Caçula dos oito filhos de Noé Ferreira da Silva e Affonsina Maciel da Silva, o patense Newton Ferreira da Silva Maciel, o “Tinewton” para os amigos, nasceu em 22 de dezembro de 1931 e não teve oportunidade de conhecer o pai. “Meu tio-avô Amadeu Dias Maciel e minha tia-avó Jorgeta Maciel cuidaram de mim desde recém-nascido, pois meu pai estava bem doente e minha mãe, além do marido, tinha que tomar conta dos outros sete filhos. Meu pai faleceu quando eu tinha menos de dois anos de idade. Com o passar do tempo, acabei residindo com meus tios, cuja casa distava não mais que 40 metros da morada de minha família¹”.
O curso primário foi concluído na Escola Normal. Em 1944, aos 12 anos, após o “Exame de Admissão”, foi estudar no Colégio Santo Antônio na cidade de São João Del Rei. No ano em que foi transferido para o Instituto Gammon de Lavras-MG, em outubro de 1945, perdeu o tio Amadeu, falecido na então capital federal, Rio de Janeiro. Foi um final de ano difícil para o jovem Newton, que chorou intensamente com a perda do grande amigo e protetor.
Após quatro felizes anos de estudo no Instituto Gammon, em 1950 Newton resolveu servir o Tiro de Guerra. Como também precisava cursar o Científico, ausente em Patos naquela época, foi para Uberaba com uma determinação da tia Jorgeta: estudar internamente no Colégio Marista daquela cidade. Mas o encontro casual com o amigo de infância Luciano Borges de Queiroz, que lhe contou sobre o “rigoroso habitual” dos alunos naquela instituição de ensino, fez-lhe mudar os planos, desobedecendo às ordens expressas recebidas, indo morar numa pensão. “Ela ficou brava. Escreveu-me uma carta censurando-me por não ter cumprido suas ordens, já que me tornara ‘dono do meu nariz’… Tempos diferentes aqueles. Eu já tinha 18 anos. Com o passar dos dias ela se conformou e voltou às boas”.
Terminado o Tiro de Guerra e concluída a segunda série do Científico, em fevereiro de 1951 Newton foi para Belo Horizonte cursar a terceira série no Colégio Afonso Celso. O próximo passo, a faculdade. Mas qual curso tentar no Vestibular da UFMG? Primeiro tentou a Medicina. Não deu. “Na realidade, eu sequer sabia se possuía, ou não, pendores para exercer a profissão”. Em fevereiro de 1953 foi aprovado para o curso de Direito. Fez conjuntamente ao Direito o curso de Criminologia da Escola de Polícia Rafael Magalhães. Na segunda série da Faculdade de Direito veio o primeiro emprego, no Cartório do SET-Serviço Estadual de Trânsito, o DETRAN de hoje, onde atuou durante oito meses. No início de dezembro de 1954 conheceu a sua futura esposa: Odete Caetano, natural de Dores do Indaiá, hóspede de uma pensão no centro da cidade onde ele costumava almoçar.
Uma das boas lembranças de Newton quando estudante de Direito foi uma viagem que fez à Europa com 22 colegas e outros 14 alunos da PUC. Foram três anos de luta para conseguirem o dinheiro, que veio através da rifa de um carro da época e até de uma quantia ofertada pelo Governo Brasileiro. “A partida inicial foi nas dependências do porto do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Eram 16 horas do dia 20 de janeiro de 1957 quando subimos as escadas do Augustus, com destino ao primeiro porto, Barcelona, para realizarmos uma viagem que duraria onze dias”. O grupo de estudantes brasileiros visitou várias cidades da Espanha, Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália. “Depois de 76 dias de viagem, compreendi que o melhor lugar para se viver, não obstante todas as imperfeições, ainda é o Brasil”.
Em 10 de dezembro de 1957, Newton Ferreira da Silva Maciel recebeu o “canudo” de Advocacia. A próxima meta já estava traçada: o casamento com Odete, ocorrido dez dias após a formatura, em 22 de dezembro quando completou 25 anos de idade (Odete tinha 23). Após lua-de-mel no Rio de Janeiro e Sul de Minas, no início de 1958 retornaram a Patos de Minas com a finalidade de começar uma nova vida. “Como, depois de completar a idade de oito anos comecei a morar com os meus tios Jorgeta e Amadeu, é claro, após o casamento continuei em companhia da tia, viúva desde 1945. Ela era uma mãe para mim e, com a ausência de seu marido, ela se tornou meu baluarte e vice-versa”.
No porão da residência, Newton montou seu escritório de advocacia e ali desempenhou sua profissão durante dez anos. Enquanto advogava, resolveu explorar uma propriedade rural de 42 hectares herdada do pai. Depois de três anos de muitos aborrecimentos na atividade, resolveu vender a fazenda para aplicar na construção de um prédio. “Comecei a construir um prédio situado na Rua Olegário Maciel, ao lado do casarão, no terreno que recebera como doação da minha mãe de criação. Neste prédio construí três lojas e quatro apartamentos”.
