O que faz mal não é a mentira que passa pela mente, mas que a nela mergulha e se firma. (Francis Bacon − 1561-1626)
Os Deuses vagavam pelo espaço infinito há milhares e milhares de anos. Alguns em menor grau, outros em maior, haviam desenvolvido uma tecnologia ainda inimaginável aos terráqueos. Até aquele mês de março de 1974, os homens já se consideravam os expoentes da criação de Deus. A conquista de espaços além da Terra surgiu não por uma necessidade de conhecimento mútuo entre as nações. Como já dissera Sued, a discórdia e a sede de poder surgiram no mundo no exato momento em que o primeiro vivente abriu os olhos. Guerras, batalhas, guerras e guerras sem fim com o intuito de subjugar e dominar o próximo tem sido o combustível manchado de sangue que move o planeta Terra desde os primórdios. E quando resolveram descobrir o que existia para muito além das nuvens, não foi diferente. No começo da corrida terráquea ao cosmo, as duas maiores potências do planeta, URSS e EUA, entraram numa disputa ferrenha com a única finalidade de mostrar, um ao outro, quem era o maioral. A cada vez que um deles chegava lá nas alturas, dizia instintivamente ao outro: Nós somos os tais! Como já disse Sued, pobre humanidade!
Tudo relacionado a objetos espaciais construídos pelo homem estava sendo monitorado pelos Deuses. Estes fizeram questão de não interferirem em nenhum deles. Eles apenas os acompanhavam e de longe soltavam fartas gargalhadas. Enquanto as tecnologias dos parvos terráqueos procuravam ser mais inteligentes, a vidinha sertaneja e ordeira de Vila do Córrego Dobrado voltara ao normal. Arnaldo e família já não eram molestados quanto aos acontecimentos do clarão. O colar misterioso continuava no pescoço do homem, e nem isso chamava mais a atenção de ninguém. Os afazeres com o rebanho, o fabrico de queijos e as visitas a Pico da Glória para vendê-los ocupavam seu tempo juntamente com o filho Januário. Vez ou outra os coleguinhas de escola de Sofia e Mara lhes perguntavam alguma coisa. Elas safavam-se dizendo que pai, mãe e irmão tiveram alucinações. Da sede não chegou mais uma única palavra através dos noticiários da Rádio Clube. Havia se passado apenas quatro semanas, e este foi o tempo necessário para um fato estranho como o que houve ter sido tão facilmente esquecido. Na diocese, Bispo Ednando e Padre Alaor trocavam dúvidas.
– Não deixa de ser bom, mas que é estranho, isso é – comentou o Bispo.
– Não só estranho, é tremendamente esquisito – atalhou o Padre.
– Esquisito é pouco, Padre. Atemos aos fatos. Você vivenciou plenamente tudo aquilo, inclusive colaborando para a coisa se mistificar. Deixa estar. Pois bem, aquele fenômeno gerou uma balbúrdia danada na Vila e adjacências, foi muito forte. Os personagens principais, Arnaldo e família, desempenharam papéis fundamentais e, realisticamente falando, comprobatórios de que houve algo além. Ficaram histéricos, tiveram comportamentos estranhíssimos e não paravam de falar em Deus. Toda a cidade estava em êxtase. E os repórteres da Rádio Clube? Aquela reportagem foi uma bomba e correu Brasil afora, com respingos em vários países. O Papa se exasperou, chegando a consultar a NASA. Por falar nisso, pelo amor de Deus, as informações da NASA não podem vazar de forma alguma. Então, de repente, aquela família desaparece por uma noite inteira. Quando voltam, você vai lá e com o que se depara? Nada, absolutamente nada. Só houve evasivas e tudo não passou de alucinações. Em apenas quatro semanas a cidade se calou, praticamente ninguém fala mais nisso. Tivemos contato com os repórteres da Rádio Clube e, estranhamente, disseram-nos que aqueles fatos não os interessavam mais, pois foram alucinações da população por causa de uma simples queda de um meteoro. Não, padre, é muito estranho. Precisamos que você averigue com mais atenção aquela família.
– Eu já conversei com eles, não tem jeito, só ouço que tiveram alucinações, nada mais.
– Tudo bem, mas não podemos deixar de lado. Continue a sondar, pois o que a NASA descobriu é muito sério e é evidente que este fato tem uma relação profunda com aquela família.
