FESTA DO MILHO, A

Postado por e arquivado em FESTA DO MILHO.

AJá muito se tem badalado sobre a Festa do Milho, que ano após ano vai se extinguindo e perdendo aquela popularidade e sentido de folclore, para se tornar uma comercialização abusiva e festa de exposições em recinto apropriado para essa finalidade.

Quem conheceu esta festa nos seus primórdios, há de se lembrar com saudades daquelas noitadas artísticas e de apresentações acrobáticas e culturais em nossa Avenida Getúlio Vargas bordando a Semana Ruralista bem estudada e preparada com todo o entusiasmo e gosto do Dr. Eurípides Pacheco, Pedro Pereira dos Santos, Otacílio Peluzzo, Dr. José Ribeiro e outros. Não faltavam os aviões da Esquadrilha da Fumaça, cruzando os nossos ares e atraindo as maiores atenções da população surpreendida e medrosa, que saia de suas casas para aplaudir ruidosamente nas ruas, com risos e admiração, cada evolução dos azes indômitos e corajosos, desafiando alturas e que das vertiginosas com figuras e desenhos empolgantes, envolvidos em fumaça, que aos poucos se diluía na amplidão dos céus rizonhos de Patos de Minas, cedendo lugar aos clarões surpreendentes e mirabolantes de espetáculos pirotécnicos, num verdadeiro show e demonstração de gosto dos responsáveis por estas apresentações.

Eram as fanfarras alegres dos colégios e ginásios arrancando aplausos e porfiando distinções e prêmios em competições as mais engenhosas de grupos e carros alegóricos, que deixavam longa recordação na lembrança de todos que vinham participar conosco de tantas alegrias.

Era a verdadeira Festa do Milho, a Festa Magna de Patos de Minas, que movimentava a cidade inteira, que transformava a Avenida Getúlio Vargas num verdadeiro mar humano aplaudindo entusiasticamente autoridades, artistas e desfiles, bendizendo os seus promotores e aguardando com ansiedade sua próxima realização.

E hoje, o que vemos? A destruição de tudo. Um pequeno grupo oligárquico e egoísta açambarcou a festa, dando-lhe cunho diferente e encurralando-a com o gado de todas as raças e tropa de Zé Capitão e uma ridícula exibição de duplas superadas e artistas sem mais nenhum interesse para o público, tudo numa programação que é um acidente à classe estudantil e ao nível cultural de Patos de Minas.

Os estudantes vão lá para montar suas barracas barulhentas, num desespero de angariar fundos para suas excursões ou formaturas e o povo se abala até ali levado por curiosidades inexplicáveis ou hábito adquirido na ânsia de fugir ao comum do ano e ávido por esquecer, nem que seja por poucos dias ou horas, nvez mais incógnita para todos.

E é assim que de qualquer forma, a festa tem seus promotores e seus frequentadores, sem contudo atingir mais aqueles ideais sublimes de outrora. O comércio fica sacrificado. A economia do povo fica arrasada. Outros se locupletam nem que seja na exibição do puxa-saquismo.

E a festa, depois de ter atingido as alturas saudosas, encontrou o caminho da decadência e do arraso. Os poderes públicos estaduais e federais já olham-na com desdém e pouco caso. Quando comparecem, não cumprem horário nenhum. Na maioria das vezes preferem se fazer representar.

Enquanto os poderes públicos municipais agem consciente ou inconscientemente como interesseiros políticos e econômicos, pretendendo tudo e conseguindo nada.

Ou Patos de Minas acaba esse tipo de festa, ou essa festa acabará com Patos de Minas. De qualquer forma, nada mais se aproveita duma festa deste teor, a não ser para enriquecer um pequeno grupo de aventureiros, sob estandartes diversos. E a cidade inteira, na sua pujança de Capital do Milho e Capital do Fosfato, se curva diante deles.

* Fonte: Texto publicado na edição de agosto de 1980 do jornal Questão, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Arquivo Fundação Casa da Cultura do Milho.

Compartilhe