Passada a XVIII Festa Nacional do Milho vamos, de passagem, fazer um balanço da mesma em face das últimas e na expectativa da próxima. Foi melhor ou pior do que as últimas? Embora sabendo que comparações são sempre difíceis e que gosto é algo muito pessoal, somos levados a admitir que a maioria não gostou da festa ou, pelo menos, considera-a pior do que as precedentes. Porque? Em primeiro lugar podemos mencionar o esvaziamento da festa na cidade e estamos convencidos de que duas são as principais causas do alegado esvaziamento. A primeira, a nosso vêr, foi o alijamento dos estudantes da programação da festa. Ora, uma festa da qual a juventude é afastada, a juventude dos colégios é esquecida e numa cidade com uma população estudantil que representa, no mínimo, 20% do total não dá para entender. Alega-se que os espetáculos apresentados no tablado da Getúlio Vargas eram fracos e não ofereciam maiores atrativos, etc. Estamos convencidos de que tais deficiências têm sido consequência da improvisação e da falta de recursos materiais. Não podemos esperar que o nível cultural da festa se eleve quando se afasta da mesma a classe estudantil e todos os recursos são canalizados para as duplas caipiras, os rodeios, touradas etc. Temos público para as mencionadas modalidades mas também o temos para o teatro, para o canto, para as artes plásticas, para a música erudita, para as manifestações de bom gosto, afinal. E o que se fez em matéria de cultura? Muito pouco, quase nada. Podemos citar a presença do Grupo de Seresta João Chaves, de Montes Claros, e o II Encontro com a Arte na Terra do Milho e lamentamos recordar que reduzido número de pessoas ouviu os maravilhosos cantores de Montes Claros. Aliás, havia brilhante grupo de recepcionistas que ignoravam por completo a presença entre nós dos seresteiros. Lamentável… A exposição de quadros, belíssima aliás, também não mereceu a atenção que merecia dos organizadores da festa. O Coral, bom o Coral do Rotary até que cantou duas missas na Catedral. Não fora o bom gosto do Sr. Bispo e o Coral teria sido esquecido. Em tempo: O Coral estava programado para a inauguração que não houve, a do INPS.
A segunda causa do esvaziamento foi a forma da escolha e eleição da Rainha do Milho. A solução, a fórmula de trazer moças de fora não agradou. Estamos todos frustrados e quando sabemos que Contagem não tem milho, é uma cidade essencialmente industrial nossa dor de cotovelo acentua-se inevitavelmente. Vamos eleger a Rainha aqui mesmo onde temos milhões de moças lindas e de forma a interessar toda a população na campanha com passeatas, foguetes e tudo aquilo que faz o clima de festa desde os primeiros dias de maio. Não vamos importar beldade para nos arrebatar o título ou muito mais depressa do que se imagina vamos ficar também sem a Rainha do fosfato e até sem o dito cujo. Vamos prestar nossas homenagens à brilhante e estimada Cecília Silva, mas queremos a Rainha do Milho morando em Patos, vivendo aqui assim como queremos nossos milharais e nosso fosfato. Fosfato e indústria de fertilizantes aqui, aqui na nossa terrinha. Tá?
* Fonte: Texto de Murillo Corrêa da Costa publicado com o título “Sem Reinado e Sem Coroa” na edição de 08 de junho de 1976 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Cartaz oficial da Festa do Milho de 1976 do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.