– Vou tentar, Bispo Ednando, vou tentar.
Padre Alaor não perdeu tempo. Tão logo chegou à Vila, procurou a família para mais uma tentativa. Informado por Mabélia, pai e filho estavam no curral. Dirigindo-se ao local, o padre estava prestes a se anunciar quando vislumbrou uma cena inusitada. Postou-se atrás de uma parede a fim de reparar sem ser notado. Januário segurava firme um bezerro de poucos meses de vida. Havia nele um corte profundo na anca esquerda que sangrava bastante. Arnaldo segurava um pequeno aparelho na mão direita, parecido com um rádio portátil. Esticou o braço e encostou o aparelho no ferimento. Uma estranha luz azul irradiava dos olhos de pai e filho. Por infelicidade do padre, a postura do homem frente ao animal tapou-lhe a visão. Dois a três minutos depois, Arnaldo guardou o aparelho num dos bolsos do macacão que usava e se afastou para um lado, o suficiente para o padre reparar que o ferimento havia desaparecido por completo. O filho conduziu o bezerro para o cercado onde estava a vaca. A cria, toda serelepe, imediatamente se posicionou para mamar. Padre Alaor esfregou os olhos, se beliscou e se perguntou se o que acabara de ver era real ou um sonho. Durante alguns segundos ficou sem saber o que fazer, até que a realidade lhe veio à frente. Precisava, mais do que nunca, averiguar o que fora aquilo. Mas, pensou, não poderia deixar-se sugerir aos dois que havia presenciado aquele fenômeno. Era preciso muita astúcia. Esperou mais alguns segundos, para evitar desconfianças, e resolveu se anunciar. Voltou alguns passos e simulou uma chegada naquele momento:
– Bom dia, gente, muito trabalho?
– O de sempre, Padre, nada fora do normal. Surpresa agradável esta visita.
– Vim só para saber se estava tudo bem com vocês. A propósito, a Mabélia me disse que estavam curando a ferida de um bezerro. É aquele?
– A Mabélia disse o que?
– Que um bezerro estava ferido e que estavam tratando, só isso. Posso ver a ferida?
– Estranho. Ela não poderia ter dito isso.
– Ora, por que não, é apenas uma ferida num bezerro, simples, sim?
– Não poderia ter dito porque não há bezerro ferido. Ah, já sei, ela se confundiu com o bezerro de ontem. Ontem sim, havia um com um pequeno ferimento.
– Como não? – disse o padre se dirigindo ao local onde estava o bezerro.
– Pois repare bem, Padre, se há algum ferimento neste bezerro.
– É, não tem nada mesmo – disse o Padre após ter reparado bem a cria. Será porque ela disse, então, que vocês estavam curando a ferida do bezerro?
– Deve ter imaginado que era o outro bezerro. Este daqui estava com dificuldade de pegar a teta. Agora está tudo bem. Vejo só como mama com vontade.
– É bonito mesmo ver uma cria mamar com presteza assim. E a produção de leite, continua boa?
– Melhorou muito, padre, eu tirava uns duzentos litros por dia, e agora já passei dos trezentos, o que significa mais queijos.
– Aumentaram as vacas?
– Só uma, apenas melhoramos a comida e o manejo, no geral, com informações técnicas.
– Não deve ter sido por causa do Médico Veterinário da cooperativa de Pico da Glória, né. Afinal de contas, você é metido a Veterinário.
– Pois foi justamente o Médico Veterinário da cooperativa que me instruiu.
– Oh maravilhava, isto é muito bom. Aprendeu muitas dicas?
– E que dicas. O Doutor Raimundo é muito competente. A grande realidade é que não podemos prescindir das técnicas veterinárias. Sem elas, os animais produzem pouco leite e poucas crias. Sabe padre, eu era um pouco turrão quanto à presença de Veterinário aqui. Sabe como é, né, eu pensava que sabia muita coisa. Inclusive, o próprio doutor não andava muito satisfeito com a minha mania de tentar curar os bichos. Por isso chamei o doutor e ele gostou da minha atitude. Até disse que o que eu estava fazendo era um tal de charlatanismo, pois até castração eu fazia.
– Isso, Arnaldo, nada melhor do que lidar com a verdade, certo? Por falar em verdade, vocês realmente não tiveram mais nenhuma alucinação referente ao clarão?
– Por que pergunta?
