Sentimental eu sou, eu sou demais, eu sei que sou assim, porque assim ela me faz¹. O ela aí é a tranquilidade que reinava por estas bandas da Rua Tiradentes² dos idos tempos. Aliás, é melhor mudar para assim ela me fazia, pois ô disgrama de tempos modernos. É estapafúrdia a transformação que ocorreu por aqui. Ora, nem o buracão existe mais³. E pior, tiraram o nome do Formiguinha daquela travessa ali. Absurdo, sô, a única referência que nós tínhamos do nosso patriarca da emancipação4. E por falar em referência, eu sou uma delas no quesito estilo. Você aí que nunca reparou nas construções que moldaram o progresso da Cidade, como eu, quando sobrar um tempinho dê uma zanzada por aí. Preste bem atenção, pois há várias com o meu estilo indo pra caixa-prego em forma de entulhos. Está me achando ácida? Ora, você conhece a esquina da Rua Major Gote com a Avenida Tomaz de Aquino? Pois é, vai ver se estou lá e deixe de ser insensível à minha observância do que está por acontecer. Concentre-se somente no meu entorno, repare que nós antigas estamos literalmente sendo consumidas pelo progresso, olha os bitelos aí atrás. Maldito progresso que me põe em vigília diariamente, só esperando as almas que me habitam sumirem de vista para que eu também suma de vista. Fazer o que, sou parte da História de Patos de Minas, isso ninguém me tira, e mais, quando me derrubarem, deixarei saudade!
* 1: Início da música Sentimental Demais, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, gravada por Altemar Dutra em 1964.
* 2: O imóvel localiza-se à Rua Tiradentes entre a sua colega Maestro Augusto Borges e Travessa dos Queiroz.
* 3: Leia “Aqui Jaz o Buracão da Rua Tiradentes”.
* 4: Leia “Ex-Travessa do Formiguinha”.
* Texto e foto (18/08/2019): Eitel Teixeira Dannemann.