É aniversário da cidade. E chega a Festa do Milho. E vem a Festa do Fosfato. E saem as edições especiais de nossa imprensa miserável. No mínimo, 20 folhas de papel jornal, e, no máximo, uma folha de jornal papel.
Mensagens de todo tipo, recados de todo jeito. Oito dias de festividades, que mais parecem justificar uma fuga do patense que tropeça em problema o ano inteiro.
O comércio, carente de recursos, mais uma vez, vai ser minado pela própria festa que se concentra no Parque de Exposição. A indústria…, bem, deixa isto para um lado.
O certo é que é tempo de festa do milho e festa do fosfato. Mas, eu fico implicado com quem chama a gente para um aniversário e não aparece para cortar o bolo. Aonde se escondeu o milho? Aonde foi o fosfato? Que festa é esta que a gente teima em comemorar e bebemorar?
Que o patense e o visitante me desculpem, mas eu tenho a imagem da festa de forma diferente. Apagam-se as luzes. E o John, todo feliz, vai cantar o “parabéns prá você”, enquanto a vela se apaga.
Acende-se a luz e acendem-se as velas, e o João esticado, subnutrido por um pai que chora um emprego, está morto na sala de espera. O John é a festa que queríamos e o João é a festa que presenciamos e que temos.
Qual o motivo de tanta algazarra? Aonde estão os patenses jovens que foram obrigados a se mandar por falta de colégio superior? Aonde estão os empregos que deixam o capital girar em Patos e aplicam em outras terras? Aonde estão os bois gordos que já vendemos um dia? Aonde, a força de nossa suinocultura?
Estava me esquecendo. É tempo de festa. A população dos 100.000 habitantes vai para 170.000. É um aumento razoável, ainda que seja por pouco tempo. Dos habitantes, 50.000 são eleitores. É um núcleo razoável. Dá para se eleger um deputado federal e dois deputados estaduais. Mas, aonde estão os nossos deputados? Aonde se meteram os eleitores? Aonde foi a politica de Patos? Ainda uma vez, o John é a politica que queríamos e o João é a politicalha que nos sobrou.
Nós conseguimos, num dia, acabar com as esperanças de nossa gente. Vamos precisar de muitas festas até nos refazermos do mal. É melhor pensar na festa. É melhor que haja uma edição comemorativa de nossa imprensa. 20 folhas de papel jornal e duas folhas de jornal papel. Mas depois vamos ver, na televisão, a beleza da festa. Dura pouco, não tem sentido, custa muito caro, mas é preciso alimentar a nossa vaidade.
Eu gostaria muito de dar parabéns a você, Patos de Minas, mas, me entenda, está difícil demais. Eu sei que você é a menos culpada, mas, mesmo assim, os meus cumprimentos vão ficar para outra vez. Quando os seus filhos forem mais homens e aprenderem a não brincar com o seu futuro. Do jeito que está, ainda é cedo, ou já é tarde demais!
* Fonte: Texto de Rafael Gomes de Almeida publicado na coluna Da Minha Fazenda Grande com o título “Mas, Será Que Vale a Pena?” da edição de 27 de maio de 1979 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Cartaz oficial da Festa do Milho de 1979, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.