– Por nada. Como eu disse, passei aqui para ver se tudo estava bem. Então, nada mais a dizer sobre a queda do meteoro?
– Não, nenhuma novidade. Como eu já lhe disse, por causa daquela queda do cavalo, bati a cabeça fortemente numa árvore. Por um curto tempo, minha mente ficou embaralhada e a consequência foi aquele monte de alucinações, como ter visto Deus, um homem prateado e que este colar é mágico. Por uma coincidência, o Januário teve uma febre de 42 graus que lhe proporcionou as mesmas alucinações. Parece até que nossas mentes estavam interligadas. Portanto, nada de novo.
– Arnaldo, na nossa última conversa eu enfatizei bem o assunto. Na ocasião do fenômeno, tentei alarmar o povo com esse negócio de ser um aviso de Deus. Confesso que errei. Estranhamente, porém, pois até agora não consegui compreender a causa, pois toda a Vila, toda Pico da Glória incluindo os repórteres da Rádio Clube, enfim, apenas quatro semanas após não se fala mais nisso. Tudo bem, é estranho, portanto, deixa prá lá. Aliás, até está sendo muito conveniente. O negócio mesmo é deixar este negócio de aviso de Deus e lidar com a verdade, que foi a queda de um meteoro. Concorda comigo que falar a verdade é fundamental?
– Pois é justamente o que tenho feito.
– Quer dizer, mesmo, que tudo não passou de alucinações de sua parte e do seu filho?
– Exatamente.
– Quer dizer, mesmo, lidando sempre com a verdade, que não houve ferimento no bezerro?
– Exatamente. Peraí, Padre, por que esta insistência sobre um ferimento de bezerro? A Mabélia disse que o bezerro tinha um ferimento e tinha mesmo, mas não era aquele que estava no curral. Isso foi ontem. Vamos esclarecer isso perguntando a ela.
– Arnaldo, deixa isso pra lá. Olha, está na hora de ir. Tenho um monte de coisas a fazer. Até mais ver.
– Ei, Padre, espere…
Padre Alaor se afastou apressado e deixou pai e filhos desconfiados. Foram até Mabélia e esta negou peremptoriamente que havia comentado sobre algum tipo de ferimento no bezerro e muito menos que eles estavam tratando-o. Esta atitude do padre deixou os três preocupados. Por que ele se comportava como se ainda lembrasse de tudo?
– Muito estranho, muito estranho – disse Arnaldo. O padre age como se ainda soubesse de tudo. Será que os Deuses não conseguiram fazer-lhe esquecer dos fatos como todos os outros?
– Realmente é muito estranho. E por que ele insistiu em ver o ferimento se eu não lhe comentei nada a respeito? – perguntou a mulher.
– Será, gente do céu, será que, sorrateiramente, antes de se anunciar, ele nos viu usando o aparelho? Meu Deus do céu, se isso aconteceu pode nos trazer transtornos – disse Januário preocupado. E agora, pai?
– Por enquanto, nada a fazer, temos que raciocinar com mais calma. Está claro que o padre viu alguma coisa pelo fato da insistência em ver o ferimento, pois ele nada sabia de ferimento. O modo como viu, eis a questão. Por ora, vamos fazer de conta que o ferimento nunca existiu. Precisamos passar a Etnaduja que ele ainda não se esqueceu dos fatos.
– Pai, por que ele ficou dizendo para a gente sempre lidar com a verdade?
– Justamente porque ele viu alguma coisa e nós negamos. Deixa estar por enquanto. Continuemos as nossas vidas regularmente à espera do sinal. Já se foram quatro semanas. Pode estar chegando o momento. Além do que, o homem não tem como provar nada.
Bispo Ednando não se conformava com a demora de Padre Alaor. O que teria de tão importante a dizer? Por que não adiantara o assunto. Remoía-lhe os pensamentos quando anunciaram a visita.
– Meu prezado, quarenta minutos de atraso.
– Desculpe, Excelência, estava saindo quando uma daquelas beatas inconvenientes chegou para conversar sobre um bingo que vamos promover. Como fala a mulher, credo.
– Vamos direto ao assunto.
– Vi uma coisa que vai mexer com seus nervos.
– Não vai me dizer que a Vila voltou a falar do clarão?
