A criação do Bispado de Patos de Minas foi mais o resultante de uma necessidade que se fazia patente, dada à grande distância que separa esta zona da cidade de Uberaba como outrossim o considerável aumento da população.
Noutra época pertencia toda essa região do Estado de Minas, compreendida a vasta região do Triângulo Mineiro, à primitiva Diocese de Goiás. Em 1908 fora criado o bispado de Uberaba, onde aliás, já residia, desde o ano de 1896, o então bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte da Silva que, por motivos justos, havia transferido a sua residência para aquela cidade, com autorização da Santa Sé.
Com o crescente aumento da população, ia se fazendo necessária a divisão do Bispado de Uberaba, com a criação sucessiva das novas Dioceses de Patos e de Uberlândia. O critério que se tem para a fundação de um bispado, não é de origem política, como poderia parecer a alguma pessoa, mas é unicamente em consideração ao meio benefício espiritual e pastoral do povo, nessa zona.
Patos de Minas, levando-se em conta a sua posição geográfica e, sobretudo, o notável espírito religioso de seu bom povo, sem o menor desdouro de suas coirmãs desta área geográfica teria que ser a preferida para tornar-se a sede do novo bispado. Como arauto desse alviçareiro melhoramento não poderia ser outro que o sr. Bispo de Uberaba, D. Alexandre Gonçalves Amaral, que para esse fim chegava em Patos no dia 2 de agosto de 1946. Já anteriormente havia S. Exa. comunicado ao Vigário desta paróquia tão suspiciosa notícia, que deveria ser concretizada de início com a constituição de uma comissão, que deveria levar adiante a efetivação da criação da nova Diocese desta cidade.
Convidadas pelo Vigário as pessoas gradas da cidade, compareceram à Matriz local as autoridades e demais pessoas da nossa sociedade, atraídas todas pelo interesse que demonstravam ter por esse considerável melhoramento para toda a região, aliás, já sacudida por um grandioso surto de progresso. Notava-se em todos um santo entusiasmo e sincero interesse pelo feliz evento que se anunciava. Incumbência da comissão a se formar, angariar os meios necessários para formação de um patrimônio do futuro bispado, uma condigna sede episcopal e término da futura Catedral. Foi constituída a comissão com as seguintes pessoas: presidente nato, o vigário da paróquia; presidente efetivo, Dr. Aristides A. Pereira, m.d. Juiz de Direito; vice-presidente, o Prefeito Municipal, Dr. Sebastião Coutinho; 2.º vice-presidente, Dr. Ernâni de Moraes Lemos; 3.º vice-presidente, Sr. João Borges de Andrade; 1.º secretário, Dr. Fernando Corrêa da Costa; 2.º secretário, Eunápio Corrêa Borges; 1.º tesoureiro, Sr. Virgílio Borges; 2.º tesoureiro, Sr. Sebastião Brasileiro. Conjuntamente foi nomeada a seguinte comissão de Senhoras: presidente, D. Linita Borges Rodarte; 1.º vice-presidente, D. Risoleta Maciel Brandão; 2.º vice-presidente, srta. Madalena Maria de Mello; 1.º secretária, D. Hélia Rubinger de Queiroz; 2.º secretária, srta. Vilda Assunção; tesoureira, srta. Zenóbia Borges; 2.º tesoureira, srta. Luzia Alves de Oliveira.
Como sempre acontece, todo trabalho da fundação do bispado pesou sobre os ombros do Vigário e de algumas pessoas abnegadas que, com admirável dedicação, auxiliaram até o fim. Naquela época ainda se achava dever dar uma satisfação às infelizes situações sociais em que se encontrava a nossa cidade, o que, para maior felicidade do bom povo, desapareceu por completo, graças a Deus.
A criação de um bispado em Patos de Minas não era uma simples veleidade, que ficaria apenas nos planos de seus organizadores. Mais cedo ou mais tarde, haveria de raiar o dia em que todos, com imenso júbilo, contemplariam a realidade de um ideal, acalentado há quase dez anos. No dia 23 de abril de 1955, num dia de sábado, o “Repórter Esso”, lá pelas doze horas, do Rio de Janeiro, transmitia-se a grata notícia da tão esperada nova Diocese.
