroz.
Em razão do lento processo de evolução política da mulher em nosso país é que considero relevante que, em Patos de Minas, uma cidade interiorana, e logo depois da Era Vargas, quando termina o período ditatorial e acontecem as eleições municipais pela terceira vez no Brasil, no período de Redemocratização, os políticos patenses convidam uma mulher para concorrer às eleições, disputando o cargo para vereadora.
Fui eu a escolhida. Elegi-me para o quadriênio 1954/1958², pela União Democrática Nacional − UDN. Confesso com orgulho que, nesses quatro anos do meu mandato, tive uma escola diferente. Escola de cidadania, de coragem de expor idéias, de respeito ao adversário e de muito mais amor ao Município onde nasci, porque pude conhecer de perto os seus problemas.
Convivi muito bem na diversidade política com o adversário, e os anais da Câmara Municipal daquela época são provas cabais de que os vereadores trabalhavam nessa diversidade e conseguiam a unidade quando o interesse maior era Patos de Minas. Nós, vereadores de então, nos fizemos amigos, respeitadores das idéias e das decisões de cada um, mesmo não comungando da mesma posição política.
De 1954 até hoje, observei que as mulheres de Patos de Minas não ocuparam um lugar permanente no Poder Legislativo. O que na verdade existe é que aqui, como no resto do País, não há determinação nem interesse por parte dos políticos a participação das mulheres que, por sua vez, também se mantêm nos ostracismo, desencorajadas de brigar por esse espaço.
Abri o caminho, me fiz a primeira vereadora, talvez uma das primeiras do Brasil, e muito depois tivemos no Legislativo Nilza Íris Borges, Edimê Erlinda de Lima Avelar e Maria Beatriz de Castro Alves Savassi. O número de mulheres que ocupam cargo político no Brasil é muito reduzido. É pena, tendo em vista a importância na participação política e sobretudo pela grandeza do trabalho que as mulheres desenvolvem no campo da Educação, no setor administrativo, nas ações sociais, nas empresas, bancos, indústrias, comércio, bem como no trabalho rural. Nesse mandato, os vereadores da minha bancada eram liderados por um grande político, o professor Zama Maciel. Esses vereadores sempre iam às reuniões já sabedores dos projetos encaminhados e devidamente conscientes de sua importância ou não.
A Câmara Municipal de 54/58 promovia reuniões durante todos os dias do mês. Muitos embates ocorreram, porém, todos em alto e respeitoso nível.
Na verdade, o Poder Legislativo é o sustentáculo da democracia. A minha sugestão é que as mulheres devem se marcar por sua competência, já que os caminhos estão todos abertos, inclusive na vida partidária.
* 1: Elvira nasceu em 05 de fevereiro de 1930.
* 2: Leia “25.ª Câmara Municipal − 31/01/1955 a 31/01/1959”.
* Fonte e foto: Texto publicado com o título “Primeira Mulher na Câmara de Patos de Minas” no livro Uma História de Exercício da Democracia − 140 Anos do Legislativo Patense, de José Eduardo de Oliveira, Oliveira Mello e Paulo Sérgio Moreira da Silva.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.