– Nada disso. Sabemos nós que a atitude daquele povo é uma incógnita. Trata-se de uma coisa assustadora da qual não encontrei nenhuma explicação. O senhor já tem informações sobre o misterioso colar. Eis agora uma bomba, presenciada por estes dois olhos aqui que a terra há de comer. Aconchegue-se bem que vou detonar a bomba – o Padre narrou pormenorizadamente o caso da ferida do bezerro.
– Mas isso é uma loucura, isso não existe, é inacreditável. Parece que esse negócio de alucinações é contagiante lá por aquelas paragens da Vila. Será que você foi contaminado e começou a enxergar coisas que não existem?
– De maneira alguma, Bispo, estou em perfeita ordem com as minhas faculdades mentais. Como eu disse, não presenciei o que de fato aconteceu. Meus olhos não se enganaram quando Arnaldo aproximou o tal aparelho da ferida sangrando. Quando o homem se afastou, não havia mais ferimento algum. Como num passe de mágica, ele desaparecera. O homem negou de todas as formas que havia ferimento no bezerro, mas eu vi, Bispo, eu vi, pode ter certeza. Assim como vi os olhos azuis dos dois. O que será que foi aquilo?
– Padre Alaor, preste muita atenção. Dentro em breve precisarei ir a Roma. O Papa está para marcar uma reunião com algumas partes interessadas. De acordo com a NASA, como eu havia dito, a coisa é séria, pois depois de anos e anos de radares apontados para o céu, eis que os fatos são altamente concretos. Se isso se confirmar, vai ser o caos, principalmente para a Igreja, se ela não tomar as medidas cabíveis. Oh Deus, se for verdade o que a NASA está insinuando, não tenho a mínima ideia do que possa acontecer.
– Por que o senhor considera o caso tão grave assim?
– Padre, nem eu sei ainda sobre a total realidade dos fatos. Se for o que estou pensando, a coisa vai ficar preta porque não temos experiência alguma sobre como lidar com situações dessa monta.
– O que tenho a fazer então, por enquanto.
– Tente se aproximar mais e mais daquela família, use de toda astúcia necessária para tentar arrancar alguma coisa deles. Será preciso estar muito íntimo deles porque você terá uma missão arriscadíssima.
– Gente do céu, o senhor está me assustando.
– Vai se acostumando, Padre. A coisa é tão séria que até acredito que você não seja capaz de alcançar o seu intento. Pensando bem, talvez seja melhor não envolvê-lo nisso, pois seria perigoso qualquer desconfiança quanto à sua pessoa.
– Não posso acreditar que o Vaticano esteja querendo assassin…
– Ficou louco, Padre Alaor? Onde já se viu a Igreja Católica ter a pretensão de tirar a vida de um ser humano? Não se trata disso. A coisa já estava complicada apenas com o colar. Com o aparecimento deste aparelho que cicatriza ferida em questão de minutos, a temperatura vai chegar a 100º lá no Vaticano.
– O que o colar e este aparelho têm a ver com o que o senhor está dizendo?
– Tudo, Padre, tudo. A chave era somente o colar, ele emite sinais e radiações eletromagnéticas. Estes sinais e estas radiações foram detectados por satélites da NASA, assim como no espaço. Este colar não foi produzido aqui na Terra. Está começando a entender? Pronto, já comecei a falar o que não devia. Pois bem, agora, para complicar mais ainda a situação, me surge o senhor informando a existência desse aparelho. Oh, Deus, que imbróglio tremendo.
– O colar trata-se, então, de um artefato alienígena? Quer dizer que o aparelho também deve ser da mesma procedência.
– Perfeitamente, meu prezado. E por serem artefatos alienígenas, será necessário que nos apoderemos deles. E sabe por quê? Simplesmente porque temos que consegui-lo antes que os homens da inteligência americana o façam. E outro caso intrincado é o como e o porquê estes dois objetos foram parar nas mãos daqueles caipiras. Acharam na mata ou foram entregues em mãos diretamente pelos fabricantes? E agora, Padre Alaor?
– É mesmo intrincado este caso. Fossem pessoas mais ambiciosas, com artefatos deste nível em mãos, com certeza já teriam buscado com gente poderosa algumas benesses, como uma enorme quantia em dinheiro. Por que eles não fizeram isso? E quanto as informações da NASA, já estariam em poder da CIA ou do FBI?