E como confirmação dessa notícia, no dia 24 de abril, domingo, recebia o Vigário o seguinte telegrama procedente do Rio de Janeiro: “Urgente” – Digníssimo Vigário-Patos M.G. – Tenho o prazer comunicar-lhe “Osservatore Romano” publica tarde dia vinte e três, sábado, criação nova Diocese Patos de Minas “pt Saudações. Núncio Apostólico”.
No mesmo dia recebia um telegrama do Arcebispo de Belo Horizonte. No mesmo sentido recebia o Vigário, no dia 26, comunicação do Bispo de Uberaba. Foram ainda recebidos telegramas das seguintes pessoas: Walter Lelis e Senhora, de Araguari; Wilson Corrêa e Família, de Uberaba; Irmão Osmundo, seu nome e demais Irmãos Maristas patenses, Colégio de Varginha, M.G.; Irmãos Teodoro Pascoal, Paulo, Eugênio, Maristas, Rio de Janeiro; Irmão Roberto, Marista de Mendes, R.J.; Deputado Gregoriano Cannedo, Belo Horizonte; Padre João Valim, de Estrela do Sul; do Dr. Vicente de Paula Borges, Juiz de Direito de Formiga, M.G. Antes de recebida a notícia oficial do memorável acontecimento, no mesmo dia 23 de abril, como acima declaramos, assim se espalhou a grata notícia, repicaram-se os sinos das Igrejas da cidade e subiram aos ares inúmeros foguetes em regozijo. Foi intenso o júbilo para toda a população da cidade de Patos de Minas.
No dia 27 de abril, em que se festejava o Patrocínio de São José, na matriz da cidade à noite, a convite do Vigário da paróquia, compareceram todos os sacerdotes da mesma residentes, o Dr. Juiz de Direito da Comarca, o Exmo. Prefeito Municipal, o Dr. Promotor de Justiça, o Delegado de Polícia, representante da Câmara Municipal, e grande número de pessoas, foi cantado solene Te-Deum em Ação de Graças pelo memorável evento, promissor de muitas graças e bênçãos celestiais para toda esta vasta região do recem-criado bispado. Nessas circunstâncias, o Vigário, traduzindo o seu júbilo e o de toda a população católica de Patos de Minas, usou da palavra para encarecer a importância de tal acontecimento, que viria, sem dúvida, marcar uma nova fase na história desta cidade e próspero município, como bem de toda a área da nova diocese. Em resposta de agradecimento ao Sr. Núncio Apostólico, passou o Vigário o seguinte telegrama: “Exmo. Revmo. Sr. D. Armando Lombardi-D.D. Núncio Apostólico – Palácio da Nunciatura-Rua Almirante Alexandrino, 1112-Rio de Janeiro. Grande regozijo agradecemos Vossência gentileza telegrama comunicando criação Santo Padre Diocese Patos de Minas. Atenciosas saudações”.
Criado o novo Bispado, aguardávamos para qualquer momento a nomeação do seu titular. Faziam-se então vários prognósticos, se seria o novo bispo um sacerdote de alguma diocese, ou se seria um bispo removido de outra diocese.
Diversos os que achavam dever vir como bispo da nova diocese um bispo já experimentado, uma vez que se tratava de uma Diocese por organizar-se.
A escolha recaiu sobre o Bispo de Barra do Piraí, Rio de Janeiro, o mineiro, D. José André Coimbra. Desconhecido entre nós, contudo o seu nome já era conhecido por se tratar de uma pessoa bondosa, com um bom cabedal de conhecimento pastoral aliado à piedade e zelos pelas almas que lhe foram confiadas na dificílima Diocese de Barra do Piraí. Ao novo bispo indicado foram passados vários telegramas de felicitações e enviadas cartas de diversas pessoas.
Por iniciativa do Vigário seguiu para a Barra do Piraí uma comissão composta do Prefeito Municipal, Sr. Genésio Garcia e o coadjutor da paróquia Sr. padre Josias Tolentino de Araújo, representando o município aquele e este a paróquia de Patos de minas.
Designada a data de sua posse solene, foram tomadas todas as medidas necessárias a fim de ser proporcionada ao novo Bispo uma condigna recepção, como merecia S. Exa. e bem poderia fazer o religioso povo de Patos e de toda a Diocese a instalar-se. Numa bela manhã do dia 29 de outubro de 1955, com a cidade toda enfeitada e com aspecto festivo, presentes os Snrs. Bispos de Uberaba e de Paracatu, respectivamente, D. Alexandre Gonçalves Amaral e D. Eliseu van de Weijer, os vigários de diversas paróquias da Diocese, ao som dos sinos da matriz e espocar de foguetes, chegava o primeiro Bispo de Patos, D. José André Coimbra, acompanhado dos Srs. Bispos de Uberaba e Paracatu que haviam ido ao seu encontro, juntamente com as Autoridades da Comarca e do Município.