A primeira metade da década de 1960 foi trágica para Newton. Em 21 de julho de 1963, férias escolares, estava com a família visitando a mãe de Odete em Dores do Indaiá. Lá recebeu a notícia do falecimento de sua mãe Affonsina. “Após o enterro, cheguei em casa à noite, abracei tia Jorgeta longamente, chorando um no ombro do outro. Mal sabia eu que pouco tempo depois chegaria a vez dela”. No final de 1963, outra tragédia: Jorgeta escorregou num tapete e teve diversas fraturas no fêmur. Depois de algum tempo teve que ser operada em Belo Horizonte. Infelizmente, teve complicações e faleceu em 17 de março de 1964, sendo sepultada no outro dia no cemitério do Bonfim, lá mesmo em Belo Horizonte. “Foi, para mim, um triste dia. Mais uma mãe que feneceu com diferença de pouco menos de um ano. Chorei desesperadamente”.
Ainda trabalhando como advogado no escritório do casarão, Newton teve a oportunidade de substituir momentaneamente a irmã Amália, lecionando na Escola Normal. “Na verdade, desde o início descobri a minha verdadeira vocação”. Quando o prefeito Sebastião Alves do Nascimento (Binga) resolveu instituir o Colégio Municipal (hoje E.E. Prof. Zama Maciel), Newton foi convidado para lecionar inglês, atuando por dois anos. Não demorou muito para começar a lecionar Geografia. Houve um empecilho quando da mudança do colégio de Municipal para Estadual, e Newton teve que fazer concurso público para continuar lecionando. Feito o concurso e aprovado, lecionou a matéria por dez anos e nos dois últimos foi designado Vice-Diretor e ainda responsável pelo Caixa Escolar. “Após tantos anos de Colégio Estadual, o que eu recebia não mais era suficiente para a manutenção digna de minha família. Assim, fui obrigado, pelas circunstâncias, a pedir licença sem remuneração. Mudamos para Belo Horizonte e comecei a exercer outras funções”. A mudança do casarão se deu em janeiro de 1974.
Newton trabalhou muitos anos na empresa Caetano e Franco Construtora de Apartamentos Ltda., dos cunhados Márcio e Joaquim. Depois a firma se desfez e Newton trabalhou mais alguns anos com o Márcio na Construtora Panorama Ltda. Com a crise econômica do início da década de 1980, partiu para outra atividade e foi corretor de imóveis devidamente registrado no CRECI. A esposa Odete, que havia se formado em Psicologia pela FUMEC em julho de 1979, se associou a uma psicóloga e fundaram uma clinica situada em Contagem dedicada a exames apropriados para os candidatos a uma carteira de motorista.
No início dos anos 1980 o Brasil estava atravessando uma fase difícil. Já com três filhas estudando em Belo Horizonte – Patrícia (1958), Nilma (1962) e Cláudia (1965) – o casal e a primogênita Flávia (1976) resolveram retornar para Patos de Minas. Sobre sua atual residência, Newton conta: “Em novembro de 1984 decidi construir a nossa casa em Patos de Minas, no local onde, há muitos anos antes havia adquirido um lote. Na ocasião, a Odete estava entusiasmada com seus rendimentos, tendo sido, assim, a mantenedora da construção. Durante dois anos, mais ou menos, ficava eu uns dias em Belo Horizonte e outros em Patos de Minas”. Em março de 1986, o casal e a filha mais nova Flávia retornaram a Patos de Minas. “Íamos começar uma nova vida, mais uma vez”.
E a “nova vida” de Newton Ferreira da Silva Maciel em seu retorno à cidade natal foi repleta de atividades profissionais: Inspetor Escolar Municipal; Secretário da Faculdade de Letras de Patos de Minas; professor de Direito Comercial na Faculdade de Direito, com o curso de especialização na UFU; professor de Direito na Faculdade de Administração e professor de Noções de Direito na Faculdade de Ciências Contábeis do UNIPAM, gerido pela FEPAM, da qual foi um dos fundadores. Escreveu os seguintes livros: “Roteiro de Geografia”, “Augusto e Donanna, sua Gênese” e “Tempos Idos e Vindos”, este sobre sua vida.
“Mil passarás, dois mil não chegarás”. Foi difícil, mas Newton venceu o ditado com graves desarranjos de saúde, comemorou 50 anos de casamento e hoje o “marca-passo” instalado no peito fica como lembrança de sua árdua luta na longa vida. “Deus sabe o que faz e a Ele agradeço sempre pela boa vontade para comigo, bem como com todos os meus descendentes e parentes. Aleluia!”.
NOTA: Newton Ferreira da Silva Maciel faleceu em 03/01/2022.
* 1: Na esquina da Avenida Getúlio Vargas com Rua Olegário Maciel.
* Fonte: Tempos Idos e Vindos, de Newton Ferreira da Silva Maciel.
* Edição do texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fotos: Eitel Teixeira Dannemann (11/09/2015). Na capa do livro, o autor e seu irmão Ademar em 1937.