– A família Mantiqueira é um enigma, um terrível enigma. Em primeiro lugar, vamos supor que eles encontraram os objetos na mata. Como são caipiras e sem ambição, ficaram com eles porque acharam bonitinhos. Mas, neste caso, quem os ensinou a lidar com eles? Não, Padre, de jeito nenhum, a única alternativa real para o caso é que Arnaldo e Cia. tiveram contato com os alienígenas e estes os presentearam com os objetos. Mas, por qual motivo os alienígenas colocaram na mão de gente tão simplória objetos te tal monta tecnológica? Oh Deus, quantos mistérios nos infunde.
– O senhor não me respondeu sobre A CIA e o FBI.
– Ora, é mais do que óbvio que estão por dentro de tudo e mais um pouquinho. Pode ter certeza de que deve ter gente deles, em conluio com o SNI, visitando a Vila, se passando por algum representante comercial.
– Meu Deus do céu, será? E a KGB?
– Também, também já deve estar por aqui, só não sei se está sozinha ou em parceria com os brasileiros.
– Neste caso, a família do Arnaldo estaria correndo perigo.
– Chegou no ponto em que eu queria. Arnaldo e sua família têm tanta culpa no cartório que você nem imagina. Pela dedução que nós chegamos e que, é claro, é a dedução dos poderosos, eles viram os Deuses, para não dizer outra coisa. Eles estão em contato com eles. É claro que foram orientados a negar. Acontece, meu prezado, que a NASA também detectou radiações nas proximidades da tal Vila do Córrego Dobrado. Em alguns momentos, estas radiações aumentam muito de intensidade. Quem sabe também os russos não o fizeram. Previmos uma batalha silenciosa para ver quem será o primeiro a conseguir resgatar o colar. Agora temos mais este outro objeto. Serão ações de caráter militar. Você sabe muito bem que quando americanos e russos se envolvem, a vida não vale um centavo furado.
– O nosso informante dentro da NASA não está correndo perigo?
– De jeito nenhum. Padre, você não imagina o poder do Vaticano.
– Por que o Vaticano não trabalha em conjunto com a NASA, com a Agência Espacial Russa e até com os brasileiros? Afinal de contas, o fato se deu aqui, né.
– Padre, você está precisando voltar para o seminário. Lembre-se que a Igreja Católica jamais poderá estar vinculada a fatos extraterrenos. Uma das funções da Igreja Católica é jamais e em tempo algum ter o nome de Deus associado a qualquer agente extraterreno. Que é isso, Padre?
– Desculpe, é a emoção. Voltando ao assunto da família, pelo que entendi, pelo menos americanos e russos vão querer se apoderar do colar e, se descobrirem o objeto cicatrizante, dele também. E pelo que entendi mais um pouquinho, o Vaticano está querendo chegar à frente deles, ok?
– Parabéns pela brilhante dedução. Por que será? Arrisca um palpite?
– Mais do que óbvio. Quanto menos fatos relacionados a fatores extraterrenos melhor para nós, sim?
– Outra brilhante dedução, meu prezado.
– Repetindo a pergunta, teria condições de NASA, Agência Espacial Russa e brasileiros trabalharem juntos?
– Pelo menos quanto a americanos e russos, acredito que nunca. Cada um quer decifrar o enigma e ficar com os louros. Depois, como você bem sabe, guardam o segredo a sete chaves para ninguém ficar sabendo, usando aquele famoso estratagema de que poderia causar um caos ao planeta. É a glória do saber, do poder da informação. Quanto a nós, bem, nós costumamos pender sempre para quem está por cima, certo?
– Se o Bispo não quer correr o risco de qualquer suspeita recair sobre a minha pessoa, que ideia teria para tirar os dois objetos do Arnaldo?
– Vou descobrir um jeito. A reunião vai acontecer daqui a alguns meses, talvez três ou quatro, tenho tempo para encontrar uma saída. Enquanto isso, aproxime-se ao máximo da família. Se for o caso, talvez seja até necessário abrir o jogo com ela.
– Como assim?
– Se você perceber que não vai lhe arrancar nada, abra o jogo e diga que sabemos de tudo. Sim, diga tudo, será até melhor.
– Será mesmo, Bispo?
– Pensei muito nesta possibilidade. Quem sabe alertando-o que sabemos da verdade ele se assuste e bote a língua nos dentes. Use esta estratégia como último recurso, ok? Agora vá!
– Sim, tudo esclarecido. A sua bênção, bispo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.