Em frente à matriz desceu D. José do automóvel em que viajava em companhia do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Genésio Garcia Roza, e no mesmo automóvel, vinham também o Sr. Bispo de Valença, Estado do Rio, como bem representantes da diocese e prefeitura da Barra do Piraí. Cumprimentado pelo Vigário da paróquia de Patos, com os demais Srs Bispos presentes tomou S. Exa. lugar numa tribuna adrede preparada nas escadarias da Catedral, de onde saudou ao primeiro Bispo de Patos, em palavras inflamadas de sentimentos de fé e patriotismo, o ilustre advogado e vereador da Câmara Municipal, Dr. Joseph Borges de Queiroz, dando as boas vindas a S. Exa. em nome do povo de Patos.
Em nome do Prefeito Municipal do Município de Patos, falou o Sr. Mário Garcia. Em nome da Câmara Municipal usou da palavra o presidente, Sr. Randolfo Borges Mundim. Por último, o D. José, com palavras repassadas de gratidão e júbilo, agradeceu comovido todas aquelas homenagens ao primeiro Bispo de Patos. Depois dessa primeira saudação ao católico povo de Patos, a convite do Vigário penetrou S. Exa. em sua Catedral, pela primeira vez, ao som do maravilhoso hino “Ecce Sacerdos Magnus” de Perosi. Acompanhado por todo o povo juntamente com Srs. Bispos, sacerdotes e demais autoridades presentes, dirigiu-se D. José para a sua residência, a modesta casa paroquial, transformada em residência episcopal, provisoriamente. No dia seguinte, realizava-se a Festa de Cristo Rei, dia da solene posse de D. José, como primeiro Bispo de Patos. Presidia a solenidade o Sr. Bispo de Uberaba, por delegação do Sr. Núncio Apostólico, com a leitura da Bula Pontifícia. “Ex quo die” datada de 21 de abril de 1955, assinada pelo S. Padre Pio XII, de saudosa memória. Outrossim foi publicado o Decreto da Santa Sé nomeando Bispo de Patos de Minas, transferido da Diocese de Barra do Piraí, a D. José André Coimbra.
Uma vez empossado, D. José se dirigiu ao púlpito, de onde saudou já como Bispo Diocesano, ao bom Povo de Patos com suas autoridades eclesiásticas, civis e militares. Manifestou a sua profunda gratidão a D. Alexandre, ao clero e a todo o povo de sua nova diocese. Por último fez D. José um agradecimento especial ao Vigário da paróquia, Mons. Manuel Fleury Curado, a quem nomeou no cargo de seu Vigário Geral. No mesmo dia, 30 de outubro, às 17 horas, no Cine Tupan, realizou-se uma sessão magna em homenagem ao primeiro Bispo de patos e aos demais Bispos presentes por essa ocasião.
Falaram na oportunidade o Sr. Dr. Benedito Corrêa da Silva Loureiro, Farm. Altino Caixeta de Castro, Alunas do Colégio N. Senhora das Graças, Dr. José Penido Machado, Juiz de Direito da Comarca, Dr. José Olympio Borges, Cônego Pacheco, deputado estadual, um advogado, representante do povo da Barra do Piraí, e por último um sacerdote, em nome da Diocese da Barra do Piraí. No fim falou D. Rodolfo Penna, e finalmente com um profundo agradecimento, usando da palavra, D. José. Naquela mesma sessão o Vigário convidou todos os presentes para o solene Te-Deum a ser cantado na catedral, à noite daquele mesmo dia. A este último ato dos jubilosos festejos da posse do primeiro Bispo de Patos, compareceu todo o bom povo e as demais autoridades locais, encerrando-se tudo com a solene Bênção do Santíssimo. No dia 31 regressava a Uberaba, D. Alexandre, e acompanharam a S. Exa. até Sant’Anna de Patos, os Srs. Prefeito Municipal de Patos, o Vigário da paróquia da Catedral e o Dr. Joseph de Queiroz.
* Fonte e fotos: Texto publicado na edição de 28 de outubro de 1975 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.