Já estamos cansados de falar que a Festa não presta, que não está com nada, que antigamente já houve tempo em que esta “Festa” era mais concorrida, mais aproveitável, mais cultural etc. e tal.
Mas, hoje não estou aqui prá “meter o pau” nem prá ensinar a quem quer que seja como ou onde se deve realizar esta festa. Estou mais preocupado em detalhar o que ocorreu aqui. A sugestão, a conclusão e o nível fica por conta do leitor, que tem todo o direito de ter sua própria opinião. Não usando de demagogia nem bater em ferro frio ou mesmo saber que idéias irrefutáveis serão sempre inevitáveis.
O programa (que já é decorado pelos conhecedores da festa, ou seja, igual a todos os outros) foi cumprido sem nenhuma alteração, sorte, pois o que aconteceu nos outros anos foi “imperdoável”. Somente a ótima troca do cantor Odair José pelo cantor/ator/compositor Rolando Boldrin (graças a Deus)!
Iniciando as programações artísticas da XXIII Festa Nacional do Milho, houve a apresentação da peça teatral “Maroquinhas Fru-fru” que já estava em final de temporada, mas pelo ritmo patense de festa não foi muito concorrida, mas teve um belíssimo desempenho.
E ainda o “Recital de Piano” de uma das melhores concertistas de Minas Gerais que é a Elvânia Costa Caran, numa promoção da Escola de Música “Carlos Gomes” e do DEC – Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Patos de Minas, que sabe-se foi um tremendo sucesso.
Elvânia Caran provou no Teatro Telhado que realmente sabe dar seu recado. Parabéns à diretoria da Escola de Música, Profa. de piano, Cristina Garchet e esperamos que para o próximo II Encontro de Arte nos brinde com outra promoção desse nível. Realmente o patense está urgentemente precisando conhecer a beleza da música clássica.
No dia 17 foi feita uma homenagem à artista Terezinha Couto de Oliveira Corrêa promovida pela Prefeitura e Câmara, e logo após uma exposição com os quadros da artista no próprio local, onde reuniu vários de seus belos trabalhos.
No dia 21 houve no Parque de Exposições o show musical de Rolando Boldrin. Valeu a pena ouvir “Seresta”, “Tema pra Juliana” e várias outras músicas consideradas antológicas na voz desse que é um verdadeiro batalhador da Música Popular Brasileira. Rolando Boldrin só não foi muito feliz por não conseguir mexer com o público que estava muito aquém do esperado, mesmo porque o próprio local não ajudava.
Dia 22 aconteceu no mesmo local o show do Dércio Marques acompanhado do sagrado monstro musical que é Zé Gomes. E é com carinho que afirmamos que se o público fosse um pouquinho mais qualificado poderíamos ter tido um show bem mais elevado tornando até de uma apreciação cabível para toda e qualquer pessoa ali presente. Zé Gomes só não fez a rabeca falar, e Dércio usou de todo e qualquer meio para que o público não se desviasse do show. Sabemos do grande valor artístico que Dércio e Zé Gomes têm como bagagem, portanto fico ressentido de que o “patense” menos esclarecido tenha sido tão grosseiro, e por esse motivo é que realizamos uma “big” entrevista iniciada no número anterior e que se concluiu neste número, para que todos conheçam os músicos e folcloristas que são Dércio e Zé Gomes. E mais ainda pelo carinho com que se referem a Patos de Minas, em seus shows pelas diversas cidades do país. Esperamos que o Xaulim os traga novamente a Patos, agora para dar um show em um local bem adequado, e que sabemos o público não será tão indelicado.
E no dia 23 o show do consagrado Dominguinhos apontado pela crítica especializada como o “substituto do Rei do Forró: Luiz Gonzaga – O Gonzagão” – que também deu seu recado muito bem dado, fazendo o público cair no forró, fechando assim os três pontos altos na Festa do Milho.
Até que enfim o desfile começa na hora certa, sem esperar as autoridades, que sempre são “representadas” na última hora (?).
Parece que vamos novamente ter “aquele” desfile que marcava o auge da festa. Onde milhares e milhares de pessoas ficavam ao longo da Avenida Getúlio Vargas apreciando e realmente constatando da beleza e cultura, que era esse desfile. Este ano quase todos os colégios da cidade participaram e ainda com a participação de outras cidades vizinhas, apresentando aos presentes o folclore e as coisas típicas da terra.
Realmente, agora a coisa parece que vai mudar de figura. Vamos esperar 82, para não nos decepcionarmos como sempre tem acontecido. Só esperamos que isto continue, pois este ano foi bastante concorrido e elogiado.
O Patense, principalmente a ala jovem não engole qualquer sapo que pinta na Lagoa. E este ano vimos muita gente reclamar, reivindicar, elogiar e questionar o que se passa na festa.
Não que estejam querendo ver a atual direção do Sindicato pelas costas, mas só esperam que com a “troca”, de direção, o Sr. José Ribeiro, possa dar mais valor à parte cultural com presença maciça do povo de Patos, e seja mais considerada e apresentada aos visitantes. Já que estão vindo para cá, que conheçam os valores da terra, taí o “Encontrão-Cantar na Praça” que foi a prova mais viva de qualquer mostra artístico-cultural que o patense pôde dar. E olha que os próprios visitantes reclamam disto.
Outra coisa que se reclamou bastante foi o aumento de preço na entrada do Parque, realmente não sabemos o que se passou na cabeça deles, pois o povo não tem condições de pagar, aquilo ali deveria ser grátis. Parecia até inflação. Faça então a Festa aqui em baixo.
E mais outra reivindicação: pede-se que o povo também participe da festa da maneira mais óbvia que se possa existir, ou seja, todo ano temos candidatas ao título de Rainha Nacional do Milho e Rainha do Fosfato (que ao que parece brevemente também nacional pois a Fosfértil faz muito empenho para que a Enelice Versiani seja sua primeira Rainha Nacional do Fosfato) e ao que sabemos, proibiram o povo patense de votar até nesta parte. Não que duvidemos do resultado final, mas até gente de “sociedade” de fora está votando. Isto minha gente é um absurdo. Até hoje ninguém conforma. O povão tem que opinar, vocês não dizem que a festa é do povo, pois então provem. Afinal de contas a candidata também é do povo, ou não é???
E o que aconteceu aqui foi “tudo” isto.
De quem é a culpa?
Por favor leitor (se tem a resposta, me envie, pois já estou cansado de procurar).
* Fonte: Texto publicado da coluna “Sem Fronteiras” do n.º 26 da revista A Debulha de 15 de junho de 1981, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.
* Foto: Arquivo do Memorial do Milho.